Os agora sócios Reynaldo Gama e Guilherme Junqueira, no espaço da Learning Village: 3.500 m² na Vila Madalena, em São Paulo, como central física de troca de conhecimento e experiência (Ânima/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 7 de julho de 2021 às 08h28.
Última atualização em 7 de julho de 2021 às 09h12.
A empresa de educação Ânima colocou a vida digital no core business de vez. Com a realidade do ensino à distância instalada e mais as mil e uma ferramentas eletrônicas aplicadas da gestão à sala de aula, dava para colocar mais? Dava, dando aula disso! A companhia acaba de investir de R$ 33,8 milhões, na compra de uma fatia de quase 56% da edtech Gama Academy, plataforma digital para formação de habilidades em tecnologia.
Nesse momento, é uma sociedade. O fundador da Gama, Guilherme Junqueira, segue como controlador. O investimento realizado é de quase 32% do total em ações preferenciais e perto de 24% em ordinárias. Mas, a partir de 2026, a previsão é que a Ânima assuma o negócio integralmente, com preço cujos parâmetros estão definidos e tomarão como base o desempenho de 2025. Ou seja, tanto mais o negócio crescer, tanto melhor para Junqueira.
Ao todo, cerca de 30 mil alunos concluíram cursos de tecnologia na Gama. O detalhe que faz brilhar os olhos de qualquer comprador: até o início da pandemia, esse total era de 3 mil. Isso mesmo! Em 18 meses, o número de alunos se multiplicou por 10. A receita de 2020? Cresceu 300%. O número é segredo, mas a expansão mostra o efeito da pandemia.
Como todos já sabem, a crise sanitária da covid-19 acelerou a digitalização da economia e portanto multiplicou a demanda das companhias por profissionais versados — e bem versados — no tema. "A gente vendia cursos avulsos, para pessoas interessadas em aprender. Então, começamos a ser procurados por empresas que queriam formar ou atualizar centenas de pessoas ao mesmo tempo", explica o fundador. "Viramos uma máquina de talento as a service", comenta, descontraído.
Do total da transação, R$ 11,8 milhões são aporte de recursos, R$ 8,5 milhões de aquisição de uma fatia secundária e R$ 13,5 milhões são referentes a uma expectativa de sinergias, tanto na frente de expansão de receita quanto de redução de custos, ao longo dos próximos quatro anos e meio, até a Ânima assumir o negócio. Ou seja, a companhia de educação de capital aberto se beneficia agora por um ganho futuro, já recebendo uma parte da Gama Academy, mas sem desembolso de caixa.
“A Gama vai ser a vertical de tecnologia dentro da Ânima”, explica, em entrevista ao EXAME IN, Reynaldo Gama, CEO da HSM, braço de educação continuada (lifelong learning) da Ânima, e co-CEO da Singularity University (a universidade do Vale do Silício - EUA) no Brasil, parceira na operação.
Junqueira enfatiza que há muita sinergia tanto com os cursos corporativos que a HSM possui, que são focados em gestão e liderança, quanto para novos produtos."Vamos sim entrar na área regulada”, conta, animado. O que isso significa? Cursos de formação universitária em inovação e tecnologia, para a vida digital.
A ideia é que as graduações sejam oferecidas por meio das faculdades e universidades controladas pela Ânima, em um modelo de unidade curricular dual. A Gama desenvolve o curso, provê o modelo e a aplicação dentro de alguma bandeira da casa. O diploma do estudante é duplo, com as duas marcas. Dessa forma, ressalta Reynaldo, a Gama tem sinergias na operação B2B da Ânima, ou seja, com a própria HSM, e também na atividade B2C.
Nos três primeiros meses de 2021, com 135 mil alunos na academia, a receita líquida da Ânima aumentou 23%, para R$ 416 milhões. Desse total, R$ 18,5 milhões vieram dos cursos com conceito lifelong learning. A defasagem profissional do brasileiro em tecnologia, que é desafio para as empresas, é oportunidade para a Gama. "É um complemento que nossos clientes corporativos já começavam a pedir. Afinal, não dá para pensar em liderança e gestão sem tecnologia hoje em dia", ressalta o CEO da HSM.
As previsões são de que o Brasil tenha um déficit de profissionais formados em tecnologia de 420 mil posições de emprego em 2025. “Nosso modelo é de zero para hero”, brinca Junqueira, falando de levar as pessoas de nenhum conhecimento à posição de herói no assunto. De acordo com o executivo, a Gama tem cursos que vão desde técnicas mais avançadas até preparos mais básicos, para quem está mudando de carreira, e namorando entrar em programação.
A inflação salarial na área tem levado muita gente a mudar de carreira. Segundo executivo, cerca de 50% da base de alunos da Gama é de pessoas em transição de carreira, com idade entre 27 e 30 anos. A aposta é que a procura pelos jovens, como primeira formação, também aumente. "No Brasil, a cada um graduado em tecnologia e programação, há 11 formados em direito e administração de empresas, por exemplo. É o dobro da relação americana", comenta ele.
A visão de futuro — das profissões e da educação — de Junqueira e de Gama é completamente alinhada: adaptação e mudança, serão palavras-chave. "Gosto muito da visão da Marci Alboher, autora americana do livro 'Uma pessoa, múltiplas carreiras'. Segundo ela, as novas gerações terão, em média, nove carreiras ao longo da vida. Mas, atenção. Não estamos falando de empregos, mas carreiras. Coisas desconexas", comenta o fundador da Gama. A bola da vez é a tecnologia.
Pós-2020, não havia mesmo de se imaginar nada diferente. As apostas da Ânima, em suas aquisições, para o futuro? Não pasmem: medicina e tecnologia.
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