O Kansas City é o primeiro clube do mundo a ter uma arena própria, onde poderá mandar suas partidas (Kansas City Current/Divulgação)
Repórter da Home e Esportes
Publicado em 24 de março de 2024 às 08h00.
Última atualização em 24 de março de 2024 às 08h46.
O confronto do último sábado, 16, entre Kansas City Current e Portland Thorns, pela rodada de estreia da liga estadunidense de futebol feminino (NWSL), foi histórico para a modalidade. A partida, que contou com gol da atacante brasileira Bia Zaneratto e terminou em 5 a 4 para o Kansas, marcou a inauguração do primeiro estádio construído especificamente para um time feminino profissional.
O Kansas City é o primeiro clube do mundo a ter uma arena própria, onde poderá mandar suas partidas. O projeto pode ajudar a mudar os rumos do futebol feminino e tem chamado a atenção não somente pelo ineditismo, mas também pela adesão dos torcedores: na atual temporada, todos os ingressos para os jogos da equipe na nova casa já estão esgotados.
Localizado na cidade de Kansas, no estado do Missouri, o estádio tem capacidade para 11 mil pessoas, com a possibilidade de ser ampliado no futuro, e possui um total de 310 bares e restaurantes. A arena custou, aproximadamente, US$ 117 milhões (cerca de R$ 580 milhões) e ainda conta com uma loja oficial com produtos da equipe feminina. Todos os recursos utilizados na construção vieram da iniciativa privada, segundo os proprietários do time.
Além do estádio, o clube ainda trabalhou na construção de um novo centro de treinamento, que custou cerca de US$ 15 milhões (R$ 75 milhões). Estes investimentos em infraestrutura buscam potencializar o rendimento esportivo da equipe, que além de Bia Zaneratto, atualmente conta com outras duas brasileiras no elenco: a zagueira Lauren e a atacante Debinha. O trio defendeu a Seleção Brasileira na última Copa do Mundo.
Em sua primeira temporada na liga americana, o Kansas City costumava mandar seus jogos em um estádio originalmente voltado para o baseball. Fundado em 2021, o clube já utilizou até mesmo o estádio time masculino da cidade. Situações como essas são bem mais comuns do que deveriam no futebol feminino e costumam gerar complicações às equipes.
De acordo com Fábio Wolff, membro do comitê organizador da Brasil Ladies Cup e sócio-diretor da Wolff Sports, a construção de um estádio voltado exclusivamente para o futebol feminino é um avanço que pode angariar novas oportunidades para a modalidade.
“O projeto de estádio próprio do Kansas City é algo muito significativo. Com todos os ingressos para a temporada já vendidos, observa-se o potencial que o futebol feminino possui, especialmente nos Estados Unidos, uma importante praça da modalidade. Esse movimento pioneiro pode desencadear uma série de outros avanços e deve ser visto como exemplo a ser seguido em outros locais do mundo, como no Brasil por exemplo”, explica Wolff.
Segundo Flávia Magalhães, médica especialista em gestão de saúde e performance de atletas e uma das mulheres pioneiras na medicina esportiva do país, o futebol ainda é um meio muito desigual e ações como essa podem contribuir para reverter este cenário.
“Ainda existem muitas desigualdades no esporte como um todo e no futebol isso é ainda mais evidente. Apesar de ainda ser um ambiente predominantemente masculino, isso tem se alterado. Há poucos anos, um estádio próprio para uma equipe feminina era algo inimaginável. Essa é uma grande conquista para todos nós que desejamos ver o futebol feminino forte e com condições cada vez melhores para as atletas desempenharem”, afirma Flávia, que possui mais de 20 anos de experiência no futebol e trabalhou em clubes como Atlético e América-MG e também prestou serviços para CBF e Conmebol.
“Com um projeto grandioso como este, o clube demonstra que está realmente preocupado em fornecer boas condições para as atletas e tratar a modalidade com o devido profissionalismo. Receber todos os jogos da temporada com casa cheia evidencia um trabalho eficiente e atrativo. A torcida é o principal patrimônio de um clube e essa parceria e aproximação com o torcedor é essencial. Além disso, com todos os ingressos vendidos, o Kansas terá uma nova linha de receita recorrente garantida para a temporada, que a maioria das demais equipes femininas não possuem”, analisa Camila Estefano, gerente do Em Busca de Uma Estrela, projeto que oferece oportunidades dentro e fora das quatro linhas para meninas que sonham em jogar futebol profissional.