Suzano: JV será oitava maior empresa de tissue do mundo (Kimberly-Clark/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 5 de junho de 2025 às 17h41.
Última atualização em 5 de junho de 2025 às 17h56.
A compra de 51% das operações globais da Kimberly-Clark fará a Suzano colocar o pé no freio nos movimentos de M&A, fator que vinha preocupando investidores – nesta quinta-feira, o anúncio da joint venture com a empresa de consumo fez a ação fechar em alta de 6,3%, a R$ 52,90.
Com 3,0 vezes dívida líquida/Ebitda e foco em sua desalavancagem, a fabricante de papel e celulose brasileira já tinha afirmado na teleconferência de resultados que teria um caixa máximo de US$ 3 bilhões que poderiam ser utilizados para movimentos de crescimento inorgânico.
Agora, com o desembolso previsto de US$ 1,7 bilhão, pretende pausar a busca por aquisições por pelo menos dois anos e se concentrar na integração do negócio que a tornará o oitavo maior player de tissue (papéis sanitários) do mundo. "Temos de focar na operação que estamos fazendo agora e não buscar outros movimentos de M&A nos próximos dois ou três anos", diz Beto Abreu, CEO da Suzano.
O executivo apresentou a estratégia em teleconferência ao mercado pela manhã, e, à tarde, a diretoria detalhou ainda mais a operação a jornalistas.
A única exceção à interrupção de M&As seria a opcionalidade de compra do controle da Lenzing, empresa global de fibras especiais com sede na Áustria da qual a Suzano comprou 15% no ano passado. A brasileira tem direito a comprar outros 15% da companhia até 2028.
O foco principal, destaca o CFO da Suzano Marcos Assumpção, continua sendo a redução da alavancagem da Suzano, que deve ganhar tração com o avanço da operação do Projeto Cerrado. "A operação não altera nossa política de pagamento de dividendos", observa Assumpção.
No total, a JV a ser criada terá 22 fábricas em 14 países e cerca de 40 marcas, entre globais e regionais, vendidas para mais de 70 países. Considerando os números dessas operações em 2024, o Ebitda da companhia seria de pouco mais de US$ 500 milhões, com um fluxo de caixa livre estimado de aproximadamente US$ 300 milhões.
O closing da operação, que será integralmente paga com seu caixa, deve acontecer em 2026, sem pressionar a alavancagem da Suzano, que tem o direito a comprar a integralidade do negócio no futuro.
Hoje, a JV seria uma empresa sem dívida, mas a Suzano e a KC acordaram que a JV possa emitir uma dívida de até US$ 1 bilhão para melhorar sua estrutura de capital. Caso isso aconteça antes do closing, o pagamento feito pela Suzano seria de US$ 1,2 bilhão, mantendo o valuation da JV em US$ 3,4 bilhões.
A criação da JV tem a ver com a tese de diversificação da Suzano. A companhia tem buscado ampliar sua participação em tissue, os papéis de uso sanitário tanto doméstico quanto de ambientes públicos, por exemplo, escritórios, shopping centers e aeroportos.
A JV engloba uma série de ativos industriais robustos, que incluem a transferência de marcas premium, como Kleenex e Scott, com uma licença de 30 anos sem pagamento de royalties, além de marcas locais líderes ou vice-líderes nos seus respectivos mercados, como a Andrex, no Reino Unido, que é utilizada pela família real britânica e tem o selo da realeza.
Além da expansão de suas operações em mercados estratégicos, a Suzano ganhará maior exposição no mercado europeu, com a metade do faturamento da JV concentrado na região. A nova estrutura também abre portas para a companhia entrar em novos mercados, como Israel, Nova Zelândia e África do Sul, ampliando sua presença global.
Após o fechamento da operação, a empresa verá uma mudança substancial em sua estrutura de receita. A receita proveniente de celulose (PULP) será reduzida de cerca de 80% para 60% das receitas totais da Suzano. Essa mudança será um reflexo direto da integração da operação de tissue, que se tornará uma parte relevante da composição da companhia.
Em termos de Ebitda, a proporção de PULP (celulose) no total diminuirá um pouco menos de 80%, enquanto o segmento de bens de consumo (como papéis sanitários e outros produtos de tissue) representará cerca de 15% das receitas, e a unidade de papel continuará representando em torno de 10%. Essa nova distribuição permitirá que a Suzano amplie sua exposição a mercados com maior margem e potencial de crescimento.
Além de reforçar a estratégia de diversificação, a transação também consolida a busca por maior competitividade — um desafio, uma vez que alguns ativos eram vistos como menos rentáveis pela KC, segundo reportagem do Wall Street Journal. A direção da Suzano, porém, diz que o processo de due dilligence indicou que a empresa mantém "ativos fabris robustos" e que o foco, no primeiro momento, não está em desinvestimentos.
A Suzano está projetando ganhos de eficiência que devem minimizar a complexidade da operação tão espalhada pelo mundo, com a expectativa de capturar até US$ 175 milhões por ano em sinergias, a serem alcançadas após três anos de operação da JV. "São projeções até mais conservadoras", segundo Luis Bueno, diretor de Bens de Consumo da Suzano.
Esses ganhos virão da implementação de estratégias já testadas no Brasil, como a redução de custos operacionais e a otimização da cadeia de suprimentos. Desde 2022, a Suzano é dona dos ativos que pertenciam à Kimberly-Clark na América Latina, incluindo a marca de papel higiênico Neve. Por aqui, a empresa conseguiu reduzir aproximadamente 46% no custo-caixa das operações de tissue da KC no Brasil, além de aumentar em 22% o volume de produção.
Os diretores observam, também, que a estrutura de fazer 51% a 49% mantendo a KC na companhia mitiga a complexidade da transação, bem como a decisão de manter as operações da Suzano e da JV bem separadas.
O mercado global de tissue tem tamanho aproximado de 44 milhões de toneladas. O maior mercado é a Ásia, seguido de perto pela América do Norte e Europa, que possuem tamanhos semelhantes.
Na Europa e na América do Norte, o mercado de tissue tem apresentado um crescimento de cerca de 2,5% ao ano. "O mercado de tissue é um setor resiliente e essencial, o que garante que a demanda não seja impactada diretamente pelas flutuações econômicas", diz o CEO da Suzano.
Nas premissas utilizadas para calcular o retorno interno (IRR) de 15,5% da JV, a Suzano está considerando um crescimento no volume de vendas que acompanha o ritmo do mercado, ou até menos, com o objetivo de manter sua participação de mercado. "Estamos projetando um crescimento conservador, alinhado ao comportamento do mercado, e nosso foco é garantir que mantenhamos a nossa participação", diz Bueno.