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Sem progresso com 'vaquinha', Corinthians quer deixar de pagar Selic e busca o IPCA

Especialistas, no entanto, elogiam valores expressivos obtidos com a campanha

Arena do Timão foi a primeira do Brasil a receber dois jogos da NFL (Luiza Vilela/Exame)

Arena do Timão foi a primeira do Brasil a receber dois jogos da NFL (Luiza Vilela/Exame)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 05h59.

A arrecadação financeira para quitar o pagamento das dívidas relacionadas à Neo Química Arena, estádio do Corinthians, estacionou na casa dos R$ 40 milhões - R$ 40.984.293 para ser mais exato.

Ao longo desses 10 meses de campanha, o valor representa menos de 6% do objetivo. Faltam R$ 659.060.973,04 para a meta ser alcançada. O valor total da dívida é de R$ 700 milhões.

Idealizada pela principal torcida organizada do clube, a Gaviões da Fiel, em parceria com a própria diretoria do Corinthians e representantes da Caixa Econômica, a previsão inicial é que a campanha de arrecadação funcionasse até maio deste ano, mas foi prorrogada até dezembro por não ter chegado ao objetivo final.

No início, com a ajuda e exposição de patrocinadores, músicos, artistas e influencers, parecia que a arrecadação deslancharia; foram quase R$ 8 milhões doados nas primeiras 24 horas, e mais de R$ 33 milhões no primeiro mês. A partir de janeiro, no entanto, a campanha esfriou, com uma média de pouco mais de R$ 2 milhões nos meses seguintes, chegando aos R$ 40,3 milhões em maio.

Essas contribuições têm sido feitas exclusivamente por uma conta criada pela Caixa Econômica, pelo site doearenacorinthians.com.br, com doação mínima no valor de R$ 10. Até então, foram pagos mais de 80 boletos.

Menos juros

Sem resultados com a vaquinha, o Corinthians procurou a Caixa no final de setembro com a intenção de diminuir dos pela quitação da Arena. O objetivo é diminuir a taxa pela metade. Hoje, o cálculo é baseado na Selic (em 15%) + 2%, chegando a um total de 17%. O Corinthians vai pedir para essa taxa ser baseada no IPCA - analistas ouvidos pelo Banco Central na última semana para o Boletim Focus reduziram as projeções do IPCA de 4,83% para 4,81%, trazendo a taxa paga pelo Timão para a casa dos 9%. A proposta será apresentada nos próximos dias

“Na base deste pedido de troca de indicadores que reajustam a dívida, existe uma expectativa de que a diferença entre o IPCA e a taxa Selic fique do tamanho que está hoje. A taxa Selic, por exemplo, está num dos níveis mais altos da história e, se você projetar que mais para frente continuará desse jeito e que o IPCA se manterá nos níveis atuais ou até melhore, pode valer a pena para o Corinthians essa troca, ao longo do tempo. Mas se trata de uma aposta, até porque essa é uma renegociação de longo prazo, entre o clube e a Caixa. Pode ser que daqui a cinco anos as curvas se invertam, sendo necessário iniciar uma nova renegociação", afirma Moises Assayag, sócio-diretor da Channel Associados e especialista em finanças no esporte.

Escândalos "esfriaram" campanha

Para especialistas em gestão e marketing esportivo, notícias envolvendo escândalos, sobretudo os mais recentes ligados ao ex-presidente Augusto Melo, afastado do cargo em razão de denúncias de corrupção envolvendo o ex-patrocinador, a Vai de Bet, podem ter "esfriado" a campanha, que mesmo assim não deve ser considerada um fracasso.

"Acredito que tenham sido ótimos números, mesmo sem alcançar o valor total almejado. Para ter uma análise mais criteriosa, quantas campanhas pontuais de esporte no país já arrecadaram cifras iguais? Este, sim, é um indicador comparativo. Agora é entender como reaquecer a campanha após crises institucionais para que o torcedor continue abraçando o projeto", aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

“Os resultados em si são expressivos pelo valor obtido e sem precedentes no futebol brasileiro, representando um considerável alívio da dívida, ainda que a percepção de sucesso ou fracasso derive da expectativa de quitação total da dívida”, acrescenta Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.

“O valor arrecadado até o momento é expressivo, ou seja, demonstra o engajamento, comprometimento e a força de muitos torcedores corintianos com o projeto”, diz Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.

Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, no entanto, ideias como essas surgem em ambientes nos quais não se conhece como brasileiros se relacionam com o futebol e os clubes.

"Nem 5% dos que se dizem torcedores de um clube estão dispostos a fazer uma doação em prol de um clube, e já vimos dezenas de exemplos disso ao longo das últimas três décadas. Muitos ainda seguem confundindo simpatizantes, torcedores e potenciais sócios. Qualquer campanha que arrecada um de cada R$ 20 esperados é um fracasso, e essa, só reforçou algo comum a todos os nossos clubes, que é sua enorme exposição midiática, sem qualquer lastro com sua relevância econômica", analisa.

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