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Além da internacionalização: a agenda de Beto Abreu à frente da Suzano 

Em primeira entrevista desde que assumiu como CEO, em julho, executivo destaca a resiliência operacional da companhia e elege a alocação de capital para reduzir ‘anomalia’ na Bolsa

Suzano: à frente da fabricante de papel e celulose, Beto Abreu vai se debruçar sobre a alocação de capital (Suzano/Divulgação)

Suzano: à frente da fabricante de papel e celulose, Beto Abreu vai se debruçar sobre a alocação de capital (Suzano/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 11 de agosto de 2024 às 12h16.

Última atualização em 11 de agosto de 2024 às 12h21.

Na sua primeira divulgação de resultados à frente da Suzano, Beto Abreu ainda não foi muito categórico sobre seus planos para a companhia, que assumiu há pouco mais de um mês, após um mandato de 11 anos de Walter Schalka.

Com a alavancagem começando a cair e ganhando gás a partir da entrada do Projeto Cerrado, uma nova unidade no Mato Grosso do Sul que vai aumentar em 20% a capacidade de produção, a meta é criar valor, seja com novos ou velhos ativos.

“Temos uma estratégia bem robusta [de alocação de capital] e vamos executá-la”, disse.

Nessa estratégia, explicou a jornalistas, está “alocar o capital da melhor forma possível, seja em ativos orgânicos ou inorgânicos, no país ou fora”.

Diversificação para além da celulose e internacionalização estão na rota. Recentemente, depois de desistir da compra da International Paper, a Suzano anunciou a compra de duas fábricas de papel cartão revestido e não revestido da Pactiv Evergreen, nos Estados Unidos.

Antes disso, comprou uma fatia de 15% da Lenzing, uma fabricante austríaca de celulose solúvel e tecidos.

Mas alocar capital vai além da aquisição de novos ativos. Na sequência da divulgação dos resultados, a empresa anunciou um programa de recompra de ações robusto.

Vai recomprar até 40 milhões de ações, ou 6,3% do free float atual. Num desembolso que, a preços atuais, supera R$ 2 bilhões.

A equipe do Itaú BBA vê a ação negociada a um múltiplo de 5x Ebitda projetado para 2025, o que é, nas palavras da equipe, uma “anomalia”.

Baratas, as ações proporcionam uma taxa interna de retorno “incomparável”, segundo os analistas. Uma visão compartilhada por Abreu: “[A recompra] mostra que, muitas vezes, alocação de capital, tem sim, o nosso próprio negócio como o melhor retorno.”

Vindo da operadora logística Rumo, onde foi CEO por cinco anos, Abreu tem no currículo experiência reconhecida pelo foco na performance operacional e na criação de valor.

Quando assumiu a companhia ferroviária, em 2019, depois de muitos anos já na Cosan, a empresa tinha acabado de anunciar a aquisição da Ferrovia Norte-Sul.

Agora, Abreu assumiu a fabricante de papel e celulose quando ela se preparava para apertar o play na operação do Projeto Cerrado, o maior investimento da história da companhia centenária.

A planta em Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul, entrou em operação em 22 de julho, aumentando em 20% a produção da empresa e com a missão de ser uma das suas principais alavancas de rentabilidade.

“Nesse pouco tempo [à frente da empresa] deu para ver claramente não só a qualidade do portfólio, que é irreplicável, mas o quanto a companhia é extremamente bem gerida”, afirmou em sua primeira entrevista de resultados como CEO.

Preços para baixo

De acordo com ele a companhia demonstrou “resiliência para operar em qualquer cenário.”

No segundo trimestre, a Suzano reverteu o lucro registrado um ano antes e reportou um prejuízo de R$ 3,7 bilhões, em grande parte reflexo de um efeito contábil da disparada do câmbio sobre o estoque de dívida.

Do lado operacional, o desempenho foi positivo. A receita líquida atingiu R$ 11,5 bilhões, o melhor número trimestral desde o quarto trimestre de 2022.

O Ebitda de R$ 6,28 bilhões também superou expectativas do mercado a e geração de caixa operacional totalizou R$ 4,5 bilhões -- o melhor resultado desde o primeiro trimestre de 2023 e principal razão para o início da desalavancagem.

Se no primeiro trimestre deste ano a empresa havia chegado ao pico da alavancagem financeira, com 3,5 vezes a dívida líquida/ Ebitda, no segundo trimestre essa relação caiu para 3,2 vezes.

A expectativa da companhia é que de que esse indicador caia em ritmo acelerado agora com a entrada do Projeto Cerrado em operação.

Por lá, o raio médio estrutural da base florestal é de 65 quilômetros, bem abaixo dos 150 quilômetros registrados no total dos ativos da empresa, o que reduz custos e aumenta a rentabilidade do ativo.

Essa rentabilidade extra deve ser suficiente para a companhia se proteger de um ambiente de preços mais baixos para a celulose que os vistos no segundo trimestre, acreditam Abreu e Marcelo Bacci, CFO.

“Existe risco de recessão global, sim. Mas produtores que têm menor custo são preservados em relação a quem tem maiores custos. Atravessamos esse tipo de crise com tranquilidade e saímos melhor dela”, defende Bacci, que também reforçou a confiança na política cambial da companhia.

A valorização do dólar pressiona o endividamento da empresa, mas na outra ponta beneficia a geração de caixa.

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