Dotz: a empresa estreou na B3 em maio com uma oferta restrita de R$ 420 milhões (Dotz/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 31 de agosto de 2021 às 20h20.
Última atualização em 3 de setembro de 2021 às 10h54.
O Ant Group, braço financeiro do gigante Alibaba, acaba de concluir seu investimento na brasileira Dotz, famosa por seu programa de fidelidade. Mais do que o dinheiro, o aporte de R$ 50 milhões do grupo chinês foi um selo de garantia fundamental para a companhia concluir seu processo de abertura de capital em maio, no qual levantou R$ 420 milhões em uma oferta restrita.
No acordo firmado entre as partes, o Ant Group tem 5% do capital social da empresa e terá, entre outros direitos, o poder de indicar um dos membros do conselho de administração da companhia e também o copresidente de seu comitê de estratégia. O nomeado para assumir posto é o americano Douglas Feagin, atual vice-presidente e responsável pelas atividades internacionais do Ant. Antes de assumir o cargo no gigante chinês, em 2016, o executivo construiu uma carreira de 22 anos no Goldman Sachs.
O grupo ainda tem a opção de adquirir até mais de 10% do capital da Dotz durante um período de 24 meses. O parâmetro de preços já está fixado – 120% do valor adotado na oferta inicial, que foi R$ 13,20 por ação, ou 75% da média de negociação 30 dias antes do exercício, o que for maior.
Engana-se quem pensa que o investimento na Dotz é "só mais um" para o Ant Group. A companhia brasileira é a 11ª investida pelos chineses nesse modelo de parceria estratégia – e a primeira fora da Ásia. "Eles podem nos dar o caminho das pedras nesse universo de digital finance, para que a gente não cometa os erros que eles cometeram, economizando tempo e dinheiro”, diz Roberto Chade, presidente e sócio-fundador da Dotz ao EXAME IN.
Durante os meses até a formalização oficial do investimento, o Ant Group se aproximou da companhia brasileira para entender mais seu contexto e momento de negócio. Segundo Chade, hoje há dois grupos de trabalho conjuntos entre Dotz e Ant, um para pensar a parte de serviços financeiros (empréstimos, investimentos e seguros) e outro para trabalhar na carteira digital em si.
Para a Dotz, mais do que investir em marketing para conquistar novos clientes, a principal meta é aumentar o engajamento de seus quase 50 milhões de usuários por meio da criação de novos produtos. “Não tenho custo de aquisição para novos serviços. Essa é a beleza. Já está tudo dentro de casa”, diz Chade. A oportunidade é grande: segundo a Dotz, a receita por cliente passa de R$ 13 reais e chega a R$ 300 conforme aumentam o número de serviços utilizados.
Nesse desafio, a visão e o pragmatismo do Ant Group ajudaram a definir o foco, para que a empresa não dispersasse a atenção com muitas novidades simultâneas. Segundo Chade, a empresa hoje adota um "gabarito" com três critérios para definir se um produto vale a pena: é necessário ter alta frequência de uso, ser usado por muitas pessoas e resolver uma dor real dos clientes.
"Um exemplo é a nossa recém-lançada função de converter de Dotz para dinheiro direto na conta digital. É uma grande oportunidade, temos 23 milhões de clientes com saldo e ainda ajudamos a colocar dinheiro no bolso das pessoas", diz o fundador.
Para ser essa plataforma de engajamento, a companhia quer acelerar duas frentes: um marketplace de produtos e outro, de serviços financeiros. O público-alvo são as classes B2, C1 e C2, que juntas somam cerca de 90 milhões de consumidores, que movimentam, todos os anos, R$ 2,5 trilhões. O objetivo, conforme o executivo, é melhorar o poder de compra do consumidor e aumentar as vendas dos parceiros. “Queremos ser o sistema operacional da família brasileira”, diz o fundador.
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