Sírio-Libanês: o hospital trabalhou ao lado da startup para desenvolver a inteligência artificial do Command Center (Breno Rota/VEJA)
Carolina Ingizza
Publicado em 5 de julho de 2021 às 17h00.
Última atualização em 5 de julho de 2021 às 17h48.
Um dos maiores desafios da gestão de saúde é saber o que está acontecendo em cada uma das áreas do hospital. Ao mesmo tempo, pode haver pacientes entrando no pronto-socorro, saindo de cirurgias, sendo encaminhados para a UTI ou tendo alta. Saber em que estágio cada um deles está é fundamental para que os administradores possam gerir as equipes e os suprimentos da melhor forma possível, mas não é uma tarefa simples.
Para atacar esse problema no Sírio-Libanês, hospital de referência da cidade de São Paulo, a diretora de capacidade e operações Rute Freitas foi buscar a ajuda de uma startup especializada em tecnologia para a saúde: a 3778.
Fundada há três anos pelo médico Guilherme Salgado, a 3778 nasceu para aplicar ciência de dados no mercado de saúde brasileiro. Com apoio de investidores como Randal Zanetti, criador da Odontoprev, e da gestora de investimentos UV e a LTS Investments, do trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, a 3778 já atende mais de 1,3 milhão de pessoas no país e faturou R$ 200 milhões no ano passado.
A empresa se especializou na gestão de dados e no conhecimento do histórico dos pacientes. Com isso, pode, por exemplo, recomendar uma cirurgia imprescindível ou brecar um exame desnecessário. "O hospital ganha mais quanto mais doentes as pessoas ficam, e os planos ganham mais se as pessoas usarem pouco o serviço. Nós ficamos no meio do caminho, e temos a independência como pilar", afirma Salgado.
Rute Freitas encontrou a 3778 em 2019, enquanto buscava soluções para a gestão de leitos do Sírio-Libanês. Na época, Salgado e sua equipe apresentaram ao hospital um projeto de saúde corporativa que usava também dados e modelos preditivos. Ao ouvir sobre a capacidade de desenvolvimento tecnológico da startup, a gestora propôs a Salgado o desafio de desenvolver do zero um modelo de gestão de capacidade hospitalar personalizado para o hospital.
“Existem alguns programas ERPs tradicionais usados na saúde, mas eles não traziam as informações estruturadas para a tomada de decisão em tempo real que precisávamos”, diz Freitas ao EXAME IN.
Juntos, o hospital e a startup desenvolveram o Command Center, uma ferramenta que hoje ajuda o Sírio-Libanês na gestão de leitos — um problema que foi agravado com a pandemia de covid-19. O sistema foi desenhado para informar em tempo real o estado de cada leito do hospital, informando se está ocupado, vazio ou se precisa de limpeza e arrumação.
Usando dados do próprio Sírio-Libanês sobre a gestão, a startup criou uma inteligência artificial capaz de hierarquizar as informações e sinalizar para gestão quais pontos precisam de atenção imediata. “Muitas ferramentas do mercado são descritivas, olham para trás e informam sobre o que aconteceu. O desafio foi que, no caso do Sírio, eles precisavam de dados em tempo real para poder tomar decisões”, diz Salgado. Depois da implementação do sistema, o tempo de espera por um leito no pronto-socorro caiu 20% e o intervalo de tempo entre a alta e a saída do paciente do hospital caiu 23%.
A tecnologia do Command Center também consegue perceber padrões e criar modelos preditivos para as internações. Assim, quando um paciente chega, os gestores têm uma noção mais exata de quanto tempo deve durar a internação e podem planejar os recursos e processos das áreas de assistência, hotelaria, manutenção e administração. No começo da pandemia, essa função preditiva passou a monitorar o número de casos no município e no estado, ajudando o hospital a prever a ocupação de seus leitos de UTI com até 15 dias de antecedência.
Com o sucesso na gestão de leitos, o Sírio-Libanês trabalha ao lado da 3778 para desenvolvimento de plataformas similares para a área de exames, o centro cirúrgico e os ambulatórios. Ao mesmo tempo, a startup tem levado seus aprendizados com o Command Center para outros clientes. “Não necessariamente o que atende o Sírio vai atender outros hospitais, nem todos precisam desse nível de complexidade, mas vamos adaptando para os diferentes níveis de maturidade dos hospitais”, diz Salgado.
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