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A Netflix está atropelando os concorrentes. Ela vai passar no teste de Buffett?

Plataforma teve recorde de novos usuários e já vale mais que todos os principais rivais juntos; agora, está entrando forte no mantra da rentabilização

Netflix: plataforma adicionou 18,9 milhões de assinantes no último trimestre do ano (Jaque Silva/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)

Netflix: plataforma adicionou 18,9 milhões de assinantes no último trimestre do ano (Jaque Silva/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)

Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 17h01.

Última atualização em 23 de janeiro de 2025 às 18h09.

Tã-dãn (leu no ritmo da vinheta da Netflix?). Os resultados do quarto trimestre do ano passado, divulgados esta semana, mostraram porque a plataforma, além de pioneira, virou praticamente sinônimo de categoria no streaming.  

A empresa adicionou 18,9 milhões de assinantes no último trimestre do ano – um recorde, que supera com folga inclusive o período da pandemia, quando, em meio ao isolamento, maratonar séries era uma das principais distrações. Em 2020, a companhia chegou a adicionar quase 16 milhões de novos usuários.  

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O desempenho – quase o dobro das projeções – fez as ações dispararem após os resultados, somando uma alta de quase 10% à valorização de 60% em 12 meses. Agora, a Netflix rompeu a barreira de 300 milhões de assinantes, consolidando sua liderança. É muito acima dos 200 milhões de usuários do Prime Video  e quase duas vezes os 158,6 milhões da Disney+.  

Seu valor de mercado é maior do que os concorrentes Disney, Comcast e Warner somados e a empresa chegou à marca de US$ 420 bilhões – a posicionando entre as 20 companhias do S&P 500 que romperam a marca dos US$ 400 bi.  

A grande questão agora é: até onde vai chegar a Netflix?  

O número surpreendente de novos usuários veio num trimestre de grandes lançamentos – como a segunda temporada de "Round 6", cuja primeira temporada foi o maior sucesso da história da plataforma, a controversa luta de Mike Tyson, e a jogos de NFL que foram ao ar no Natal – o que levanta questões sobre sua sustentabilidade.  

O co-CEO Greg Peters tentou afastar os temores, dizendo na teleconferência sobre os resultados, que esses eventos responderam por uma “pequena parcela” de novos assinantes no período.  

Analistas de mercado também tem apontado a biblioteca de conteúdo e a capacidade de adicionar com consistência eventos que geram buzz como um todo como a fortaleza da companhia. O Jefferies foi nesta linha e aumentou seu preço-alvo de US$ 1000 para US$ 1200 por ação – potencial de valorização de 22% em relação aos patamares atuais.  

O JP Morgan foi na mesma linha e disse que a companhia está iniciando o “novo ano a todo vapor”, elevando sua projeção para os papéis em 12 meses de US$ 1000 para US$ 1150. Outros 16 analistas aumentaram suas estimativas de preço após o resultado, segundo a FactSet.

O calendário de estreias de 2025 inclui blockbusters como a última temporada de “Stranger Things”, a segunda de “Wandinha”, a quinta de “Emily em Paris” e a terceira de “Round 6”.

A onda do esporte 

A fórmula do sucesso não está atrelada só aos títulos já consolidados da plataforma, mas também às transmissões esportivas ao vivo.  

Os dois jogos da NFL, exibidos no dia 25 de dezembro, tiveram, cada um, audiência superior os 30 milhões de espectadores. A luta entre Jake Paul e Mike Tyson, mais de 108 milhões. A partir de janeiro, a Netflix também passou a transmitir semanalmente e ao vivo a "WWE Raw”, de luta livre, nos Estados Unidos. E adquiriu em conjunto os direitos de transmissão da Copa do Mundo Feminina da FIFA nos EUA para as edições de 2027 a 2031. 

"Os direitos esportivos podem ser incrivelmente caros e faz sentido que a Netflix tenha optado por eventos especiais. São perfeitos para atrair anunciantes interessados ​​em atingir um grande público", comentou Dan Coatsworth, analista da AJ Bell, à Reuters. 

É um consenso entre analistas que a empresa vai entrar ainda mais forte em outros grandes direitos esportivos em breve.  A NFL é um atrativo interessante, ainda que seus direitos de transmissão estejam longe do preço acessível. A transmissão global, entretanto, é um interessante para os assinantes 

No Brasil, sobram oportunidades para a transmissão dos jogos de futebol. A Liga Forte União (LFU), que inclui clubes como Corinthians, Vasco, Cruzeiro, Internacional, Fluminense e Botafogo, já distribuiu os direitos do Brasileirão para a Record TV, YouTube e para Prime Video, único streaming entre os players. Há uma quarta cota de transmissão que ainda não foi definida. 

O novo mantra 

Apesar da confiança no bom conteúdo da Netflix, acompanhar o ritmo de crescimento da base vai ficar mais difícil. Num movimento já amplamente antecipado, a companhia vai deixar de divulgar o indicador trimestralmente a partir deste ano – um movimento normalmente feito pelas empresas quanto essas métricas já não corroboram tanto a sua tese de crescimento.

A Apple, por exemplo, descontinuou sua divulgação de número de vendas em unidades em 2018, quando o negócio de iPhones atingiu sua maturidade.  

Com uma liderança inconteste e uma massa crítica muito maior, no entanto, é natural de se esperar que a adição de novos usuários não se repita na mesma proporção. O consenso de mercado hoje aponta para o aumento de 18,6 milhões de usuários por ano nos próximos três anos, menos que os 27 milhões dos últimos cinco.  

A Netflix vem argumentando que agora, mais do que o crescimento, está apostando na monetização – e está dando sinais contundentes nesse sentido. 

Logo em seguida ao resultado, anunciou um aumento de preços de 13% nos Estados Unidos, marcando a primeira vez que subirá o custo do plano de entrada com anúncios, de US$ 6,99 para US$ 7,99. 

Seu guidance para receita em 2025 aumentou, mesmo com a valorização do dólar, que reduz na moeda o faturamento fora dos Estados Unidos. A projeção para a margem operacional também é de um recorde de 29% – 10 pontos percentuais maior do que há cinco anos.  

Há algumas formas de fazer isso: continuar a ter bons conteúdos para atrair o consumidor e faturar mais ou com propaganda ou com assinaturas – ou os dois.  

Como bem lembrou a Barron’s, é um dos mantras de Warren Buffett: “Se você tem o poder de aumentar preços sem perder espaço para um concorrente, então tem um bom negócio.” 

A Netflix claramente acredita que vai passar no teste de Oráculo de Omaha. E, dado o histórico de entregas, o mercado está disposto a pagar para ver.  

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