ETFs: Vanguard vem ganhando participação há 21 anos consecutivos (Pierre Buttin/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)
Bloomberg Businessweek
Publicado em 30 de dezembro de 2023 às 07h45.
Houve um tempo em que os líderes nas principais áreas dos serviços financeiros podiam contar com a manutenção do seu domínio com alguma facilidade. Mas agora o mercado de US$ 7,8 trilhões de ETFs (fundos negociados em bolsa) dos Estados Unidos está caminhando para uma nova ordem, com a liderança da BlackRock por um fio, à medida em que a Vanguard avança.
É uma reviravolta em curso há duas décadas: desde o seu pico de cerca de 60% em 2006, a BlackRock viu sua quota de mercado de ETFs cair para 32,5%, o nível mais baixo desde 2001. Embora ainda seja o maior entre todos os emissores dos EUA, a Vanguard conseguiu aumentar sua participação por 21 anos consecutivos e tem hoje 29,5% dos ativos de ETFs, segundo levantamento feito pela Bloomberg.
O crescimento ininterrupto da Vanguard desde 2002 está enraizado na estrutura empresarial única da empresa sediada em Valley Forge, Pensilvânia: os investidores dos fundos elegem os membros do seu conselho, que normalmente canalizam dinheiro extra ou ativos gerados pelos seus produtos para reduzir taxas.
Essa configuração permitiu à Vanguard cobrar quase nada dos clientes em sua linha de ETFs amplamente passivos, sugando centenas de bilhões de dólares em entradas por ano e alimentando uma guerra de taxas quase contínua à medida que grandes e pequenos emissores reduzem custos para competir.
Como resultado, a Vanguard atraiu um segmento de consultores financeiros e investidores de varejo, que tendem a juntar dinheiro de forma constante em praticamente todos os ciclos de mercado e aumentaram os seus ativos de ETFs dos EUA para quase US$ 2,3 trilhões.
“Eles têm um nível de fidelidade com os consultores financeiros que é bastante raro”, diz Deborah Fuhr, cofundadora da consultoria de pesquisas, ETFGI. “As pessoas gostam do ethos da Vanguard: ‘Administramos fundos para cobrir custos e não para ganhar dinheiro’. Eles sempre partem do ponto de vista dos investidores finais”.
É uma base de clientes diferente da BlackRock, com sede em Nova York, que reinou como o maior emissor de ETFs desde 2003. A gigante da gestão de ativos controla cerca de US$ 2,5 trilhões em mais de 400 ETFs, quase todos produtos iShares, contra a estável Vanguard de apenas 83 ETFs, como mostram dados da Bloomberg.
A extensa linha da BlackRock é popular entre traders institucionais e gestores profissionais de dinheiro, dada a profunda liquidez e facilidade de negociação dos ETFs. Por exemplo, fundos como o ETF iShares 20+ Year Treasury Bond, de US$ 47 bilhões, e o ETF iShares iBoxx High Yield Corporate Bond, de US$ 18 bilhõe,s são valorizados como ferramentas de negociação, não como veículos de investimento para se manter em carteira, de acordo com Ben Johnson, chefe de soluções para clientes na Morningstar.
“Diferentes porções da linha de iShares atendem a um público diferente, e muitos deles criaram uma categoria própria como instrumentos do mercado de capitais”, diz Johnson. “A volatilidade dos fluxos desses fundos diz respeito a um conjunto muito diferente de usuários e casos de uso”.
As ofertas mais comuns da Vanguard abocanharam quase US$ 137 bilhões em 2023 até o início de dezembro, a caminho de reivindicar o primeiro lugar na tabela de entrada de fluxo pelo quarto ano consecutivo. A BlackRock arrecadou cerca de US$ 80 bilhões no mesmo período, ficando em segundo lugar pelo mesmo período.
“Os iShares oferecem uma inovadora e abrangente plataforma de produtos para qualquer tipo de investidor em qualquer tipo de ambiente de mercado”, disse Dominik Rohe, diretor da ETFs das Américas e negócios de investimentos em índices da BlackRock, em um comunicado por e-mail.
A concorrência está se acirrando para ambos os gigantes. A crescente popularidade dos ETFs geridos ativamente beneficiou empresas como a Dimensional Fund Advisors e a asset do JPMorgan. E embora a BlackRock e a Vanguard ainda constituam a maior parte de todos os ativos de ETFs, 45% do novo dinheiro que flui para o segmento este ano foi para emitentes fora dos dois gigantes.
No entanto, com a incansável ascensão da Vanguard, parece quase inevitável que a empresa venha a ocupar o primeiro lugar em breve. O abismo de US$ 200 a US$ 300 bilhões entre os dois concorrentes em ETFs provavelmente só será superado depois de 2024, diz Johnson.
Athanasios Psarofagis, da Bloomberg Intelligence, diz que é possível que a Vanguard possa destronar a BlackRock no próximo ano, mas há pelo menos dois coringas.
“A BlackRock pode ganhar algum tempo com duas coisas: títulos e Bitcoins”, diz ele. “A BlackRock ainda tem cerca de 40% de participação em renda fixa, enquanto a Vanguard tem cerca de 25%, e uma linha bem mais diversificada. Além disso, o Bitcoin ETF, se for aprovado, tenho certeza de que a BlackRock investirá uma quantia muito boa – provavelmente alguns bilhões de dólares – em seu produto, e essa é definitivamente uma área que a Vanguard não tocará.”
A BlackRock deu início a um rally em criptomoedas depois de apresentar um pedido em junho para um Bitcoin ETF apoiado por participações físicas – uma estrutura que os reguladores dos EUA negaram repetidamente. A Bloomberg Intelligence estima um mercado potencial de US$ 100 bilhões em ETFs de Bitcoin caso a Securities and Exchange Commission aprove a atual onda de produtos.
De qualquer maneira, a Vanguard não está preocupada. Ela “não tem intenção” de oferecer produtos de cripto, de acordo com um porta-voz da empresa, porque o cenário de investimentos para criptomoedas é fraco e sua alta volatilidade vai contra o objetivo da Vanguard de retornos positivos de longo prazo para seus clientes.
“A Vanguard não está focada em quem está no topo das tabelas de classificação dos ETFs”, disse o porta-voz, Michael Nolan, em comunicado enviado por e-mail. “Em vez disso, estamos focados em oferecer investimentos e consultoria que ajudem nossos clientes a serem bem sucedidos em seus investimentos”.