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Fusão de renome: Arezzo oferece 21% do capital mais R$ 1,3 bi pela Hering

Hering foi avaliada em quase R$ 3,4 bilhões na proposta da Arezzo

Loje Hering: com varejo fechado, companhia teve queda de 30,7% na receita líquida, de volta a R$ 1 bilhão (Hering/Divulgação)

Loje Hering: com varejo fechado, companhia teve queda de 30,7% na receita líquida, de volta a R$ 1 bilhão (Hering/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 14 de abril de 2021 às 19h55.

Última atualização em 28 de abril de 2021 às 14h33.

A varejista de moda Hering se colocou na vitrine. Aproveitou uma oferta de fusão ou aquisição pela companhia de calçados Arezzo para dizer "não", mas o fez publicamente. Conhecidas de longa data, Arezzo e Hering estavam começando um tímido namoro. A paquera e a admiração vem de anos. Os fundadores já se revezaram nos conselhos de administração uma da outra. Mas, a Arezzo, então, quis logo mandar uma proposta de casamento.

Há uma semana, no dia 7 de abril, encaminhou uma oferta por uma das marcas mais tradicionais — e longevas — do país. Avaliada em R$ 7,5 bilhões na bolsa, a Arezzo ofereceu 21% das empresas combinadas aos acionistas da Hering mais R$ 1,29 bilhão em dinheiro. A avaliação implícita nessa conta é de R$ 3,4 bilhões, aos preços atuais, um prêmio superior a 25% sobre o fechamento de quarta-feira, dia 15. A carta com a oferta foi direcionada a Fabio Hering, acionista e presidente da empresa.

O conselho de administração da Hering, diante da formalização, sentiu-se compelido a analisar e formalizar também uma resposta, tornando-a pública. Por enquanto, um não. Tudo indica que o tema terá vários capítulos. E pode até ter novos personagens — quantos investidores já não sonharam com uma união para lá de verde e amarela entre Hering e Alpargatas, com a eterna Havaianas?

Ciente do que significaria formalizar uma proposta, a Arezzo tentou ser delicada ao extremo com marca tão conhecida e respeitada pelos brasileiros. Mandou uma mensagem clara, mas ao mesmo tempo buscou valorizar a quantidade de anos empenhados no nome:

"Esta combinação de negócios tem o potencial de unir duas companhias com histórias e valores muito semelhantes — empresas familiares, devotadas à entrega de produtos de primeira qualidade e à construção de marcas fortes, que se tornaram referência na indústria da moda brasileira e que buscam proporcionar aos seus clientes a melhor experiência e oferecer o produto certo na hora certa. A Hering e a Arezzo&Co também compartilham da mesma visão acerca de suas responsabilidades socioambientais e na geração de emprego e renda no Brasil", diz o documento, que também faz questão de deixar evidente a existência de um diálogo preparativo aparentemente muito amistoso.

A Hering é marca das mais conhecidas do varejo têxtil do Brasil, afinal de contas. Fundada em 1880, é a índústria que virou loja. Sobreviveu à abertura da economia promovida pelo governo de Fernando Collor e apostou tudo no modelo de varejo.  Virou o jogo. Apesar disso, na bolsa, vale hoje apenas R$ 2,7 bilhões, como reflexo da pandemia que fechou shoppings e lojas de rua. Esse total já foi mais de R$ 5 bilhões.

Sem um acionista majoritário, mas com uma família minoritária com mãos de ferro, a companhia é alvo há anos de recorrentes acionistas ativistas que buscam convencer a gestão a acelerar seu crescimento. Já passaram por lá Tarpon e Dynamo, em momentos diversos, e agora estão Atmos, Velt e mais a paulista Verde. Juntas, essas três casas têm perto de 22% do capital social — percentual muito próximo à soma dos herdeiros Hering. Ninguém fez grandes revoluções, mas todas saíram respeitando demais os preceitos familiares.

A família,  traumatizada com a crise do setor dos anos 90, mantém-se conservadora desde que a virada de chave para o varejo deu certo — e muito certo. O caixa lá, que há anos sobra, é rei sempre. Ao fim de dezembro, num ano de pandemia, a Hering tinha um excedente sobre a dívida aplicado superior a R$ 265 milhões. Fabio Hering disse ao EXAME IN que a oferta só reforça a rota de crescimento do negócio, por meio de um plano agressivo de expansão orgânica, alinhado com os atuais maiores acionistas de mercado.

Mesmo assim, os investidores eternamente se ressentem de que, depois de o varejo ter salvado o modelo de negócios e a marca centenária da companhia, não mais se viu nenhum outro salto. Uma fusão é entendida como uma oportunidade perfeita para tal. Talvez, desta vez, haja espaço para diálogo. Ao menos, essa foi a leitura do mercado, com a divulgação do fato relevante.

Na carta ao presidente, a Arezzo destacou também como pode acrescentar à soma das duas sua experiência com o modelo digital. Durante 2020, em que o comércio ficou com as portas fechadas durante parte relevante do ano, a Arezzo teve queda de 4% na receita líquida, para R$ 1,6 bilhão, enquanto a Hering viu a receita líquida encolher quase 31%, de volta ao R$ 1 bilhão.

A oferta foi considerada baixa pelo conselho da Hering. Mas, pela primeira vez, parece haver alguma brecha para um diálogo, desde que o preço de base não seja o da pandemia. BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) e Itaú BBA atuam como assessores da Arezzo e BR Partners, da Hering.

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