Bancos ainda é o setor mais presente na bolsa, mas participação no Ibovespa caiu 10 pontos em três anos (Ralph Orlowski/Reuters)
Angela Bittencourt
Publicado em 21 de julho de 2021 às 16h57.
Representatividade é um substantivo que nos faz pensar imediatamente em Política. O Congresso representa a sociedade. O Executivo também. No mercado de capitais, representatividade é igualmente importante ou até mais, sobretudo, se você é um investidor amarrado em Bolsa de Valores ou mantém parte de suas economias em ações. A temporada de balanços do 2º trimestre acaba de começar e vai mexer com as ações e algumas não têm nada de novatas na B3. Ao contrário, são veteranas de sucesso.
Alguns papéis não são populares à toa. Atravessam geração e marcam presença há vinte anos no Ibovespa ou no IBrX 100, indicador de 100 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado brasileiro, segundo a Economatica – plataforma de informações financeiras.
A Economatica informa que, desde 2001, 14 ações estão presentes em todas as carteiras do Ibovespa e 23 ações no IBrX 100. Nesse período, Bancos têm maior exposição no índice mais tradicional da bolsa brasileira e Mineração é estrela no IBrX 100. Os Bancos, porém, vêm perdendo espaço, enquanto no IBrX 100 movimento semelhante ocorre com Extração de Petróleo e Gás.
Em agosto de 2001, os Bancos correspondiam a 0,03% do Ibovespa e, em julho de 2021, a 16,7%, após conquistar a maior fatia do índice, 27,4%, em dezembro de 2018. Em apenas três anos, portanto, os Bancos perderam quase 10 pontos percentuais de representatividade setorial, o que torna mais relevante o monitoramento dos balanços do 2º trimestre de 2021 das principais instituições de varejo no país. Os resultados de Santander, Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil – nesta ordem – saem na virada do mês.
A reacomodação dos Bancos não se dá apenas na preferência dos investidores. Na prática, o setor vem experimentando concorrência única nos últimos anos com a chegada das fintechs e, num segundo movimento, com a entrada de varejistas em meios de pagamento digitais.
No IBrX 100, informa a Economatica, Mineração é o setor mais representado. Saiu de 5,1% de participação em 2001 para 21,8% em julho de 2021, sendo que, em abril deste ano, registrou sua maior presença, 22,1%. A Extração de Petróleo e Gás, por sua vez, desabou em vinte anos, passando de 22,9% para 9,1% do IBrX 100.
O levantamento da Economatica utilizou como referência setorial a NAICS – classificação setorial internacional – uma vez que alguns dos ativos não existiam quando a B3 criou classificações semelhantes.
O ranking mostra quem está no mercado. Mas chama atenção um quase desaparecimento. No início dos anos 2000, o setor Telecomunicações, com o pós-privatização, era o de maior peso. O recibo de ações da antiga Telebrás chegou a ter participação superior a 40% no Ibovespa. Com o passar do tempo, houve muita consolidação, fechamentos de capital e muitas reestruturações societárias. A Oi, em recuperação judicial e hoje fora do indicador, chegou a ter uma fatia, sozinha, superior 14% após o desdobramento do recibo, por meio da Telemar. Atualmente, os maiores expoentes do ramo na bolsa são Telefônica e TIM, que somam juntas apenas 1,2% do Ibovespa.
A plataforma de informações financeiras define por rentabilidade nominal decrescente o ranking das ações melhor representadas nos dois índices da bolsa brasileira. E, para comparação, aponta que o Ibovespa teve retorno médio anual de 11,9% nos vinte anos analisados.
As 14 ações mais frequentes – sendo que Petrobras tem reprise com papéis ON e PN – são CSN ON, retorno anual médio de 25,9%; Gerdau PN, 20,8%; Itausa PN, 20,5%; Bradespar PN, 19,8%; Banco do Brasil ON, 19,7%; Bradesco PN, 18,5%; Usiminas PNA, 18,2%; Cemig PN, 16,8%; Itaú Unibanco PN, 16,6%; Braskem PNA, 14,8%; Sabesp ON, 14,4%; Petrobras PN, 11,3%; Petrobras ON, 10%; e Embraer ON, 3,1%.
O ranking de rentabilidade das ações mais representadas no IBrX 100, que teve retorno médio anual de 15,4% em vinte anos, inclui as companhias do Ibovespa citadas acima e é encabeçado por Lojas Americanas PN, com retorno de 34,2%; Vale ON, 23,5%; Engie Brasil ON, 21,8%; Eletrobras PNB, 13,6%; Eletrobras ON, 11,1%; Copel PNB, 10,8%; TIM ON, 8,8%; e Light ON, -0,8%.
A safra de balanços trimestrais que começou ontem com a Neoenergia e Indústrias Romi se estende até o final de agosto e os próximos quinze dias serão emblemáticos para o mercado. Nesse período 58 companhias negociadas na B3 apresentarão seus números. No lote estarão os maiores bancos de varejo do país, as gigantes Petrobras, Vale e Ambev e algumas das empresas de importante representatividade setorial e protagonistas de negócios que sacudiram o mundo dos negócios neste ano. A Gol, Totvs, Localiza, Movida, Vamos, Magazine Luiza estão entre elas.
O Magazine Luiza entrou em 2021 sem pé no freio em suas aquisições. Acabou de comprar a Kabum! de comércio eletrônico. Mas, neste ano, comprou o Hub Prepaid, o aplicativo de entrega de refeições Plus Delivery, contratou a cantora Anitta como garota-propaganda e liderou o ranking global sobre retorno total a investidores com 256%.
A Totvs também acaba de fechar negócio com a B3 que adquiriu fatia de 37,5% da empresa para avançar no mercado de provedores de t4ecnologia para instituições financeiras. A Gol incorporou a Smiles após arrastada novela por resistência dos acionistas minoritários. A Localiza protagonizou com a Unidas – com quem pretendia fusão – uma acalorada discussão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Quatro locadoras de veículos protestaram contra a operação que levaria à concentração de mercado.
Os negócios realizados, que abrangem outras companhias, não vão necessariamente impactar os resultados do 2º trimestre que estão no pipeline. De antemão, dá para estimar, porém, que, comparativamente a igual período de 2020, os resultados serão mais positivos. Ninguém tem dúvida de que o ano passado, de pandemia instalada no país, não foi fácil para ninguém.
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