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Ancar Ivanhoe vê mercado de shoppings em ponto de inflexão

“É hora de os ‘shopeiros’ tirarem os projetos da gaveta”, diz copresidente da maior empresa privada do setor -- que, aos 50 anos, apresenta seu plano ESG

Pátio Paulista: Shopping na capital paulista é um dos 27 empreendimentos no portfólio da Ancar  (Ancar Ivanhoe/Divulgação)

Pátio Paulista: Shopping na capital paulista é um dos 27 empreendimentos no portfólio da Ancar (Ancar Ivanhoe/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 08h08.

Última atualização em 28 de setembro de 2023 às 11h58.

Maior empresa de capital privado de shoppings centers do país, a Ancar Ivanhoe acredita que o mercado está prestes a entrar num ponto de inflexão. Com a indústria recuperada após o baque da pandemia e de sustos pontuais com fechamentos de grandes varejistas no primeiro semestre deste ano, as taxas de vacância dos empreendimentos em grandes cidades voltaram a ficar baixas, abrindo caminho para um aguardado movimento de expansão.

“Hoje eu vejo um movimento de retomada. Se tudo continuar bem, e tomara que continue, eu diria que é hora de os ‘shopeiros’ tirarem seus projetos da gaveta”, afirma o copresidente da companhia, Marcelo Carvalho, da segunda geração da família fundadora.

O movimento deve passar longe da euforia que marcou os anos de 2012 a 2014, quando houve o último ciclo de crescimento do setor, com o lançamento de uma série de empreendimentos, que acabaram demorando para maturar em meio ao derretimento do PIB nos anos do governo Dilma. Quando a economia ensaiava uma retomada, o coronavírus esvaziou os pontos físicos.

Agora, o cenário é outro. “Tirando, obviamente, shoppings com dificuldades estruturais, os bons shoppings brasileiros estão perto de 100% locados”, diz.

Dona ou gestora de 27 shoppings em 14 cidades, que geram quase R$ 20 bilhões de vendas ao ano, a Ancar é conhecida pelo perfil discreto. De capital fechado, os executivos raramente dão entrevistas. Do portfólio total, 17 são shoppings próprios – incluindo o Shopping Interlagos, em São Paulo, e o Botafogo Praia Shopping, no Rio -- e 10 são empreendimentos em que atua como gestora, caso do carioca Downtown e do paulistano Pátio Paulista.

Carvalho não dá muitos detalhes sobre os números da empresa, mas diz que está “sempre atento às oportunidades de mercado”. Ao fim de 2022, último dado disponível, a taxa de ocupação dos empreendimentos da Ancar estava em 95%, 0,9 ponto percentual acima de 2019, ano pré-pandemia.

De acordo com o executivo, o balanço está “confortável” tanto para expansão orgânica quanto inorgânica. No ano passado,  a empresa vendeu o shopping Maracanaú, em Fortaleza, e mais uma fatia em três empreendimentos (Pantanal Shopping, Porto Velho Shopping e Shopping Boulevard) para um fundo gerido pela Vinci Partners por R$ 660 milhões, na maior transação do setor de shoppings desde o início da pandemia. Agora, a mesma gestora fez uma oferta de R$ 280 milhões por fatias no Shopping Conjunto Nacional, em Brasília, o Natal Shopping e Via Sul, em Fortaleza, que está em fase de conclusão.

“Nesse momento de queda da taxa de juros, todos os fundos imobiliários voltaram a se posicionar para crescimento de portfólio”, diz. “E daqui a pouco a gente vai comprar alguns ativos, provavelmente.”

Em 2020, a Ancar chegou a negociar uma fusão parcial com a BR Malls, que depois acabou se fundindo com a Alliansce, criando a maior empresa do setor, a Allos, com 69 empreendimentos que geram faturamento de quase R$ 40 bilhões.

Num ano complicado para o varejo, com a debacle da Americanas e grandes varejistas como Marisa, Casas Bahia, Polishop fechando lojas, os shoppings sofreram um baque no primeiro semestre. Mas, segundo Carvalho, ele foi pontual, sem grande impacto sobre a taxa de vacância.

“Houve fechamento de uma ou outra loja, mas na medida do possível, sentamos com esses operadores e encontramos uma forma de equacionar as dificuldades”, diz.

Em alguns casos, esses fechamentos abriram espaço para áreas de lazer a gastronomia, uma tendência que tomou conta dos shoppings com força no pós-pandemia. Outra tendência pós-covid foi de criar mais espaços abertos, com áreas pets, quiosques e restaurantes voltados para a área externa.

“Tivemos um bom primeiro semestre, em linha com a indústria. E o segundo semestre, historicamente, costuma ser melhor.”

Plano ESG

Pioneira no setor, a Ancar começou sua trajetória na década de 1970, quando ingressou na indústria como uma das responsáveis pelo desenvolvimento do segundo shopping construído no Brasil: o Conjunto Nacional de Brasília. Em 2006, associou-se à canadense Ivanhoe Cambrige, empresa global de serviços imobiliários.

Com 50 anos completos no ano passado, a empresa estruturou uma área ESG, para concentrar as iniciativas ambientais, sociais e de governança e acaba de lançar um plano para avançar nesses pontos até 2030.

“Passamos a monitorar as iniciativas que a gente já faz e criamos indicadores e um comitê de ESG, numa agenda não só de gestão de risco como de criação de valor”, diz Carvalho. “Isso é um ponto muito bom de ter um sócio estrangeiro grande, que nos alimenta de informações para elevar a barra. Hoje a gente discute com a Ivanhoe usar recursos que eles têm para investimentos green no Brasil.”

Com 19 metas distribuídas nas três letras que formam o acrônimo ESG, a Ancar quer, por exemplo, alcançar um total de 30% de resíduos compostados até 2030, tendo como base o ano de 2022. Sob administração da Ancar por 15 anos, o Shopping Eldorado, em São Paulo, tem hoje o maior “telhado verde” da América Latina. O shopping destina resíduos orgânicos gerados por lojas e restaurantes para compostagem, que alimentar hortas voltadas aos funcionários. Hoje, 17 empreendimentos já realizam compostagem.

Ainda na esfera ambiental, há metas de redução de consumo de energia e reuso de água. A Ancar está se comprometendo também a implantar processos de due diligence em ESG para todos seus fornecedores.

Há o compromisso também de impactar 10 mil jovens por meio de iniciativas de inclusão social, capacitação profissional e acesso à empregabilidade. Desde 1993, a Ancar tem o Plantando Amanhã, projeto social premiado, com creche comunitária, escola de esportes e contraturno na escola junto ao Shopping Nova América, no Rio Janeiro.

“Uma coisa que meu pai [o fundador Sérgio Carvalho] deixou muito marcado é que, em tudo que acontece no entorno do shopping, ele precisa estar envolvido. Para qualquer ação social ou de impacto há uma orientação estratégica para o shopping colaborar, prestigiar, ajudar a levantar recursos”, diz.

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