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A Heineken vendeu menos no Brasil no 1º tri. Mas isso não é boa notícia para a Ambev

Analistas apontam uma performance fraca para toda a indústria no começo do ano, com volumes em queda e pressões de margem

Ambev: queda de volume da Heineken pode ser sinal de alerta (Divulgação/Heineken)

Ambev: queda de volume da Heineken pode ser sinal de alerta (Divulgação/Heineken)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 16 de abril de 2025 às 17h55.

A Heineken reportou hoje queda de ‘um dígito médio’ em volumes e também em receita no Brasil no primeiro trimestre, revertendo uma trajetória de crescimento justamente quanto está aumentando a aposta no país, com nova fábrica de Patos de Minas prestes a entrar em operação.

Mas essa não é necessariamente uma boa notícia para Ambev, apontam analistas.

“Mesmo que a Ambev tenha superado a concorrência, não devemos nos empolgar demais”, escreve a equipe do BTG (do mesmo grupo de controle da Exame), comandada por Thiago Duarte.

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Verificações de canais feitas pelo time do banco mostram que houve algum desalinhamento significativo entre os volumes de sell-in (venda a comerciantes) e sell-out (venda ao consumidor final), e que a Heineken pode estar indo melhor do que os volumes de sell-in indicam.

Já o time do Itaú BBA, liderado por Gustavo Troyano, observa que a queda de volumes da Heineken não deve se limitar ao grupo holandês e deve se estender a toda a indústria, indicando um momento mais complexo para o mercado cervejeiro como um todo.

“Ao analisar os resultados da Heineken, podemos observar um ambiente potencialmente mais lento do que o esperado para o mercado de cerveja no Brasil. Os dados de produção do IBGE para bebidas alcoólicas mostram uma queda de um dígito médio ano a ano em janeiro e fevereiro.”

O principal ponto de atenção está na queda da receita da dona da Heineken e da Amstel.

“Talvez a principal conclusão seja que a indústria está atravessando um período promocional. A Heineken e a Ambev parecem estar interrompendo quaisquer ganhos significativos de preços”, destaca o relatório do BTG.

A preocupação dos analistas dos dois bancos é que indicação é de nova pressão nas margens e menor lucratividade à frente. A indústria mostra sinais mais evidentes de saturação e maturidade, em um momento em que a maioria das fabricantes, incluindo aí também o Grupo Petrópolis (dona da Itaipava), parece mais focada em entregar volumes mais altos.

“O portfólio diversificado de marcas da empresa parece bem posicionado para competir com a Heineken e a Petrópolis, mas isso sozinho não justifica uma visão otimista da empresa neste momento”, escreve o time do BBA.

Na visão de Duarte e seu time do BTG, a nova estratégia da gestão de Carlos Lisboa na Ambev, centrada em revitalizar as marcas ‘core’, “pode limitar ainda mais o potencial de aumento de preços, o que deveria ser o principal motor do crescimento sustentável de lucros a longo prazo”.

Sem uma história de crescimento de lucro à frente, há poucos motivos para esperar (e brindar) um melhor momento da ação.

“Com uma relação de preço e lucro de 15x para 2025, a Ambev negocia com um desconto de 11% em relação aos pares globais, mas ainda achamos um preço demandante, dado o atual alto custo de capital e as perspectivas limitadas de crescimento”, avalia o BTG.

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