(SOPA Images/Getty Images)
Editora Exame IN
Publicado em 2 de março de 2023 às 17h31.
Os investidores que esperavam ouvir a teleconferência de resultados da Petrobras (PETR3/PETR4) para entender o que pensa Jean Paul Prates, CEO da estatal escolhido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, terminaram o evento ainda no escuro. Nenhum caminho objetivo foi apontado: nem sobre dividendos, nem sobre venda de ativos, nem sobre investimentos. Nada.
A companhia, que está avaliada hoje em R$ 355 bilhões na B3, anunciou um total de R$ 216 bilhões em dividendos referentes a 2022. As parcelas finais desse montante, relativas ao quarto trimestre, serão pagas ao longo deste ano. O volume é superior, até mesmo, ao lucro líquido do período, que foi de R$ 188 bilhões, quase 77% maior do que no ano anterior.
Esse dinheiro seria suficiente para comprar qualquer companhia da bolsa brasileira, exceto a Vale e o Itaú. Mas a lista inclui, por exemplo, todos os demais grandes bancos, a fabricante de bebidas Ambev e a gigante JBS. Daria para cobrir o rombo de dez Americanas.
Mesmo com os pagamentos elevados, a companhia investiu US$ 10 bilhões no ano passado e fez, pelo segundo ano consecutivo, a maior adição de reservas de sua história: 2 bilhões de barrias de óleo equivalente. A geração de caixa operacional superou R$ 255 bilhões, um aumento superior a 25% em relação a 2021. A dívida líquida recuou mais de 15% na comparação anual, para R$ 216,5 bilhões. Com isso, a relação entre dívida líquida e Ebitda saiu de 1,09 vez ao fim de 2021 para 0,63 vez, em dezembro passado.
Dito tudo isso sobre o passado, ainda nada se sabe sobre o que esperar para 2023. Não é de se estranhar que, mesmo com a divulgação de um quarto trimestre forte, as ações da companhia operem em baixa nesta quinta-feira, dia 2. No pré-mercado, antes das falas do executivo, parecia que seria um pregão de comemoração: os papéis indicavam alta da ordem de 3%.
Depois da teleconferência, nenhuma luz. Ainda pior: Prates conseguiu trazer dúvidas sobre quase tudo que está sendo feito sem dizer o que pensa ou planeja. Sobre dividendos, um tema de grande insegurança do mercado, dadas as críticas do presidente Lula e de outros representantes do PT, Prates disse ter dúvidas sobre a necessidade de uma política clara.
No entendimento dele, essa é uma questão sobre a qual as empresas deveriam ter a maior flexibilidade possível, em especial uma com a Petrobras, que tem um papel sobre o país. "Para mim, está claro que é um “trade-off” entre deixar o dinheiro com a empresa, para ela investir em projetos de longo prazo, ou receber o recurso rapidamente."
Prates falou em transição energética, mas não falou de alocação de capital para isso. E ainda afirmou que “nenhum imperador” decidirá sobre a venda de ativos ou a saída de refinarias ou de "regiões inteiras" pela companhia. Essas serão decisões da empresa, seus executivos, conselheiros e acionistas.
A fala sobre a política de preços, outro tema caríssimo para o mercado, tampouco deixou clara qual o plano ou caminho a ser adotado. O CEO, todo tempo, a cada assunto, enfatizou que a empresa vai ouvir investidores e analistas.
As ações só não recuam com maior intensidade, na opinião de analistas, porque já estão bastante descontadas pelo cenário de risco político e porque não houve surpresas ruins. Nos últimos 12 meses, os papéis recuaram cerca de 27%, enquanto o Ibovespa recuou 10%.
"Se não saiu nada de bom, de ruim também não veio", brincou um analista que acompanha a empresa em uma gestora renomada.