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Adeus, trilhão: o futuro grandioso da Meta ficou para trás?

Enquanto Google e Amazon expandem seus impérios e se tornam imprescindíveis, Meta sofre por ter concentrado suas fichas em aposta de futuro distante

Meta: investidor ainda tenta entender tamanho das ameaças de curto prazo e do potencial do metaverso no futuro (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

Meta: investidor ainda tenta entender tamanho das ameaças de curto prazo e do potencial do metaverso no futuro (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 8 de fevereiro de 2022 às 14h38.

Última atualização em 8 de fevereiro de 2022 às 14h39.

Quase uma semana depois da divulgação do balanço de 2021, o discurso de Mark Zuckerberg, em especial as partes negativas dele, continua ecoando sobre a Meta, o nome do Facebook desde outubro passado. A companhia, que valia quase US$ 900 bilhões, está agora avaliada em US$ 605 bilhões: um tombo de 33%. Tudo porque o fundador alertou para os efeitos da concorrência com o TikTok no curto prazo e disse não saber quando o metaverso será uma realidade para os negócios, dinheiro no bolso.

Em três pregões, desapareceram quase US$ 300 bilhões em riqueza. Em reais, o número é ainda mais assustador: R$ 1,6 trilhão. Para efeito comparativo de ordem de grandeza, é ¼ do PIB do Brasil acumulado até novembro de 2021. E é sempre bom lembrar que subida no caminho de volta é mais íngreme. Para retornar ao ponto em que estava, as ações precisam subir 50%.

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Os papéis não apenas não se recuperaram do susto com a sinceridade do fundador como também seguem em queda. Dia após dia. Não há uma matemática exata por trás do tombo, mas Zuckerberg criou uma sensação de incerteza sobre o futuro de curto e de longo prazo. E o mau humor causado por essas dúvidas não parece ser uma crise de estresse passageira.

Ainda que o resultado de 2021 tenha apresentado forte crescimento, os números reportados foram o de menos. A expectativa de ganho real com as ações da companhia está entre 5,5% e 6% ao ano, patamar semelhante ao de outras empresas ligadas à era digital como Google (Alphabet) e Amazon.

Os negócios da era tecnológica, que têm mostrado forte ritmo de crescimento, estão todos sofrendo pelo desconto atribuído com a perspectiva de alta na taxa de juros, nos Estados Unidos e no mundo. Quanto mais do lucro de uma companhia está no futuro, mais ela perde de valor no presente nesses cenários.

E o que Zuckerberg fez na divulgação do balanço? Ainda que sem intenção, colocou em um futuro distante o retorno dos mais de US$ 10 bilhões investidos no desenvolvimento de soluções — de hardware e de software — para o metaverso. Ou seja, deixou o prejuízo no presente e o retorno ainda mais distante e incerto ao admitir que tudo sobre o metaverso ainda carrega grande imprevisibilidade.

Para completar, mesmo não sendo a fotografia do balanço de 2021, ele chamou atenção para o fato de que o futuro de curto prazo está mais difícil: 500 mil usuários foram perdidos no quarto trimestre (o primeiro retrocesso da história da empresa), o TikTok está crescendo aceleradamente e as publicidades serão afetadas pelas restrições de privacidade impostas por empresas como a Apple — que oferece ao usuário chance de reduzir sua exposição.

Enquanto Amazon e Alphabet, que valem US$ 1,6 e US$ 1,8 trilhão, respectivamente, estão se tornando quase monopolistas, deixando o mundo cada vez mais dependente de suas soluções, a Meta é alvo de tiros de todos os lados, incluído aí legisladores — que querem políticas cada vez mais restritivas, no sentido de proteger a privacidade dos usuários.

Não que Zuckerberg esteja deitado em berço esplendido. Antes de passar a palavra para os executivos do time, reforçou iniciativas como o reforço na aposta de vídeos de curtas duração com o Reels para atualizar sua rede e o desenvolvimento de um supercomputador com inteligência artificial proprietária, além de enfatizar a crença de que a aposta no metaverso é a direção correta.

A grande questão é que ele fez o mercado sair da negação. “É comum o mercado ficar em negação por um tempo. Todos estavam vendo dentro de casa as crianças e os jovens interessados apenas no TikTok, mas isso ainda não tinha ido para o preço das ações”, comentou um analista que acompanha a empresa. Ele cita que pesquisas americanas mostravam que há dez anos 90% dos jovens estava no Facebook e esse percentual hoje despencou para 24%, com a ascensão de outras redes e plataformas de relacionamento.

Não se trata de duvidar da competência de Zuckerberg ou da força financeira que a Meta possui, com seus US$ 118 bilhões em receita apresentados em 2021 (uma expansão de 37%), mas o nome do jogo aqui é velocidade. O problema é que a aposta no metaverso tem um ritmo muito diverso do que foram as compras acertadas do WhatsApp e do Instagram, que foram ameaças passadas, e ainda carrega muitas dúvidas. Além disso, mesmo as soluções para problemas mais imediatos podem estar em um compasso mais lento do que o desejado pelos investidores. Afinal, ninguém queria ouvir que a Meta sofre contratempos e ameaças.

A Meta, de agora em diante, tende a ficar mais sensível a todo e qualquer sinal sobre regulação, concorrência e suas perspectivas. E ontem foi dia. Os papéis caíram mais de 5%. A companhia afirmou que alguns de seus serviços, como o Facebook e o Instagram, poderão ter que sair do ar na Europa devido às decisões da Justiça do continente que impossibilitam a transferência de dados lá obtidos para a sede da companhia nos Estados Unidos. A companhia afirma que uma decisão definitiva da Corte americana sobre o assunto, que está em debate desde 2020, é esperada ainda para a primeira metade de 2022. Dos US$ 115 bilhões de receita com publicidade de 2021, 25% vieram da Europa.

A saída de Peter Thiel, o criador do PayPal, do conselho de administração da companhia, anunciada ontem, também pesou para o comportamento na bolsa. Ainda que o empresário tenha declarado que vai se dedicar ao alinhamento de uma política para Donald Trump, o republicano ex-presidente dos Estados Unidos, ninguém mais quer barulho em torno do negócio.

Ao fim e ao cabo, a liderança de valor da era digital está nas mãos de duas gigantes — e rivais — precursoras do conceito de startups e fundadoras da modernidade: Apple e Microsoft. A Apple vale hoje US$ 2,8 trilhões e o negócio criado por Bill Gates, US$ 2,2 trilhões.  Ambas souberam se reinventar e apresentaram consistência ao longo do tempo. Zuckerberg ainda precisa provar que sabe mesmo e consegue fazer isso também.

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