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A pauta energética que importa é a renovável, diz CEO da Omega

Antonio Bastos Filho afirma que o Brasil tem um diferencial imbatível em fontes renováveis – mas precisa acelerar

Antonio Bastos Filho: Brasil tem ativo único, que é a energia renovável mais barata do mundo, e deveria aproveitar isso (Bloomberg/Bloomberg)

Antonio Bastos Filho: Brasil tem ativo único, que é a energia renovável mais barata do mundo, e deveria aproveitar isso (Bloomberg/Bloomberg)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 16h50.

Para o empresário Antonio Bastos Filho, fundador e presidente da geradora de energia Omega, o acalorado debate político sobre energia está fazendo o Brasil perder uma janela de oportunidade valiosa.

Nos últimos 15 anos, ele é um dos maiores entusiastas das fontes renováveis para a geração de energia, uma tendência que se consolidou de vez com as necessidades de repensar o futuro com a pandemia da covid-19. Agora, o ano de 2021 pode trazer outro marco, segundo ele: a adoção de reformas definitivas para o Brasil liderar a agenda verde nas próximas décadas.

O tema ganhou ainda mais relevância nos últimos dias, marcados por anúncios truncados do governo no mercado de energia. Primeiro, como se sabe, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a troca no comando da Petrobras como resposta ao aumento no preço dos combustíveis. Depois, o encaminhamento de uma aguardadíssima medida provisória para acelerar a privatização da Eletrobras.

Nesta bola dividida política que virou a pauta energética no país, Bastos Filho destaca a importância de medidas, digamos, mais construtivas. "Existem reformas importantes no radar. O governo e os ministros têm preocupação grande com o preço da energia, e é legítimo. Mas há reformas importantes que podem ter um impacto maior", afirma. "A abertura integral do mercado livre, é uma delas. Permitiria que qualquer consumidor escolha de onde vem a sua energia. É uma possibilidade hoje restrita a algumas grandes empresas. Mas passou da hora de ter um mercado mais dinâmico e mais aberto".

Segundo ele, o mercado de energia renovável andou até mais rápido que imaginava quando começou a desenhar a Omega, em 2007. Mas a pandemia reforçou a necessidade de o país acelerar o passo. "Não há razão para expandir a oferta de energia no Brasil, por razões ambientais mas também econômicas, se não for por renovável. Até 2030, 70% da nova oferta de energia no país já vai ser de renovável, com base no que vem sendo construído. Podemos fazer ainda mais".

Para o empresário, falta ao país uma comunicação mais assertiva para mostrar a grande participação de energias renováveis em sua plataforma. Seria a senha para atrair cada vez mais investidores, interessados em ativos que reúnam retorno financeira com boas práticas ESG — sigla para ambiental, social e governança.

"A pandemia gera um "wake up call" (chamado) existencial. Discutíamos uma pandemia hipotecticamente, e ela veio. Agora estamos discutindo hipoteticamente a mudança climática global. Se ela acontecer: não teremos vacina", afirma.

Segundo o empresário, um mergulho definitivo em fontes renováveis pode "mudar brutalmente o patamar do preço por muitas décadas". O preço da energia nova pode ser 20% mais baixo com mercado livre puro e renovável. Sem subsídios e com uma tributação mais inteligente, a queda poderia chegar a 30%, calcula. "O Brasil tem um ativo único, que é a energia mais barata do mundo, e vai ter cada vez mais. Precisa aproveitar isso", afirma. "O mundo deveria pagar mais por produtos brasileiros porque usamos energia limpa, por exemplo".

O ano de 2020 foi aquele em que a Omega se consolidou como o maior detentor de ativos renováveis do Brasil, com a aquisição do complexo eólico da Eletrobras no Chuí, sul do país. A compra foi feita em julho, mas a transferência do complexo terminou em dezembro. Hoje, a empresa tem 1.869 megawatts de capacidade entre energia solar, eólica e hidráulica renovável — sete vezes a mais que na abertura de capital, realizada em 2017. Hoje, a companhia vale estimados R$ 10 bilhões na bolsa, no mesmo patamar do início de 2020.

"Conseguimos entregar a agenda estratégica de aquisições, mas 2020 foi um ano difícil do ponto de vista operacional. Manter o carinho com as pessoas e entregar resultados demanda muito trabalho e energia. A demanda caiu abruptamente e precisamos de uma atuação intensa junto ao governo para que muitas empresas do setor não quebrassem".

O ano de 2021 era para ser o da recuperação da economia, e da demanda. Mas o setor elétrico segue às voltas com as indefinições políticas — como a saída de Wilson Ferreira Jr. da presidência da Eletrobras, em janeiro. "Quando ele sai da Eletrobras e dá um sinal de que a privatização pode não ser o caminho, gera uma frustração. Somos pequenos, mas temos provado que um ente privado com incentivos corretos e gente boa trabalhando, pode gerar mais riqueza para a sociedade", afirma.

Um avanço na privatização seria mais do que bem-vindo. Mas há mais oportunidades se o país olhar para o futuro — para além de 2022, mais especificamente.

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