Carajás, da Vale: reabertura de Xangai deve reaquecer demanda (Germano Lüders/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 3 de junho de 2022 às 15h09.
É inegável que o futuro das commodities está diretamente ligado à evolução dos lockdowns na China, que nos últimos dias mostrou alguns sinais de alívio. Ao longo das últimas semanas, observamos o estrago econômico da política de tolerância zero do Partido Comunista Chinês, com a produção industrial caindo 2.9% e as vendas no varejo colapsando 11.1% em abril na comparação com mesmo período do ano passado.
Para nós, no Ocidente, fica difícil de compreender a severidade das medidas diante da baixa ocupação do sistema de saúde e de uma ampla vacinação em curso, mas tudo indica que o combate à covid-19 virou uma prioridade política do governo Xi Jinping até a renovação (provável) de seu mandato ao final do ano. Neste contexto, a pergunta que se coloca é: diante destes lockdowns agressivos na China, será que o ciclo de commodities acabou?
Antes de usarmos a nossa bola de cristal (chinesa?), vale levar o foco um pouco para o outro lado da equação. O que geralmente define os ciclos são os investimentos em nova capacidade, a tal resposta de oferta. Estamos vindo de muitos anos de subinvestimento no setor, motivados por preocupações ESG, duas tragédias no setor de minério e pouco apetite por parte dos conselhos das empresas em aprovar projetos em um mundo onde todos os investidores estão ávidos por dividendos.
Na Vale, por exemplo, o trauma com relação aos equívocos na alocação de capital durante o último super ciclo (2002-2013) levou a uma queda expressiva no nível de investimentos de mais de 50% em comparação com os picos da última década. Além de toda a pressão nas cadeias produtivas por conta dos lockdowns, estamos diante de um choque de oferta relevante advindo da guerra na Ucrânia, com impactos relevantes em grãos, fertilizantes, petróleo, alumínio, nickel, entre outros.
Mas calma, ainda há esperança. A nossa bola de cristal sugere que este ciclo de alta das commodities é mais duradouro, e que apesar da volatilidade, ainda estamos em tendência de alta. A boa notícia é que os últimos dados da pandemia em Xangai mostram uma melhora acentuada na evolução da contaminação, com níveis de novos casos caindo próximo a zero nas últimas horas e uma gradual reabertura do comercio já em curso.
Tudo indica que em meados de junho, Xangai estará totalmente reaberta, para o alívio das cadeias de suprimento globais. Diante deste quadro mais favorável, acionistas da Tesla, Apple (e por que não Vale?) podem respirar mais aliviados. Até quando a pandemia será controlada pelo partido Comunista é difícil prever, mas uma coisa é certa, a desinflação advinda das commodities parece cada dia mais distante diante da normalização da vida do cidadão em Xangai.
*Leonardo Correa é especialista do BTG Pactual para os setores de mineração e siderurgia e papel e celulose