Exame IN

Ação, mas pode chamar de IPCA+: O novo fundo da Truxt

Gestora de R$ 5 bi em renda variável lança nova estratégia, com bond proxies como Equatorial, Sabesp e Energisa, para "arbitrar maior oportunidade da Bolsa" – e sanar dor de fundações, que buscam mais exposição a juros reais

Ações como das distribuidoras Energisa e Equatorial, além da Sabesp, estão tanto no flagship da Truxt quanto no novo produto (Energisa/Divulgação)

Ações como das distribuidoras Energisa e Equatorial, além da Sabesp, estão tanto no flagship da Truxt quanto no novo produto (Energisa/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 12 de novembro de 2024 às 08h25.

Última atualização em 12 de novembro de 2024 às 09h47.

Uma longa fila de pessoas para investir em “crédito sem spread” ao lado de uma barraquinha vazia de um gestor melancólico que anuncia “Bolsa barata”.

O meme resume bem os últimos anos dos gestores de ações no Brasil: enquanto nos últimos cinco anos, centenas de bilhões saíram dos fundos de renda variável, o estoque de crédito isento cresceu nada menos que R$ 1 tri, com spreads cada vez menores e por vezes negativos em relação aos títulos do governo – com o prêmio vindo todo na forma do benefício tributário.

Num país onde a Selic reina e acaba turbinada pela ‘meia-entrada’, uma das maiores e mais respeitadas gestoras de ações do país está fugindo do script e criando um fundo para mimetizar e tentar ampliar o retorno de uma alocação em juros reais.

SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT direto no seu Whatsapp

Com R$ 5 bilhões sob gestão, a Truxt – que opera há anos com o mesmo flagship – está lançando um produto para investir apenas em bond proxies, ações com previsibilidade de retorno, mas que, ao mesmo tempo, consigam crescer ao reinvestir sua geração de caixa.

Num mercado em que o IPCA+ se consolidou como o porto-seguro, a tese do Truxt Retorno Real de buscar compounders que tragam proteção contra inflação ou juros está longe de ser original.

Com alocações em empresas como Equatorial e Rumo, é uma boa forma de investir no “Brasil que dá certo”, com retornos bons e consistentes e, ao mesmo tempo, resistentes do vai-e-vem macroeconômico, afirma Bruno Garcia, CIO da Truxt.

A tese está longe de ser fora do consenso. No atual cenário, as principais gestoras de ações do país estão carregadas de empresas de energia elétrica e saneamento, algumas delas negociadas às maiores taxas internas de retorno históricas na Bolsa.

O novo produto da Truxt, no entanto, vai de all-in.

É um fundo de ações, com um cheirinho de NTN-B, mirando um grupo específico de investidores – especialmente fundações e fundos de pensão, por mandato, estão nas suas alocações máximas de NTN-Bs e com o menor percentual histórico investido em ações, de apenas 10%.

A Truxt segue confiante de que estamos diante de uma oportunidade de entrada em Bolsa muito grande – mas afirma que, no momento, falta capital de longo prazo disposto a aposta nessa tese de forma mais ampla.

Crítico das distorções provocadas no mercado pela isenção no rendimento para títulos de renda fixa (leia mais aqui), Garcia e seus sócios decidiram que era a hora de apostar também outro tipo de produto, mudando o perfil de alocação para algo próximo do objeto de desejo dos investidores.

O produto nasce com capital proprietário e está em vias de fechar o seed money de um alocador com mandato voltado apenas para essas fundações, que ajudou a desenhar o fundo.

“É um produto bom para esse tipo de investidor, mas também para a pessoa física que quer renda e um retorno previsível”, diz Garcia.

Na mira estão também clientes de alta renda, que tiveram fundos exclusivos mais generalistas desmontados, com o fim da isenção do come-cotas e apostaram na criação e FIAs exclusivos, que precisam ter dois terços de alocação em Bolsa para ter o benefício.

Defensivos, além dos dividendos

“Recentemente, comecei a ver alguns alocadores começarem a falar em colocar sua fatia em Bolsa no índice de dividendos, mirando previsibilidade e geração de caixa”, conta.

A questão, pontua ele, é que o IDIV, da B3, é uma proxy fraca, essencialmente porque mira para o passado, colocando os melhores pagadores de dividendos nos últimos três anos.

“Isso pega umas distorções muito relevantes, por exemplo, as siderúrgicas, que geraram uma barbaridade de caixa com a explosão dos preços do aço na pandemia. Mas isso não garante que isso acontecerá daqui para a frente”, afirma.

Outro ponto é que há empresas com essa previsibilidade e que não necessariamente distribuem os dividendos, mas os reinvestem em negócios de mais crescimento – as “compounders”, que são o santo-graal dos value investors.

O melhor exemplo, acredita, é a Equatorial, uma das empresas com o melhor retorno da Bolsa Brasileira, de IPCA + 20% ao ano nos últimos 10 anos.

“Pensei: se eles estão querendo vestir as ações de NTN-Bs, tem um jeito muito melhor de fazer isso”, brinca.

Arbitragem

Mais do que se adaptar ao espírito do tempo, no entanto, o novo fundo permite arbitrar uma das maiores assimetrias já vistas no mercado de capitais.

Embalados com fluxo para isentos, os retornos para renda fixa estão próximos do zero, enquanto o prêmio para investir em ações está próximo do pico.

“A mesma empresa que capta dívida de longo prazo a praticamente zero é a empresa cuja ação está negociando a um baita desconto”, diz.

As empresas que entram na carteira do Retorno Real são exatamente essas que estão captando dinheiro de longo prazo a taxas baixas, dando conforto para financiar o crescimento, e a bons pontos de entrada na Bolsa.

Quando e por que essa diferença vai fechar é uma questão. Crítico à coqueluche de isentos e as distorções que ela está provocando no mercado, ele está certo de que o spread atual da renda fixa para os grandes emissores está “muito errado”.

“Nem tanto pelo que paga está pagando uma Equatorial, uma Vale, mas principalmente pelo que estão pagando empresas mais endividadas e com perfil de risco pior. Uma hora vai abrir.”

Na carteira do novo produto, também estão nomes como Energisa e Sabesp, que assim com Rumo e Equatorial, fazem parte do Truxt Valor, que tem 45% do capital em ações defensivas, muito descontadas em Bolsa. Mais agnóstico, o flagship da casa, no entanto, tem outros 45% em papéis mais cíclicos, como Lojas Renner e SmartFit.

Além disso tem 10% em Prio, de petróleo – que também pode entrar no Retorno Real, feitos os hedges de petróleo, para dar uma proteção em moeda forte.

No mercado desde 1998, Garcia acredita que o pessimismo com a renda variável está exacerbado no País – e ainda mantém firme e forte o Truxt Valor além do long biased, que tem mais liberdade para fazer alocações em posições short e algumas posições em juros e câmbio.

“A bolsa como um todo negocia a uma relação entre preço/lucro de oito vezes. É abaixo do patamar da Dilma, mas naquela época, a economia estava emburacando. Agora está subindo – e com os lucros sendo revisados para cima.”

Hoje, a expectativa é que de lucro das empresas listadas cresça 15%. “Se a Bolsa mantiver o mesmo múltiplo, eu ganho esse 15% e que é mais que meu custo de oportunidade, de 12%. Na prática, estou sendo pago para esperar.”

Acompanhe tudo sobre:Gestores de fundosMercadosEmpresas

Mais de Exame IN

Fim da guerra da cerveja? Pelas vendas de setembro, a estratégia da Petrópolis está mudando

“Equilíbrio fiscal não existe, mas estamos longe de uma crise”, diz Felipe Salto

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon