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André Street deixa conselho da Stone; lucro avança 177%

Co-fundador não será reconduzido; balanço do quarto tri mostra operação de crédito saudável e maior integração entre produtos

Stone: BTG deu um upgrade depois de dois anos avaliando o papel como neutro (Stone/Divulgação)

Stone: BTG deu um upgrade depois de dois anos avaliando o papel como neutro (Stone/Divulgação)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 18 de março de 2024 às 17h45.

Última atualização em 19 de março de 2024 às 10h18.

Doze anos após criar a Stone, André Street está deixando o conselho da companhia. O co-fundador não vai se candidatar para reeleição na próxima assembleia, agendada para abril.  A informação foi trazida pela companhia junto com os resultados do quarto trimestre, em uma sucessão planejada ao longo dos últimos dois anos, segundo o CEO Pedro Zinner. O mercado não reagiu tão bem: as ações da companhia caem 10,36% no after hours da Nasdaq.

Para o lugar de Street, foi escolhido como candidato à posição de chairman outro nome próximo à companhia: Maurício Luchetti. O executivo está no conselho desde abril de 2022 e possui ampla experiência em pessoas e gestão. 

“A saída do André é um processo natural dentro da própria jornada de evolução da companhia. Nos últimos anos, passamos por mudanças no board e tivemos uma profissionalização do conselho”, diz Zinner. 

A saída do chairman vem num momento em que a Stone conseguiu azeitar sua operação de crédito – a diversificação para além da vertical de pagamentos foi origem de uma forte crise da companhia em 2021. Desde então, o negócio foi encerrado e reaberto sob novas premissas.

Sob o comando de Zinner, que chegou no fim de 2022, a carteira saiu de R$ 6 milhões no começo do ano passado para R$ 309 milhões ao fim do ano. 

Dessa vez, sem arranhar a rentabilidade: nos últimos três meses de 2023, o lucro líquido cresceu 177% na comparação anual, para R$ 564 milhões, refletindo o crescimento da companhia desde a primeira linha do balanço. 

A receita líquida cresceu 20,1%, somando R$ 3,2 bilhões no quarto trimestre. A maior parte da cifra (87%) vem da vertical de serviços financeiros, que cresceu de forma acelerada no período: o volume de pagamentos processados por micro, pequenas e médias empresas, core business da Stone, cresceu 20,2%, aumento superior à média de mercado e às expectativas de analistas.

Além disso, a companhia também aumentou a taxa cobrada por transação (take rate, no jargão) no período. 

Crédito – com rentabilidade

Ambos são o resultado do que a companhia chama de “aumento do engajamento”, ou seja, o desenvolvimento de ofertas desenvolvidas de olho no micro, pequeno e médio empresário, fomentando o cross-sell entre pagamentos e banco. 

A palavra-chave da gestão Zinner é integração. “Cada vez mais, vamos fortalecer essa integração. Permitir que clientes tomem capital de giro com a gente para reformar lojas, comprar estoques, além de soluções de folha para pagamento de funcionários, por exemplo”, diz Zinner.  

Alguns resultados já apareceram nos números dos últimos três meses do ano. Na plataforma de banking, o volume de depósitos subiu de R$ 4 bilhões para R$ 6,1 bilhões na comparação anual. 

Todo o processo de originação do crédito mudou totalmente desde 2021, quando a companhia enfrentou momentos duros na ânsia por aumentar a carteira de crédito. Hoje, há um modelo de crédito interno, um processo de cobrança e uma mesa de renegociação com nível de maturidade diferente da primeira vez em que a empresa se lançou nesse mercado, aponta Zinner.

No produto de crédito, o tíquete médio é de 1 vez o TPV mensal de clientes, e há limitações máximas de alavancagem e acesso a garantias (colaterais). O foco é captar os melhores clientes da base sem aumentar necessariamente o custo de aquisição. 

Há a expectativa de que o breakeven da vertical venha já neste ano, com a divisão se tornando mais representativa em 2027.

“Relançamos essa oferta no ano passado, com um produto de crédito que atende à necessidade do nosso cliente do segmento de micro, pequena e média empresa. Um exemplo disso está na solução de capital de giro”, diz o CEO. 

“Normalmente, o pagamento desse tipo de empréstimo acontece com uma parcela todo mês, e, no nosso produto, retemos um percentual do faturamento do lojista todo dia, de modo que ele consegue quitar esse financiamento sem muito esforço.”

A integração da vertical de software à parte de serviços financeiros, outra aposta da companhia, também está avançando. 

Integração com software

A StoneCo quer se tornar um ‘one stop shop’ para os consumidores, integrando os dois mundos. Nesse caminho, foram identificados quatro setores principais: varejo, postos de gasolina, alimentação e farmácia, que têm uma alta porcentagem de pequenas e médias empresas. 

A maior parte dessa base ainda é ‘software only’ e a companhia tem sido vocal na estratégia de que esse é um potencial relevante de crescimento em serviços financeiros. 

Desde o Investor Day, realizado em novembro, a StoneCo começou a divulgar uma métrica de overlap para avaliar o volume de pagamentos na base de clientes que já utilizam soluções integradas nas verticais prioritárias de software - Varejo, Postos, Alimentação e Farmácias. No último trimestre, o aumento foi de 19% em comparação com o trimestre anterior, quase duas vezes a evolução trimestral do TPV de pequenas e médias empresas.

A saída de Street deve marcar também uma renovação do conselho. Saem o vice-chairman, Conrado Engel, que será substituído por Gilberto Caldart, profissional com mais de 14 anos de experiência na indústria de pagamentos, tendo atuado em gigantes como a Mastercard. Para o lugar de Patrícia Verdesi, será apontado o economista José Alexandre Scheinkman.

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