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Ânima tem receita recorde e lucro mais do que dobra - o que vem daqui para frente?

Companhia faturou R$ 3,5 bilhões e no último ano e aumentou rentabilidade com reestruturações operacionais

Ânima: companhia vê espaço para reestruturar dívida a juros mais baratos em 2023 (Thinkstock/Você S/A)

Ânima: companhia vê espaço para reestruturar dívida a juros mais baratos em 2023 (Thinkstock/Você S/A)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 28 de março de 2023 às 06h08.

Última atualização em 28 de março de 2023 às 08h18.

Unir duas empresas de porte similar e atuação complementar pode ser um desafio e tanto -- mas, quando cumprido com disciplina, é capaz de mudar o jogo. A Ânima Educação que o diga. Nos resultados de 2022, que dizem respeito ao período de um ano e meio após o casamento com a Laureate, a companhia repete o feito de 2021 e inaugura um novo patamar de receita, ganhando novamente eficiência operacional e rentabilidade. A variação positiva se estende até a ponta final do balanço. No ano, o lucro líquido mais do que dobrou, para R$ 250,6 milhões. Depois de dois anos consecutivos, a pressão aumenta, mas o gás está longe de acabar. É neste ano que a companhia deve colher a maior parte dos frutos de uma série de melhorias operacionais realizadas pós-aquisição, segundo Marcus Peixoto Botafogo, diretor de RI da Ânima.

A base de comparação se torna cada vez mais alta. Em 2022, a receita líquida cresceu 34,4%, para R$ 3,56 bilhões. Com uma base de alunos relativamente estável (alta de 0,9%), a maior parte dos ganhos veio do aumento de preços para o público do ensino presencial em universidades (chamado de Ânima Core), cujo tíquete médio subiu 8%. Soma-se a isso o reajuste de 10% para a vertical de medicina (a Inspirali), que ficou em R$ 8,1 mil. A única vertical a ter um tíquete médio menor na comparação foi a de ensino digital, o menor valor entre os três, que encolheu 8,5%. Reflexo do ambiente mais restritivo para gastos e o fato de a companhia ter começado a lidar com esse universo somente após a aquisição da Laureate, o que abre espaço para consolidação de marca.

Para a empresa de educação, 2022 foi o ano de fazer o trabalho duro de organização. O primeiro ponto atacado foi o 'da porta para fora', do relacionamento com os alunos. "Há um ano, estávamos no caos da integração. Os sistemas de formação estavam bagunçados, assim como o back-office. Tínhamos 19 sistemas, que conseguimos reduzir para seis. Isso sem falar nos problemas para emissão de boleto. Foi a partir do meio do ano passado que a máquina começou a ficar mais azeitada", diz Botafogo, em entrevista ao EXAME IN.

Resolvida essa primeira etapa, a companhia começou a olhar mais para dentro. E identificou três frentes principais para trabalhar, de olho em eficiência operacional. Aluguel, despesas gerais e custo de financiamento. Vamos aos números.

O impacto da reestruturação

Começando pelo primeiro ponto, havia uma discrepância entre a forma como as locações eram tratadas dentro da Ânima e dentro da empresa adquirida. A empresa que tem Daniel Castanho como presidente do conselho gastava, em média, 8% da receita com aluguéis antes da fusão, um percentual que era de 12% na Laureate. Esse é um trabalho que segue em construção, segundo Botafogo. "É um processo lento. Você está lidando com alunos, não pode impor que mudem de um lugar para o outro do nada. Tem de convencer que o outro câmpus será melhor", afirma.

Hoje, a Ânima tem 86 campi. E, para diferentes endereços, segundo o executivo, há um endereço próximo em que os alunos poderiam ser realocados, um processo que a companhia já começou a conduzir no ano passado, mas para o qual ainda há muito a ser feito ao longo também deste ano. Além de redução de custos, a transformação visa preparar a companhia para um novo modelo de educação presencial, oferecendo mais espaços para interações e áreas de convivência do que a tradicional sala de aula com aula expositiva.

Outro fator envolvido na operação da companhia -- e que também foi alvo de reestruturações -- foi o das despesas gerais e administrativas. Mais uma vez, havia discrepância entre os percentuais da Laureate e da empresa compradora, em que representavam, respectivamente, 15% da receita e 11%. No último ano, ao cortar só o 'mato alto', a empresa conseguiu chegar próximo ao patamar original, fechando o ano em 12,4%, ou R$ 443 milhões. Novamente, a ambição da empresa é trazer esse custo de volta para o patamar histórico. 

Dívida

Deixando de olhar para os quesitos operacionais e direcionando atenção para os financeiros, o terceiro fator envolvido nas melhorias conduzidas pela companhia no ano passado foi a dívida. Especificamente, a troca de dívidas mais caras por mais baratas. "Fizemos a aquisição da Laureate com juros a 2% e passamos a viver num ambiente de 13%. Viemos de uma alavancagem de quase seis vezes, em que nosso custo de financiamento era elevado. Conseguimos fazer mudanças importantes, mas ainda temos potencial de reduzir esse custo ainda mais neste ano", diz Botafogo.

O executivo se refere principalmente à dívida contraída pela Inspirali (a vertical de medicina do grupo) como alternativa para baratear a despesa financeira da companhia. Para relembrar, a partir do aporte realizado pela DNA Capital na Inspirali, a companhia conseguiu pré-pagar a 2ª e 3ª séries da emissão de debêntures, no valor de aproximadamente R$ 2 bilhões, que estavam com um custo de CDI+4,75%. Em vez dessa dívida, mais cara, emitiu uma nova debênture de R$ 2 bilhões, com um custo de CDI+2,60%, uma redução teve um efeito de R$ 43 milhões a menos para os credores. Além disso, a Ânima emitiu um CRI de R$ 800 milhões com custo médio de CDI+1,75%.

Mesmo assim, o efeito combinado de todas as reestruturações ainda exerceu seu peso na dívida líquida da companhia. Mesmo com um bolso mais gordo, com um caixa de mais de R$ 400 milhões, ante um de menos de R$ 200 milhões em 2021, o aumento de obrigações financeiras, somado aos juros ainda em patamares elevados, fez com que a alavancagem se mantivesse em 4 vezes dívida líquida/Ebitda. Dessa relação, 0,2 vez veio das iniciativas de eficiência operacional conduzidas pela companhia.

"É a boa e a má notícia ao mesmo tempo. Se não tivéssemos conquistado melhora operacional, isso não teria acontecido. Dessa relação de alavancagem, 0,2 vezes são desembolsos para contratar um futuro melhor, na nossa visão. São efeitos que demoram em média doze meses para aparecer, o que reforça nossa aposta de que 2023 será um ano de virada positiva", diz Botafogo.

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