Trump x Xi: Na queda de braço, China tem mais poder de barganha com outras nações, diz Gavekal (Imagem gerada com auxílio de Inteligência Artificial)
Editora do EXAME IN
Publicado em 11 de abril de 2025 às 06h35.
Última atualização em 11 de abril de 2025 às 13h32.
Primeiro foi 50% no dia 2 de abril, depois 84%, 125% na quarta – que ontem viraram 145%. Os últimos dias vêm marcado por uma escalada nas tarifas impostas pelos Estados Unidos à China, num toma-lá-dá-cá que parece sublinhar a tensão crescente entre as duas potências.
A essa altura, contudo, as tarifas extras têm muito pouco significado prático, afirma a equipe da consultoria Gavekal.
“O comércio entre as duas nações já morreu de qualquer forma quando as tarifas à China excederam os 50% do Liberation Day”, afirma o fundador Louis-Vicent Gave em relatório.
“Nesse ponto, precisamos assumir que a relação comercial entre os Estados Unidos e a China está essencialmente morta, e nenhum dos lados tem um incentivo político para reviver o corpo em decomposição.”
Daqui para frente, no ambiente de guerra deflagrada, o que realmente importa na queda de braço, segundo o economista, é se os Estados Unidos vão conseguir fechar acordo com outras economias que tenham como contrapartida restrições contra Pequim.
Ele não está otimista com o poder de barganha de Trump nesse sentido.
“Mesmo assumindo que outros países confiem em Trump o suficiente para fechar um acordo (improvável?) e que eles queiram reduzir seu engajamento com a China (a maioria não quer, ou eles já o teriam feito), a administração de Trump realmente tem uma diplomacia capaz de fazer as negociações? Depois da última semana, isso parece uma suposição heróica”, diz Gave, um profundo entendedor das entranhas da economia do gigante asiático.
Na sua visão, se os países foram convidados a escolher entre a China e os Estados Unidos, é possível que optem pela primeira, que já começou a fazer um caminhão de estímulos para compensar o baque das tarifas, do que o mercado americano, que provavelmente vai estar entrando em recessão.
“Esse vai o caso especialmente se a China começar a se organizar e começar a oferecer negócios melhores do que os Estados Unidos podem oferecer”, afirma o economista.
“Enquanto os Estados Unidos conseguem oferecer menores tarifas, a China pode oferecer maior acesso ao mercado, mais gastos de infraestrutura, empréstimos preferenciais e um rol bem mais amplo de benesses.”
Na avaliação da Gavekal, o cenário mais provável por enquanto é que a maior parte dos países opte pela discrição e não queira comprar lados.
O tamanho do baque para cada uma das economias ainda não está claro. Nas contas da consultoria, o PIB chinês deve sofrer uma queda de 1% a 2% com a perda das exportações para os Estados Unidos – mas pode compensá-lo dando um gás nos estímulos à economia doméstica, o que já está em curso.
A recessão nos Estados Unidos, por sua vez, já está contratada, seja pelo aumento dos preços seja pela disrupção absurda na cadeia de fornecimento que virá com o bloqueio aos bens chineses.
“Imagine um Quatro de Julho sem fogos de artifício ou com as prateleiras vazias no Walmart”, exemplifica.
O tamanho da recessão e a capacidade do governo reagir ao depender do mercado de bonds – no qual os juros vem subindo por conta em grande parte da perda de confiança na condução da política econômica dos Estados Unidos.
“O custo maior de rolar a quantidade recorde de dívida emitida em 2020 e 2021 significa uma probabilidade menor de investimentos na economia por parte do governo e desemprego maior”, diz Gave.
Resumindo: a guerra entre os dois países está deflagrada e as consequências para a economia mundial e para os mercados financeiros são imprevisíveis. No fim das contas, como mostrou a queda nos mercados de no dia de ontem, a trégua anunciada por Trump na quarta-feira está longe de colocar um fim nesses tempos sombrios.