Clogs: lançamento da Havaianas para bebês e crianças (Alpargatas/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 5 de agosto de 2022 às 09h28.
Última atualização em 5 de agosto de 2022 às 19h16.
A Alpargatas, dona da Havaianas, já pode dizer que a estratégia de limpeza de portfólio foi acertada, junto com o novo foco. A companhia é maior e mais rentável do que era em 2018, primeiro ano da gestão Itaúsa e Cambuhy, que decidiu promover uma guinada importante no negócio. A receita líquida do primeiro semestre de 2022 cresceu 5,1% na comparação anual e encostou em R$ 2 bilhões — ante a R$ 1,8 bilhão, quatro anos antes. Esse total não contém os US$ 91 milhões feitos pela marca internacional Rothy’s, adquirida ano passado e parte do novo posicionamento: uma plataforma global de calçados confortáveis.
A companhia foi adquirida em 2017 e logo no ano seguinte formou-se a percepção de que era preciso um foco. Teve início, então, nos anos seguintes um processo de venda de ativos, que tirou Topper, Osklen e muitas outras marcas do grupo, e trouxe R$ 700 milhões ao caixa da empresa.
No primeiro semestre de 2021, a Alpargatas tinha empatado com 2018, mas os números ainda tinham em parte o desempenho de Osklen, cuja venda foi concluída apenas em abril.
Mas não foi apenas a receita, auxiliada por um câmbio muito favorável às exportações nos últimos dois anos e meio, que evoluiu. O Ebitda recorrente dos seis primeiros meses de 2022 somou R$ 350 milhões, uma margem de 17,6%. Em 2018, essa linha ficou em R$ 221 milhões — uma margem da ordem de 12%.
Apesar de o primeiro semestre de 2022 consolidar que a rota escolhida pelos novos donos foi acertada, ele mostra também que os desafios industriais, relacionados à cadeia de suprimentos ainda afetam o negócio. Na comparação anual, apesar do aumento de receita consolidada, houve queda de margem bruta, de 54,1% para 50,1%, e de margem Ebitda, de 20,9% para 17,6%. A boa notícia é que a companhia tem tido sucesso na estratégia de repasse de preços.
Apesar do ambiente macroeconômico desafiador, que se soma ao cenário global complexo de abastecimento, a companhia teve uma receita líquida 19% maior no mercado doméstico no segundo trimestre, para R$ 616,5 milhões. E o Ebitda teve expansão de 63%, para R$ 93,5 milhões. O desempenho foi o que garantiu crescimento, ainda que pequeno (1,9%), para a receita consolidada, que ficou em R$ 1,09 bilhão.
Roberto Funari, presidente da companhia, afirmou ao EXAME IN que o mercado tem se mostrado receptivo ao repasse de preços. No país, a receita por par avançou 21%. “Desse total, 14% foi aumento de preço e 7%, uma gestão mais eficiente de mix.” A companhia vem expandindo sua oferta de produtos, tanto têxteis como em calçados, com sliders e snikers. Agora, prepara mais uma novidade. O lançamento de um produto feito a partir de borracha expandida: os clogs, para bebês e crianças.
Outro fator importante de comportamento, segundo o executivo, é uma migração para canais especializados, como lojas de departamentos, de calçados e das diretas. “Os consumidores querem fazer compras seguras.” A companhia ultrapassou a marca de 500 lojas. O e-commerce da empresa foi relançado em maio e voltou a crescer, com NPS de 8.
“Fora do Brasil, Havaianas é um acessório de moda. E aqui no Brasil, cada vez mais, a marca caminha para essa direção também”, destaca Funari.
Tudo que o segundo trimestre foi no Brasil, ele não foi no mercado externo. A receita líquida internacional caiu 16,4%, para R$ 433 milhões, e o Ebitda 45,4%, para R$ 85 milhões. A margem, portanto, recuou de 30% para 19,5%. E foi o que segurou um desempenho consolidado mais forte no trimestre e no semestre.
Dois problemas “explicam 100% dos números”, segundo o CEO: o fechamento de vários mercados chineses por conta da política covid-zero naquele país e ainda uma correção de rota no processo de distribuição nos Estados Unidos, na relação com a Amazon. Para implantar a nova estratégia, a empresa teve de fazer um processo de esgotamento de estoques. Nos próximos meses, os números devem voltar a crescer.
Na Europa, onde não houve nenhuma alteração extraordinária de comportamento de mercado, as vendas mesmas lojas tiveram crescimento de 30% no segundo trimestre, de acordo com Funari. “Estamos vendo a volta do turismo e o consumo de calçados abertos cresceu nas grandes cidades, com a onda de calor.”
Apesar das fortes vendas nas lojas, o executivo explicou que o abastecimento do mercado europeu está mais próximo do que era em 2019, por temporada. Assim, as compras da Alpargatas se concentraram no primeiro trimestre.
Na Rothy’s, a marca nativa digital adquirida no fim de 2021, o investimento pela Alpargatas está trazendo resultado. A companhia teve expansão de 82% na receita líquida do segundo trimestre, para US$ 59 milhões. Considerada ainda uma startup, a empresa já desacelerou a queima de caixa. O Ebitda negativo de abril a junho ficou em US$ 6 milhões, uma redução de 50% na comparação com os três primeiros meses do ano. No semestre, a Rothy’s investiu US$ 39 milhões, sendo 64% desse volume no segundo trimestre.
O lucro líquido societário da Alpargatas caiu 40%, para R$ 63,8 milhões no segundo trimestre. Mas o lucro líquido da Havaianas, que exclui a perda de R$ 50, 2 milhões por equivalência patrimonial com a Rothy’s, teve queda de apenas 6,4%, para R$ 113,5 milhões.
Apesar de uma redução no Ebitda, a Havaianas conseguiu um lucro líquido com pequena redução em função das despesas financeiras líquidas terem sido menores na comparação anual. O efeito líquido negativo das contas financeiras ficou em apenas R$ 6,7 milhões, comparado a mais de R$ 40 milhões em igual período de 2021. Não fosse um pagamento de imposto 70% superior, o lucro teria aumentado.
No semestre, o raciocínio é o mesmo: queda de 6,1% no lucro Havainas, para R$ 253 milhões. Considerando o efeito negativo da Rothy’s, que ainda dá prejuízo, o lucro líquido contábil somou R$ 84,5 milhões.
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