Exame IN

Acabou o medo: estoque de ofertas é de R$ 70 bi, diz Morgan Stanley

Ano de 2020 pode ser recorde em operações, conforme previsões pré-pandemia, se operações forem bem-sucedidas

Sem campanhia: empresas estreiam na bolsa sem apertar o sinal do pregão e após road show virtual, como Aura Minerals (B3/Divulgação)

Sem campanhia: empresas estreiam na bolsa sem apertar o sinal do pregão e após road show virtual, como Aura Minerals (B3/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 9 de julho de 2020 às 06h57.

Última atualização em 9 de julho de 2020 às 07h07.

A pandemia nem acabou — pelo menos, não no Brasil — e o estoque de ofertas de ações para o segundo semestre já está em 70 bilhões de reais, segundo os cálculos de Eduardo Mendez, chefe de mercado de capitais e renda variável para América Latina do Morgan Stanley. No horizonte, há cerca de 35 operações, entre aberturas de capital e ofertas subsequentes. “Considerando que a atividade do mercado já movimentou 50 bilhões de reais até agora, já estamos no nível pré-pandemia”, disse em entrevista ao EXAME IN.

Se a previsão de Mendez se confirmar ou for ultrapassada, 2020, o ano da maior crise global que se tem notícia em quase um século, será o ano recorde em atividade do mercado de capitais brasileiro — quando excluído do cálculo a megaoferta de ações da Petrobras que sozinha movimentou 120 bilhões há dez anos. “O esforço recorde dos bancos centrais de prover liquidez surtiu efeito e promoveu um ciclo virtuoso”, afirmou o executivo, uma vez que na maioria das operações as companhias estão reforçando seu caixa.

A fila para IPOs na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ganhou mais duas operações nessa semana: a construtora Lavvi, que tem a Cyrela como sócia, e a rede de farmácias d1000, do mesmo grupo da Profarma. Na semana passada, a Pague Menos também deu a largada no processo. O primeiro teste mais importante do mercado será agora com a empresa de tratamento de resíduos Ambipar — uma vez que de estreantes até o momento só houve Estapar e Aura Minerals, com circunstâncias específicas. A lista de ofertas de companhias já listadas tem ninguém menos que Lojas Americanas e JSHF, depois das operações todas altamente demandadas de Centauro, Via Varejo e BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).

Sem dar nomes, Mendes disse que o “pipeline” tem de tudo. Está bastante variado, segundo o executivo, a despeito da forte concentração das operações em varejo e construção que a lista da CVM apresenta atualmente. De acordo com ele, há também fintechs, tecnologia, agronegócios, educação, infraestrutura, energia, saúde, além dos segmentos já citados. A constante nas histórias, segundo ele, é a tecnologia, presente no discurso de todos os segmentos, seja porque o negócio todo é disruptivo ou porque o universo digital permitiu que as empresas alcançassem consumidores antes inacessíveis.

Além das estreantes, dois grupos econômicos importantes estão dando a largada em movimentos que têm por objetivo listar diversas empresas controladas por uma holding que já é aberta. É o caso da Cyrela, com Lavvi, Cury e o projeto de abertura da Plano&Plano, e também da Cosan, do empresário Rubens Ometto. A tão aguardada simplificação da estrutura de holdings do conglomerado veio junto com o plano de listagem das controladas Moove, Compass e Raízen (além da Rumo, que já tem ações negociadas na bolsa e com liquidez significativa).

A explicação de Mendez para a forte atividade combina a recuperação dos preços — “estamos a 15%, 20% de distância do nosso pico histórico” — com a realidade da taxa básica de juros em patamares muito baixo. “Não só os preços voltaram muito rápido. Mas os empresários também reagiram. Saímos da situação em que o foco era sobreviver e voltamos ao planejamento para crescimento.”

Embora muito se fale da força das compras da pessoa física, o executivo destacou que, além de aplicar diretamente na bolsa, os investidores também se mostraram mais maduros no comportamento com os fundos de ações, sem resgates expressivos — ao contrário, mantendo os aportes, de forma geral. “Além disso, na crise, houve uma redução de risco e aumento da posição em caixa dos fundos, que agora precisam novamente alocar seus recursos. Isso aconteceu com o institucional estrangeiros e com o doméstico.”

Questionado sobre a dificuldade de previsão do cenário econômico e os impactos da pandemia no Brasil, o executivo do Morgan Stanley afirmou que a perspectiva para 2021 é de recuperação, com crescimento nos próximos anos, em níveis suficientes para as companhias estarem dispostas a se preparar e os investidores, a aplicar.

A lista de operações conta agora não apenas com a maioria das companhias que já planejam um IPO como também com as empresas que assumiram novas dívidas durante a pandemia e querem reequilibrar a estrutura de capital. “Algumas também decidiram aproveitar para se capitalizar pensando em potenciais oportunidades de consolidação que vão surgir desse cenário atual.”

A queda da Selic vai ajudar o mercado a encontrar um equilíbrio na participação das operações, que devem ficar quase que igualmente divididas entre investidores estrangeiros e domésticos: “na média, deve ficar em 50% - 50%, o que é muito salutar”. O Morgan Stanley tem chamado atenção para uma leitura diversa a respeito da participação do investidor estrangeiro no mercado. Segundo Mendez, os números que apontam saída de 78 bilhões de reais não refletem toda a história do fluxo de recursos, apenas a do mercado à vista. Segundo ele, considerando a participação em ofertas públicas e as arbitragens com Índice Bovespa Futuro, o saldo negativo cai para 10 bilhões de reais.

Acompanhe tudo sobre:CentauroCosanCyrelaEstaparIPOsMorgan Stanley

Mais de Exame IN

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon

UBS vai contra o consenso e dá "venda" em Embraer; ações lideram queda do Ibovespa

O "excesso de contexto" que enfraquece a esquerda