Loja da Apple na 5ª Avenida, em Nova York: venda de serviços cresce e compensa redução de iPhones na pandemia (Divulgação/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 10 de junho de 2020 às 11h19.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 14h18.
A Apple, a maçã ícone do pecado americano, atingiu ontem seu maior preço da história, avaliada 1,491 trilhão de dólares, nada menos do que 7,27 trilhões de reais. A queda na venda iPhones durante a pandemia no segundo trimestre fiscal da companhia, terminado em março, não abalou a confiança dos investidores.
A empresa teve alta inferior a 1% na receita líquida do período, para 58,3 bilhões. O resultado foi sustentado, principalmente, pela expansão no faturamento com serviços, já refletindo o aumento dessa demanda gerado pela pandemia e a estratégia de isolamento adotada contra o novo coronavírus.
O desempenho ontem das ações, que subiram 3,16%, levaram a Nasdaq também a sua maior pontuação da história, que chegou a marcar 10.002 pontos durante o pregão. A valorização da companhia seguiu o noticiário local de que pretende adotar uma solução própria para os microprocessadores de suas máquinas, que hoje são fornecidos pela Intel. Além disso, tudo indica que o cronograma para o iPhone 12 continua de pé, sem abalos pela Covid-19.
Tudo nos valores da Apple é assombroso. O valor de mercado da empresa equivale a 1,8 vez toda a capitalização das 300 companhias abertas listadas na B3, que fechou ontem em 4 trilhões de reais. Outra forma de medir: com o câmbio atual, a companhia vale exatamente o mesmo que todo o PIB do Brasil em 2019, ainda que os críticos não gostem da comparação desses valores.
O recorde da Apple, contudo, não esteve sozinho. Vieram com ela, Amazon (1,297 trilhão de dólares), Facebook (680 bilhões de dólares) e Microsoft (1,439 trilhão de dólares). Todas em destaque em suas máximas históricas. Juntas, elas somam mais de 4,9 trilhões de dólares, ou 24 trilhões de reais — 6 vezes as empresas brasileiras de capital aberto, incluindo as instituições financeiras nesse total. Quando o Google (Alphabet) entra na conta, a soma sobe para 5,9 trilhões de dólares, quase 29 trilhões de reais.
A percepção de valor dessas empresas aumentou junto com os hábitos que ficaram evidentes durante a pandemia e as mudanças de comportamento que devem perdurar, com avanço acelerado da cultura digital.
Renato Mimica, diretor da Exame Research, destacou que o grupo das cinco FAAMG — sigla para Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Google — representam hoje 20% do valor do S&P 500. “Pode haver críticas sobre o Dow Jones, ou o Nasdaq 100, por não representarem a economia real, mas não se pode dizer o mesmo do S&P 500.”
Em 2013, apenas sete anos atrás, as cinco maiores empresas do indicador equivaliam a 11% de seu valor total e o grupo era diferente: Apple, Google, Microsoft, Exxon Mobil e Berkshire Hathaway. A Amazon, representante maior no tema disrupção, nem aparecia na lista, e hoje é a terceira maior empresa em valor do mercado americano.
Não apenas os números dessas companhias são um ineditismo, o que elas representam também. “Elas combinam resiliência às crises econômicas, como agora, e forte crescimento”, destacou Mimica, lembrando que, normalmente, companhias mais defensivas têm ritmo reduzido de expansão.
A expectativa é que essa realidade não se modifique tão cedo, segundo o especialista, com avanço da tecnologia móvel para o 5G e o aumento dos serviços de mídia e cloud — tendências que afetam diretamente todas as FAAMG.