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Após 3 IPOs com ajustes, investidor corta valor da Compass na largada

Investidor já conseguiu redução de preços nos 3 últimos IPOs e no próximo, do grupo Cosan

Gás da Comgás: investidor pede desconto na largada para não queimar recursos (Thinkstock/Thinkstock)

Gás da Comgás: investidor pede desconto na largada para não queimar recursos (Thinkstock/Thinkstock)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 02h05.

Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 15h22.

Os últimos três IPOs realizados na B3 sofreram pressão dos investidores. Depois de a incorporadora Lavvi e das farmácias Pague Menos terem de reduzir o valor que pretendiam conseguir, nem mesmo a cobiçada Petz, a rede de varejo de produtos para animais de estimação, alcançou o sucesso de sair no topo da faixa sugerida de preços — teve de aceitar o meio. Para completar o quadro de recados desse tal mercado, a Cosan recebeu um “choque de realidade” na largada do processo de apresentação da Compass, que controla a Comgás.

A holding de Rubens Ometto queria que a Compass fosse avaliada entre 19 bilhões de reais e 20 bilhões de reais antes da entrada do dinheiro novo da oferta inicial de ações. Nesse preço, o plano era levantar 5 bilhões de reais em dinheiro novo, essencialmente para aquisições e novos projetos.

A resposta dos investidores, então, foi: “seja muito bem-vinda, mas está cara demais.” Assim, a Cosan manteve 19,8 bilhões de reais de avaliação para seu negócio de gás, mas como teto da avaliação ‘pre-money’ — e colocou o piso em 16 bilhões de reais. A faixa de preço para as ações ficou entre 25,50 reais e 31,50 reais, o que significa estrear na B3 após a captação entre 19 bilhões de reais e 24 bilhões de reais — o plano original era um intervalo entre 24 bilhões de reais e 27 bilhões de reais.

Portanto, seja por qual ângulo for, o que era piso virou teto. O jeito foi reduzir a pretensão de dinheiro novo de 5 bilhões de reais para 3,5 bilhões de reais, a fim de evitar uma maior diluição do controle. E o road show oficial só começou nessa semana.

“A 16 bi, já está tudo vendido”, disse um dos envolvidos no processo. Garantir que as ações tenham espaço para se valorizar depois do IPO, ou seja, após a estreia efetiva na B3, se tornou quase uma condição para a fixação do preço no IPO — não só da Compass, de qualquer outro. Com mais de 50 operações engatilhadas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), nenhum banco de investimento quer colocar essa questão como empecilho.

Do lado dos investidores, há uma tentativa de deixar claro que não se pode abusar das circunstâncias. Tudo bem que o fluxo de dinheiro para a bolsa não para de chegar. Em uma conta de padaria que soma captação de fundos de ações, multimercados e aplicações diretas pelas pessoas físicas, são quase 200 bilhões de reais neste ano.  Mas, calma lá!

Os investidores parecem ter entendido que, ao fim e ao cabo, serão considerados os principais — quase únicos — responsáveis pelas escolhas que fizerem. Em especial, nos IPOs dessa onda de 2020, quase um tsunami:  das operações em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 35 solicitaram registro a partir de agosto — ou seja 70%. Falta braço e cuca para olhar tudo ao mesmo tempo.

Para quem avalia os negócios, a Cosan queimou a largada. “Se a Compass esperasse mais seis meses, conseguiria um preço melhor. Além da Comgás, todo resto é projeto na companhia”, destaca um potencial investidor. De fato, a companhia, que procura recursos principalmente para fusões e aquisições, lista alguns projetos em andamento, mas sem conclusão: participação no processo competitivo de compra da Gaspetro, negociação de um acordo comercial com a Total Gas and Power Business Services para suprimento por 10 anos de GNL, e participação em chamada pública para alocação de capacidade da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia.

O plano da Compass é ser a maior plataforma privada de gerenciamento de gás do Brasil. Até 2019, o ritmo de crescimento mostrava a receita líquida anual saindo de 6,8 bilhões de reais para 9,5 bilhões de reais. Mas, nos seis primeiros meses do ano, a receita líquida caiu de 4,4 bilhões de reais para 4 bilhões de reais. Ainda assim, o Ebitda ficou estável em 1 bilhão de reais. Na comparação anual, a dívida líquida aumentou de 1 bilhão de reais para 3,3 bilhões de reais – a bruta subiu de 3,6 bilhões de reais para 7,3 bilhões de reais.

A listagem da Compass faz parte de um processo amplo de reorganização societária do grupo Cosan.  O conglomerado criado por Ometto deixará de ter três holdings de controle (Cosan Limited, Cosan S.A. e Cosan Logística), para ter apenas uma. As companhias operacionais serão listadas individualmente para que cada qual tenha capacidade de captar e se alavancar sem as limitações do controlador.

O desejo de listar controladas e criar uma estrutura em cascata não é privilégio de Ometto. As construtoras estão propondo isso “de lote”: várias delas têm projetos e sociedades na rua para serem listadas de forma independente. A Cogna fez isso com a Vasta, nos Estados Unidos. Ontem, dia 9, o mais novo pretendente dessa fila foi conhecido: o Grupo Pão de Açúcar, pertencente à rede francesa Casino. A companhia anunciou o início de estudos para listagem independente da unidade de atacarejo Assai. A estrutura aqui, porém, é diferente do que vem sendo praticado em geral, pois o negócio será cindido, ou seja, separado. O Pão de Açúcar não será o controlador do Assai. A ideia é destravar valor para os acionistas, a começar, é claro, pelo controlador francês.

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