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A alta da Petrobras e a nova (velha?) política de preços da companhia

Para fontes que acompanham o papel, mudança anunciada deve representar pouco impacto em rentabilidade - mas ainda há muito a decidir

 (SOPA Images/Getty Images)

(SOPA Images/Getty Images)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 16 de maio de 2023 às 19h13.

Última atualização em 16 de maio de 2023 às 19h47.

As ações da Petrobras fecharam em alta de 2,49% (PETR4) e de 2,24% (PETR3) nesta terça-feira, após o anúncio da nova política de preços da companhia. A razão para o otimismo, segundo fontes que acompanham o papel ouvidas pelo EXAME In, tem a ver com o anúncio significar uma nova roupagem para a velha política adotada pela empresa. Ainda que muitas ressalvas tenham ficado em relação ao futuro da companhia. 

Nesta manhã, a Petrobras soltou uma nota ao mercado afirmando que, em vez de atrelar seu preço final somente ao preço de paridade de importação, a companhia vai manter o preço internacional como referência e vai acrescentar dois novos fatores a essa conta: o custo de produção da empresa e o chamado "custo de oportunidade" dos clientes. A companhia não foi além desses termos nem mesmo na coletiva de imprensa. Ou seja: a informação disponível até agora é a de que a conta ficou mais complexa, mas ainda sem saber exatamente o peso de cada critério no preço final.

Mesmo assim, o novo 'combo' animou os investidores, na medida em que foi visto por alguns como uma tentativa de a empresa ganhar market share praticando preços menores, o que implica alguma redução de margem — mas tira do radar, pelo menos por enquanto, a necessidade de subsídios.

O otimismo do dia com a mensagem se tornou mais completo a partir da coletiva realizada na hora do almoço, na qual Jean Paul Prates, CEO da Petrobras, apontou níveis de reajuste dos combustíveis em linha com o que já era esperado. Nas contas de quem acompanha o setor e o papel, a redução veio dentro do intervalo possível a partir da conta original — a de 100% de paridade de importação — o que reforçou o viés de busca de rentabilidade mesmo em meio à nova estrutura.

Uma fonte próxima à companhia, ouvida pelo EXAME In, afirmou que não se trata de coincidência. Mais do que isso: os reajustes ditos nesta terça-feira já haviam sido decididos pela companhia na semana passada, em discussões que não tinham a ver com a mudança na fórmula de precificação da companhia.

As dúvidas que permanecem

O movimento anunciado pelo governo nesta terça-feira vem em meio a um ambiente favorável, de queda, nos preços do petróleo internacional (medido pela Abicon) e de câmbio. O teste para valer virá mesmo quando a empresa precisar seguir um possível aumento de preços do petróleo daqui para a frente. "Se viesse algo mais elaborado, do tipo 'hoje a Petrobras está operando com X% de defasagem, vamos montar um fundo para que os preços acompanhem a paridade' seria uma coisa, mas não foi o que a gente viu", diz uma fonte que acompanha o papel.

Explicando melhor essa história, hoje, 70% da produção da Petrobras é feita de forma totalmente nacional e os demais 30% são atendidos via importação. Enquanto a companhia tem custos em reais para a maior parte da produção, eliminar a PPI do jogo coloca em risco o papel da companhia diante do mercado internacional. Leia-se: a Petrobras pode ter a maior parte da produção no Brasil, mas, se vender preços muito abaixo dos internacionais, nada impede que empresas locais comprem da Petrobras para exportarem com lucro -- ainda que esse seja um cenário extremo.

Isso sem falar no passado negativo sobre a era pré-paridade internacional de importação. Como o EXAME In mostrou em 2021, a política de contenção de preço dos combustíveis da era Dilma Rousseff (PT) acumulou R$ 100 bilhões em perdas, de acordo com dados divulgados em 2015. O cálculo inclui o que a companhia deixou de ganhar e o que gastou a mais em despesa financeira, fruto da ausência de paridade do combustível com os preços internacionais.

Por enquanto, diante da falta de uma fórmula clara e da frequência ainda não divulgada dos reajustes de preços — somada à falta de clareza sobre a nova política de dividendos — os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Bruno Lima, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) mantiveram a recomendação neutra para os papéis.

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