Heineken: Volumes subiram 8% a 9% no primeiro trimestre. acima do projetado para Ambev (Jack Andersen/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 25 de abril de 2024 às 16h12.
Última atualização em 25 de abril de 2024 às 16h46.
Na corrida pelo copo de cerveja do consumidor brasileiro, um terceiro colocado resolveu intensificar o ritmo – o que deve deixar o ambiente mais complexo da Ambev, líder de mercado (60% do volume), no curto prazo. Dona da Itaipava, a Petrópolis cortou preços para voltar a crescer em volume, depois de uma retração intensa durante a pandemia que acabou por levar a empresa à recuperação judicial.
"Vemos a Petrópolis realmente buscando participação de volume (...) e, na verdade, começando a reduzir preços na busca de crescimento de volume", afirmaram os diretores globais da Heineken na teleconferência de resultados da holandesa realizada ontem. Um de seus maiores mercados e principal alavanca de crescimento no primeiro trimestre, o Brasil centralizou a apresentação da companhia ao mercado.
No primeiro trimestre, a Heineken reportou um crecsimento de 8% a 9% no volume de cerveja no Brasil, número que pressiona a líder de mercado Ambev, para quem o setor espera uma evolução de volume de apenas 2,5%. A expectativa, agora, é pelos números de produção industrial de março do IBGE, que devem deixar claro como foi o trimestre para o segmento e sinalizar o desempenho da líder.
De acordo o CEO da Heineken, Dolf van den Brink, e sua equipe, o mercado estava apertado e os números da companhia vieram muito mais de um desempenho mais forte do sell in do que do sell out, que é a ponta onde está o consumidor.
Embora a direção da Ambev venha reforçando o discurso de busca de rentabilidade, a dificuldade de crescer e mesmo sustentar a longo prazo o patamar de volume de cerveja já é um ponto de atenção de analistas e investidores e pode ser um entrave para a recuperação das margens da empresa: a estratégia da Petrópolis é uma espécie de âncora para o aumento de preços — e mesmo para a manutenção dos preços atuais.
“À medida que o cenário competitivo se intensifica, a percepção é de que a Ambev está mais uma vez disposta a revidar. Vemos isso como uma estratégia vencedora a longo prazo, mas admitimos riscos de curto prazo, ainda mais num momento em que a recuperação da margem estava no cerne do momento operacional da Ambev”, escrevem Thiago Duarte e Henrique Brustolin, analista do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
Para os analistas, essa ofensiva da Petrópolis pode prejudicar as marcas principais da Ambev, que são a principal fonte de volume da empresa, como Brahma, enquanto a disputa com a Heineken também se intensifica. A equipe do Itaú BBA destaca que a performance da holandesa segue bastante forte no curto e médio prazo, enquanto as potenciais ameaças da Petrópolis ainda não foram superadas.
Em uma das aspas mais “ousadas”, nas palavras dos analistas do BTG, a direção da Heineken afirmou que “a Ambev está começando a reposicionar algumas de suas marcas para a parte inferior do ‘mainstream’, o que significa que está efetivamente intensificando a competição com a Amstel.".
O caso da Budweiser é um claro reposicionamento de marca. Antes classificado como premium, o rótulo passou a se aproximar dos preços dos rótulos ‘core plus’, que ocupam uma posição mais intermediária de preços.
Esse portfólio amplo de marcas é uma das fortalezas da Ambev e vai na contramão do que tem apostado a Heineken no país. “Uma de nossas principais preocupações em relação à posição da Heineken no Brasil é se uma estratégia de duas marcas, usando Heineken e Amstel, pode levá-la muito longe”, afirma a equipe do banco.
Segundo eles, os segmentos premium e mainstream superior, ou core plus, provavelmente requerem a construção de um portfólio completo de marcas que aborde um conjunto de pontos de preço, gostos e embalagens que atendam a diferentes ocasiões e necessidades. “Duas marcas só podem te levar até certo ponto”, argumentam. Esta abordagem, dizem eles, tem se mostrado benéfica até agora, mas ainda é preciso saber se há limites para o crescimento de Heineken no mercado premium com esse samba de duas notas só.