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Acordo de paz entre Ânima e Ser envolve até 55 mil alunos da Laureate

Pré-acordos de venda da Ânima pode reduzir custo de compra da Laureate em quase R$ 1 bilhão

Formatura: acordo com Ser elimina risco de litígio e ajuda Ânima a reduzir dívida gerada por negócio (Aron Ontiveroz/The Denver Post via Getty Images/Getty Images)

Formatura: acordo com Ser elimina risco de litígio e ajuda Ânima a reduzir dívida gerada por negócio (Aron Ontiveroz/The Denver Post via Getty Images/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 30 de outubro de 2020 às 13h22.

Última atualização em 30 de outubro de 2020 às 13h39.

O acordo entre a Ânima e a Ser Educacional, para dar fim ao imbróglio com a operação da Laureate no Brasil, envolve um total de 55 mil alunos considerando todos os ativos listados nos documentos, conforme o EXAME IN apurou com fontes próximas ao negócio. Trata-se de 20% da base total em negociação. Aparentemente, está todo mundo satisfeito.  A Laureate sai já do Brasil e com dinheiro debaixo do braço, a Ânima faz uma transação altamente estratégia para sua expansão e a Ser ainda consegue ampliar seu portfólio.

Do total envolvido no acordo, são 17 mil estudantes dentro das operações da Faculdade Internacional da Paraíba (FPB), estado de origem do fundador da Ser, Janguiê Diniz, e do Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG). Essas são as unidades que poderão ser recebidas pela Ser Educacional como pagamento pela multa de 180 milhões de reais.

Essa conta é parte do acordo de preferência que a companhia de Diniz e o grupo americano assinaram em setembro. Era devida caso a Laureate optasse por uma outra proposta de compra, que não a da Ser. Agora, é prerrogativa de Diniz decidir se prefere dinheiro ou ativos. A definição precisa ser feita até dia 4, quarta-feira da próxima semana. A Ser já suspendeu todas as judicializações que tinha iniciado, questionando a escolha da Laureate.

Como parte do tratado de paz, também foram fechados dois contratos de opções envolvendo os seguintes ativos, juntos ou separados: UniRitter, Fadergs e IBMR, que ficam nos Estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. No total, são 38 mil alunos nesse grupo. Há valores pré-fixados para os negócios, que são diferentes para cada parte. É simples, mas complicado. Do jeito complicado são puts e calls.

Do jeito mais fácil: a Ânima tem obrigação de vender essas faculdades à Ser se essa pagar o que quer receber. Por outro lado, a Ser tem obrigação de comprar tais operações se a Ânima aceitar o valor que ofereceram. Por óbvio, Ânima quer receber mais e a Ser, pagar menos.

Na prática, a Ânima pode procurar outros compradores. Mas nada de cláusulas de "go shop" dessa vez.  Se ninguém quiser pagar o que ela quer receber, pode obrigar a Ser a comprar pelo preço que Diniz topou. Caso a Ser não queira correr risco, pode simplesmente pagar na largada o que a Ânima pede e obrigar o negócio.

Todo mundo tem, ao mesmo tempo, obrigação e liberdade. Segundo pessoas próximas à transação, logo que toda briga começou, Ânima e Ser enviaram sutis sinais de que havia espaço para acordo — mas tudo ali na alta cúpula. Contudo, as partes não poderiam negociar sem autorização da Laureate, uma vez que eram rivais na operação.

Após o grupo americano aceitar que ocorresse uma negociação entre elas, o diálogo começou. Tudo avançou muito rapidamente a partir de terça-feira, um dia depois de a Justiça de São Paulo derrubar a liminar da Ser com argumento de que não encontrou “probabilidade de direito” nas queixas levadas.

Nos bastidores, já se comentava que o interesse da Ser era ganhar espaço para negociar a compra de alguns ativos, uma vez que Diniz sabia que a confiança com a Laureate estava quebrada e que o debate poderia levar anos e envolver riscos financeiros. Dessa forma, também garantiu crescimento de base.

Para a Ânima, segundo pessoas envolvidas nas discussões, faz sentido o acordo, uma vez que a venda de tais ativos ajuda a compor a estratégia de redução de dívida — que se dará no momento seguinte ao fechamento do acordo com a Laureate, cujos ativos foram avaliados em um total de 4,4 bilhões de reais.

Pela negociação, a Ânima deve pagar 3,8 bilhões de reais à Laureate e ainda assumir uma dívida de pouco mais de 600 milhões de reais. Além disso, a depender do desempenho do curso de Medicina, a Laureate poderá receber mais 200 milhões de reais.

Logo após a transação, a Ânima, que hoje basicamente tem nenhuma alavancagem, vai passar a ter uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 5,5 vezes. Salgada, portanto, ainda que temporaria. No fim das contas, nada mal para quem está dando um ousado passo em um setor que sofreu tanto durante a pandemia. Ainda mais com a falta de clareza a respeito do futuro do cenário econômico nacional, com suas tradicionais próprias complicações. É a pergunta do milhão do setor: como será a demanda por formação superior se a economia não deslanchar?

Além disso, tais ativos não eram considerados tão essenciais à operação da estratégia da companhia  e ajudam a diminuir o volume de capital que deverá ser obtido com uma emissão de ações — privada ou pública. Portanto, menos diluição para os atuais acionistas. No grupo de faculdades não há nenhum curso de Medicina, considerado a atual galinha dos ovos de ouro da educação superior. São formações de psicologia, direito, odontologia e enfermagem.

Dentro da estratégia para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, a gestora Farallon Capital também já se comprometeu a comprar a FMU, de São Paulo, por cerca de 500 milhões de reais.

Com todas essas medidas implantadas, pouco menos de 1 bilhão de reais já terá sido resolvido no saldo da Ânima, de acordo com estimativa de analistas. A companhia tem 190 mil alunos e no total, as faculdades geridas pela Laureate tem quase 270 mil alunos. O grupo americano tinha aqui no Brasil receita líquida anual da ordem de 2,2 bilhões de reais e Ebitda pouco maior que 400 milhões de reais.

 

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