Exame IN

Ambev vê 'caminho certo' no 1º tri, mas efeito de reajuste de ICMS ofusca ganho de volume

Impacto da atualização tributária deve se diluir ao longo do ano, diz o CFO, Lucas Lira, em entrevista ao Insight; ações caíram 3,6%

Ambev: marcas como Brahma e Skol cresceram acima da indústria, mas atualização tributária nos estados anulou parte dos ganhos de receita (Jonne Roriz/Bloomberg via/Getty Images)

Ambev: marcas como Brahma e Skol cresceram acima da indústria, mas atualização tributária nos estados anulou parte dos ganhos de receita (Jonne Roriz/Bloomberg via/Getty Images)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 8 de maio de 2024 às 18h03.

Última atualização em 8 de maio de 2024 às 18h17.

O impacto da atualização das alíquotas de ICMS no resultado da Ambev no primeiro trimestre fez o crescimento de volume acima do consenso ser insuficiente para o mercado brindar.

“As ações têm desvalorizado há anos, e as preocupações relacionadas ao cenário competitivo em meio a uma indústria de cerveja cada vez mais madura estão aumentando”, escreveram os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), que mantiveram a recomendação neutro.

A ação negocia com um desconto de 20% em relação aos seus pares, o que poderia ser um ponto de entrada. Mas, com “preocupações com receita [preços e concorrência] ainda muito vivas”, a equipe diz não haver razões para revisão da tese.

Nesta quarta-feira, os papéis recuaram 3,4%, para R$ 12,17, reagindo aos números do primeiro trimestre, quando a Ambev reportou leve queda do lucro líquido consolidado, para R$ 3,80 bilhões. A receita líquida caiu 1,2% para R$ 20,28 bilhões.

O balanço dos primeiros meses de 2024 é uma combinação de pontos positivos e negativos. Do lado positivo está o aumento de 3,6% do volume de cerveja no Brasil, acima dos 2,5% projetados pelos analistas de investimento e uma sinalização de que a dona de mercado não está ficando com uma fatia menor do bolo.

Embora a Heineken, sua principal concorrente, tenha crescido mais em volume (algo entre 8% e 9%), os números da dona da Brahma e da Skol indicam que é mesmo o Grupo Petrópolis quem, das três grandes do mercado, está mais pressionado – mesmo com a indicação de que tem sido mais agressiva em preços.

“Começamos o ano muito focados em crescimento de volume e geração de caixa, mas também em continuar recuperando margem”, diz Lucas Lira, CFO da Ambev, em entrevista ao Insight. No período, conta ele, marcas do core (Brahma e Skol, por exemplo) cresceram acima da indústria.

O principal impulso da Ambev veio, porém, de seus rótulos core plus (Brahma Duplo Malte e Budweiser), premium (Spaten, Stella Artois e Original) e super premium (Corona e Becks). O core plus cresceu 15% e o premium e super premium, 10%. A Corona, por exemplo, reportou aumento de 70% no volume de vendas e, agora, chega em novos formatos ao mercado, com garrafas de 600 ml.

A revisão da base de alíquotas de ICMS de 18 estados desde o fim do quarto trimestre superou os reajustes de preços da Ambev, o que impactou a receita por hectolitro, cujo crescimento foi de apenas 0,9%, mais tímido do que o esperado por analistas e investidores. “Ao longo do tempo esse impacto tende a ser diluído”, explica Lira. Para a equipe do BTG, no entanto, o impacto tributário não explica completamente esse avanço menor de receita, cujo impacto sinaliza um “algum esforço promocional incremental para recuperar a participação de mercado de 2023.”

O CFO afirma que a empresa acompanha de perto a dinâmica de mercado, mas continua confiante na capacidade de atender o mercado com diversidade de portfólio para diferentes ocasiões.

Essa perspectiva de melhora da receita ao longo do tempo se soma a um ambiente favorável de custos, que segue em queda no segmento de cerveja. O custo por hectolitro recuou 3%. “O ano de 2023 foi ano importante de recuperação de margem e no primeiro trimestre de novo conseguimos melhorar nossa rentabilidade. Primeiro trimestre nos sinalizou que estamos no caminho certo”, diz Lira.

No trimestre, o Ebitda da operação de cerveja foi de R$ 3,25 bilhões, um avanço de 14% enquanto a margem avançou mais de 2 pontos, chegando a 33,6%.

Outro ponto positivo foi a operação de não alcoólicos, cujo volume cresceu 6,5%, com a receita ficando 14% maior e o Ebitda evoluindo 19%, bem acima das projeções de mercado.

No entanto, as operações externas ainda pesaram. Enquanto o Caribe e a América Central vieram fortes, com volume crescendo 5,6% e melhora de rentabilidade, a operação na Argentina drenou o desempenho na América do Sul, que reportou queda de 12,7% de volume. Já o volume do Canadá caiu 7,7%, numa base de comparação mais difícil, dado o crescimento um ano antes.

“A Argentina está sofrendo muito no consumo pelas questões macroeconômicas, como renda disponível, mas no restante da América Latina a notícia é boa. Bolívia, Paraguai, Chile e na América Central, na verdade, o volume cresceu”, pondera o CFO.

Alocação de capital

Não há mudanças no plano de alocação de capital, observam os analistas do Bradesco BBI, que mantém um olhar mais otimista sobre o negócio, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 19. Em termos de alocação de capital, a Ambev deve continuar a maximizar a distribuição de juros sobre o capital, respeitando as novas regras, segundo o comando da companhia.

O excesso de caixa também deve ser retornado aos acionistas, por meio de dividendos e recompra de ações, mas as discussões sobre o payout devem começar no segundo semestre de 2024.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasAmbevCervejas

Mais de Exame IN

Renner vem bem no terceiro trimestre – mas não tão bem quanto se esperava

Vinci compra controle do Outback no Brasil em operação de R$ 2 bi

Magazine Luiza lucra R$ 70 milhões no 3º tri e bate (de longe) consenso

Para lidar com juros altos, Assaí reduz alavancagem e fica menos promocional no 3º tri