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A nova aposta da Suzano em celulose

Companhia dobra a aposta em fluff, voltada para material absorvente – e que tem prêmio de quase 50% sobre a celulose para papel

Suzano: investimentos em plantio próprio devem ajudar a reduzir custos (Germano Lüders/Exame)

Suzano: investimentos em plantio próprio devem ajudar a reduzir custos (Germano Lüders/Exame)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 15h52.

Última atualização em 10 de janeiro de 2024 às 12h26.

Num pacote de investimentos de R$ 1,6 bilhão anunciado ontem, a Suzano destinou parte dos recursos para ampliar a aposta num novo – e promissor – mercado: o de celulose fluff, usada em produtos absorventes, como fraldas e tapetes higiênicos. 

A companhia está investindo R$ 490 milhões na conversão de uma máquina em Limeira (SP) para a produção desse tipo de celulose, o que deve trazer um aumento de capacidade de 340 mil toneladas por ano em 2025. A unidade terá flexibilidade para operar tanto com a produção de celulose para papel quanto para fluff. 

Na prática, a companhia está dobrando a aposta num segmento no qual entrou de maneira praticamente piloto em 2016, com um investimento na fábrica de Suzano (SP), com capacidade de produção de 100 mil toneladas. 

O produto tem um prêmio de US$ 240 por tonelada sobre o soft, principal tipo de celulose produzido pela Suzano e que negocia hoje na casa dos US$ 530 por tonelada, disse Walter Schalka, CEO da companhia, a jornalistas em seu Investor Day. 

Hoje, 78% da oferta global de fluff vem de três fornecedores localizados na América do Norte. E a expectativa é de que a demanda passe dos atuais 4,2 milhões de toneladas no mundo em 2022 para 7,8 milhões de toneladas em 2027. 

A Suzano foi pioneira no desenvolvimento da celulose fluff à base de eucalipto, que resulta na chamada celulose de fibra curta. Hoje, o grosso  da produção é feito de celulose de fibra longa. 

“Houve questionamentos sobre o uso de fibra curta, que foram superados”, disse Leonardo Grimaldi, diretor executivo de celulose e logística da Suzano. “Estamos posicionados para ter um custo caixa de produção cada vez menor.”

Segundo a companhia, o projeto de Limeira poderá ser expandido para outras fábricas no Brasil – com ritmo ainda a ser definido. “O que podemos dizer é que o custo pós-conversão de máquinas aumenta ainda mais a nossa capacidade de estar no primeiro quartil de eficiência [para fluff]”, disse Grimaldi.

Retomada de preços e controle de custos 

No encontro com investidores, a Suzano sinalizou que está confiante na retomada dos preços da celulose para papel, seu principal produto. Depois de fazer o pico e chegar a mais de US$ 600, o preço da commodity chegou a US$ 500 — com estoques cheios em diferentes regiões — e vem melhorando gradualmente, ainda que de forma lenta. No terceiro trimestre deste ano, os preços ficaram em US$ 530 por tonelada, 3% acima das expectativas de analistas.

“Os estoques estão baixos na Europa e caindo na China. Minha percepção é de que o mercado está bem. Ainda não há muita clareza a respeito dos fatores geopolíticos, mas não vejo nenhuma razão de disrupção em curto prazo”, disse Schalka.

Nesse cenário, a companhia deve adicionar mais 700 mil toneladas de celulose de produção no quarto trimestre do ano que vem, com a conclusão do Projeto Cerrado — enquanto as principais concorrentes não têm iniciativas similares para serem colocadas em prática.  

Com a melhora nos preços da commodity, a Suzano voltou a entrar no radar dos investidores, recobrando recomendações de compra do sell-side. Segundo o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), a ação da companhia é a que passou a fazer mais parte do portfólio de investidores brasileiros nos últimos meses entre as produtoras de materiais básicos listados na bolsa. 

A Suzano vem apostando também no controle de custos. No terceiro trimestre, o custo de produção chegou a R$ 861 por tonelada produzida de celulose, ante R$ 937 no início deste ano. Para o quarto trimestre, é esperada uma queda de um dígito baixo no indicador. 

Os investimentos de R$ 520 numa caldeira de biomassa Aracruz, anunciado ontem, vão contribuir para reduzir o custo caixa e investimento em manutenção no futuro, disse o diretor operacional de celulose, Aires Galhardo. A companhia anunciou também um investimento de R$ 650 milhões para ampliar a produção de papel sanitário tissue na mesma unidade, com capacidade de 60 mil toneladas por ano. 

Outro ponto crucial para o controle de custos é o aumento das florestas próprias, para garantir matéria-prima a preços competitivos em meio ao descompasso entre a produção e consumo de madeira no mundo. De 2018 para cá, o preço da matéria-prima praticamente dobrou no Brasil. 

Até 2024, quando entra em produção a nova fábrica no Mato Grosso, a expectativa é passar para 1,7 milhão de hectares em florestas plantadas. Olhando mais para o médio prazo, os planos são de passar de um consumo de terceiros de 36% hoje para 13% entre 2029 e 2032.

A empresa também está trabalhando em aprimoramentos genéticos capazes de trazer mais produtividade e fazerem a madeira mais resistente a fenômenos climáticos

Por enquanto, os preços atuais da celulose ainda fazem peso no balanço da companhia. Mesmo com o controle de custos, o Ebitda caiu mais de 50% na comparação anual, para R$ 3,7 bilhões. 

A cifra, entretanto, surpreendeu analistas, que estimavam R$ 3,3 bilhões para o período. Além do aumento nos preços, a companhia mostrou custos menores do que o mercado estimava, o que reforçou as recomendações de compra para o papel. 

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