(Linte/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 15h30.
Última atualização em 14 de dezembro de 2021 às 16h36.
O que Creditas, Ebanx, Stone, Loft e MadeiraMadeira têm em comum? A resposta óbvia seria a de que são todos unicórnios que atuam no Brasil. Porém, há um segundo ponto que todas compartilham: são clientes da Linte, legaltech (startup relacionada ao meio jurídico) especializada na automação da gestão de contratos. Diante de um mercado em que uma gigante estrangeira domina – a Docusign – a empresa 100% brasileira afirma que há espaço de sobra para crescer: duplicou o faturamento em 2021 e vai crescer o triplo em 2022, afirma Gabriel Senra, fundador e CEO da Linte, ao EXAME IN.
Para crescer, a companhia aposta na personalização da oferta aos clientes e em um nicho de empresas maiores. Diferente de outras companhias no setor, em que é possível contratar um serviço de gestão de contratos por R$ 99 ao mês, na Linte o preço de entrada é de 30 mil reais por ano para uma companhia de médio porte. No segmento “enterprise”, que visa grandes corporações e até mesmo multinacionais, o preço médio é de 300 mil reais por ano. São grandes projetos de digitalização e que envolvem praticamente todas as áreas da empresa, indo além do jurídico.
O resultado de tudo isso é, claro, aperfeiçoar processos para os clientes, gerando mais eficiência. Hoje, a Linte afirma que gera uma economia de 82% no custo da operação das companhias em que atua, tomando como base o custo de operação para gestão de contratos. O dado é obtido a partir de uma empresa que opera há três anos com a companhia e em seis países diferentes. Em termos de tempo, a gestão de contrato é, no mínimo, dobrada, chegando até a ser quatro vezes mais rápida em alguns clientes.
O tempo de implementação também é bastante reduzido: se há alguns anos a companhia demorava de três a quatro meses para iniciar a operação em uma empresa, hoje consegue fazê-lo em duas semanas, na média. Um ponto que colaborou para isso foi o investimento em tecnologia, especialmente a dedicação ao low-code, que permite a qualquer pessoa com pouco ou nenhum conhecimento em programação adaptar o software da maneira que preferir.
Esse ponto reforça uma tendência observada com força recentemente: o low-code é um campo vasto para startups. Nele, conseguem crescer desde as mais tradicionais do setor, como a Outsystems, até novas empresas, como a Everysk, totalmente dedicada ao setor financeiro. A Linte vem nessa toada, mostrando que não há nicho imune aos benefícios de uma plataforma de automatização – nem mesmo o jurídico.
Com isso, a companhia consegue uma entrada facilitada em empresas e não sofre com multinacionais, já que a plataforma pode ser customizada como cada país preferir. Por não atuar com contencioso, não há tantas barreiras de regulação para a adaptação dentro das companhias, mesmo em diferentes países.
Para ter uma ideia, o setor em que a companhia atua tem previsão de crescimento anual composto (CAGR) de 6% ao ano até 2025. O faturamento do setor, que era de 17,2 bilhões de dólares em 2019, deve chegar a 25,1 bilhões de dólares nos próximos quatro anos, segundo dados da companhia de análises alemã Statista. Ao mesmo tempo, cálculos da Nasdaq apontam que o valor do mercado é de 14 bilhões de dólares em 2021 e que há duas frentes principais para crescer: contratos e compliance.
“A nova geração de tecnologia nessas categorias costuma aproveitar os avanços de ponta em aprendizado de máquina e computação em nuvem para habilitar, automatizar ou deslocar totalmente a mão de obra (muito) cara a taxas que variam de $ 400 a $ 2.000 por hora”, afirma Casey Flaherty, chefe de Estratégia na LexFusion, em artigo.
No caso da Linte, aproveitar esse potencial significou maior aproximação com startups. Especialmente entre 2017 e 2018, segundo o executivo, indo atrás de futuros clientes para a modalidade de contrato que traz mais receita para a empresa. “Colocamos os unicórnios no mesmo patamar de atendimento que dedicávamos somente a corporações do setor tradicional. Quisemos olhar para elas antes de se tornarem grandes e complexas e, no momento em que cresceram, continuamos lá”, diz.
É de olho nisso que a empresa quer crescer cada vez mais. A Linte foi fundada em 2015 depois de um programa de aceleração da 500 Startups, seguido por outro aporte na fase seed com Valor Capital Group e Redpoint Ventures. O valor não é divulgado por questões estratégicas, mas a companhia adianta que pode fazer uma rodada nova de captação em 2022.
Diante de uma pandemia que impulsionou cada vez mais a necessidade de digitalização – e fez a companhia praticamente dobrar de tamanho – Gabriel explica que não houve um “boom” de procura pelos serviços da empresa, mas que há uma percepção mais clara da necessidade de automatização de processos. Especialmente com equipes remotas e pessoas trabalhando de forma mais colaborativa entre áreas.
Para 2022, a receita para crescer está no aumento de tíquete médio do produto e da estratégia de foco em companhias maiores e mais estruturadas. A preparação para isso já vem desde este ano, com o reforço de pessoal especializado dentro da companhia. Até mesmo a oferta de novos serviços está sendo observada. Em uma era cada vez mais digital, a Linte quer mostrar que pode concorrer com gigantes – e tem tudo para avançar nos próximos anos.