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3R Petroleum fará IPO de R$ 800 milhões após vitória em debate na CVM

Plano da companhia é ser consolidadora na exploração de campos maduros em terra e em águas rasas

Baía de Guanabara: Petrobras vende campos em águas rasas para se concentrar na exploração em áreas ultraprofundas (Germano Lüders/Exame)

Baía de Guanabara: Petrobras vende campos em águas rasas para se concentrar na exploração em áreas ultraprofundas (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 07h09.

Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 14h23.

A 3R Petroleum conseguiu o direito de seguir em paz com sua oferta pública inicial de ações.  O plano da companhia é levantar 800 milhões de reais para colocar em marcha o projeto de ser mais do que uma empresa de exploração de campos maduros de petróleo e gás em terra (onshore) e em águas rasas (shallow water): ser a empresa consolidadora desse segmento. O nome vem das três atividades-chave para sua atuação, quase um slogan: redesenvolver, revitalizar e repensar.

A oferta já está na rua e a previsão é que a fixação do preço ocorra em 9 de novembro. O intervalo sugerido para as ações na estreia é de 24,50 reais a 31,50 reais. Mas foi por pouco. Quem garantiu a tentativa do primeiro IPO no setor de petróleo desde 2011 foi o colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A área técnica da autarquia queria barrar a operação, tanto a superintendência de registro como a de relações com empresas. Ambas alegavam que a companhia não estava cumprindo o requisito da legislação de apresentar sua situação patrimonial de forma adequada, por apresentar apenas balanços pro-forma para o período encerrado em junho.

Ocorre que a 3R Petroleum que será listada na bolsa ainda não existe. A companhia, se a captação for bem-sucedida, será resultado de uma reorganização societária para unir os ativos da 3R e da Ouro Preto, o que levará a uma reorganização dos acionistas. Sendo assim, não há ainda um balanço unificado. O requisito da área técnica era, portanto, impossível de ser atendido tal qual desejado.

O colegiado da CVM encerrou a questão e ressaltou ser função do mercado de capitais financiar a atividade produtiva e a expansão dos negócios. “É natural que certos negócios, nomeadamente aqueles que demandam recursos expressivos para sua conclusão ou desenvolvimento, sejam condicionados à conclusão bem-sucedida de uma oferta pública de distribuição de valores mobiliários. É natural, portanto, que a companhia emissora passe por alterações relevantes durante ou imediatamente após a oferta." Na visão do Colegiado, essa situação "não deve ser empecilho para que companhias acessem o mercado.”

As reservas provadas mais as contingentes da companhia são estimadas entre 593 milhões de dólares e 996 milhões de dólares, quando incluídas no cálculo as prováveis e as possíveis também. O plano é usar mais da metade do dinheiro obtido com a oferta para adquirir novos ativos da Petrobras. A estatal tem se desfeito das operações que são foco da 3R para se dedicar à exploração em áreas profundas e ultraprofundas.

No prospecto da oferta, a empresa destaca que a Petrobras ainda é dona de quase 75% da produção de óleo e gás em terra no país e que já reiterou que manterá seu plano de desinvestimento acelerado ao longo dos próximos anos.

Campos maduros são aqueles que, após atingirem o pico de produção, estão com a produção em declínio. Há uma série de técnicas disponíveis para empresas estenderem a vida produtiva com vazão estável desses pontos. A consultoria americana IHS Cambridge Energy Research Associates estima que cerca de dois terços da produção diária de petróleo do mundo venha de campos maduros. De acordo com artigo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) publicado no fim de 2019, somente a revitalização na Bacia de Campos pode render investimentos de 12 bilhões de dólares nos próximos 20 anos, o que poderia elevar o fator de recuperação da bacia de 14% para 45%.

A 3R Petroleum vem com um time de sócios financeiros estrelados e de gestores do setor. É controlada por fundos geridos pela Starboard, a butique financeira especializada em recuperação de ativos estressados, e tem na sociedade ainda o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), a XP Investimentos e DBO Energia, que reúne executivos brasileiros e noruegueses do setor e tem entre os acionistas a centenária empresa alemã de energia RWE.

 

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