Redação Exame
Publicado em 30 de maio de 2025 às 08h52.
Com o Santos iniciando o processo de transformação em Sociedade Anônima de Futebol (SAF), o pai de Neymar falou publicamente pela primeira vez sobre a possibilidade de compra do clube.
Em entrevista na zona mista do estádio municipal Cícero de Souza Marques, em Bragança Paulista, ele destacou que acredita na SAF apenas se houver uma gestão profissional e organizada, segundo o Globo Esporte.
“Eu não acredito em SAF. A SAF, se for uma administração organizada e profissional, eu acredito. Não só para trazer investidor”, afirmou.
Segundo o empresário, no Brasil o investidor que entra em uma SAF busca recuperar o dinheiro investido a curto prazo. “Na Europa, o cara que entra investindo só quer posicionamento, não precisa do dinheiro de volta. Ele se posiciona para escalonar as coisas. Aqui no Brasil, o cara que colocar dinheiro precisa recuperar sua receita. E isso precisa ser a curto prazo. Ninguém vai sair rasgando dinheiro se não tiver retorno", disse ele.
Ainda segundo ele, “se o Santos virar SAF, mas tiver um ambiente profissional para que tenha uma gerência profissional, aí eu acredito.” O pai do jogador não respondeu diretamente se tem interesse em adquirir a SAF do Santos.
O pai de Neymar também ressaltou a parceria com o presidente Marcelo Teixeira como um dos benefícios do possível retorno do craque ao clube, em um projeto paralelo à recuperação física do jogador.
“O segundo projeto sou eu, na minha pessoa física e da NR Sports, ajudar o Santos, junto ao Marcelo Teixeira, para reestruturar o clube. Tenho certeza de que isso já está renovado e vou ficar com o Marcelo até conseguirmos resolver. Mas o Neymar, a decisão vai depender dele.”
O Santos enfrenta dificuldades financeiras, com dívida total de R$ 977,04 milhões em 2024. Para tentar superar o cenário, o clube iniciou o processo de transformação em SAF, contratando uma corretora para avaliar o valor do clube e apresentar potenciais compradores.
No intervalo do amistoso contra o RB Leipzig, Neymar afirmou que ainda não decidiu se renovará o contrato, válido até 30 de junho, e que só definirá após 12 de junho, data do último jogo antes da pausa para a Copa do Mundo de Clubes.
O pai do jogador, por sua vez, questionou se o Santos terá condições de manter o craque por mais tempo.
A criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) representou uma grande mudança para os clubes de futebol no Brasil.
Sancionada pela Lei nº 14.193, em agosto de 2021, a nova estrutura permite que os tradicionais clubes de futebol, antes organizados como associações civis sem fins lucrativos, se tornem empresas, possibilitando o acesso a novos modelos de governança e fontes de investimento.
Essa mudança tem o potencial de redefinir o futuro do esporte no país, profissionalizando a gestão e atraindo investidores dispostos a revitalizar as finanças e as competições.
A proposta inicial da SAF foi pensada já em 2018, com a colaboração de conselheiros do Botafogo, e, depois de três anos de elaboração, foi aprovada pelo Congresso. A transformação de clubes como o Cruzeiro, que se tornou o primeiro a aderir ao modelo em dezembro de 2021, e posteriormente o Botafogo, Vasco e Bahia, mostra a adesão crescente a essa nova abordagem.
A proposta não só oferece uma oportunidade para profissionalizar a gestão, mas também para atrair investimentos externos e dar maior transparência à administração, algo que até então era um desafio no Brasil.
A transição para a Sociedade Anônima do Futebol traz uma série de benefícios que vão além da simples reestruturação financeira. Entre as vantagens estruturais, destaca-se a profissionalização da gestão.
Ao se transformar em empresas, os clubes ganham uma estrutura organizacional mais eficiente, com processos decisórios mais claros e a possibilidade de contratação de profissionais especializados. Isso proporciona uma gestão mais estratégica, focada em resultados financeiros sustentáveis e na competitividade esportiva.
Outro benefício significativo da SAF é o acesso a novos investimentos. Ao ser convertido em uma empresa, o clube pode abrir seu capital, atrair investidores externos e até mesmo realizar parcerias comerciais internacionais, ampliando seu alcance financeiro.
Essa mudança também permite uma maior transparência na gestão, por meio da adoção de normas rigorosas de governança corporativa e da divulgação de relatórios financeiros, o que aumenta a confiança dos torcedores, investidores e patrocinadores.
A recuperação financeira dos clubes também é facilitada pela SAF. Com a possibilidade de renegociar suas dívidas e um regime especial de tributação nos primeiros anos, o modelo oferece uma estratégia para clubes endividados.
O regime permite, por exemplo, que as dívidas antigas sejam separadas das novas receitas, facilitando o pagamento das pendências em até 10 anos, o que oferece um fôlego essencial para os clubes se reorganizarem financeiramente.
Além dos ganhos estruturais, o modelo SAF proporciona importantes benefícios fiscais que contribuem para a recuperação financeira dos clubes. A lei que criou o modelo oferece uma tributação unificada e reduzida nos primeiros cinco anos, com uma alíquota de apenas 5% sobre as receitas mensais, excluindo as transferências de atletas.
Após esse período, a alíquota é reduzida para 4% e passa a incluir também as receitas de transferências de jogadores. Esse regime favorece a recuperação financeira dos clubes, aliviando a carga tributária nos primeiros anos.
Além disso, a Sociedade Anônima do Futebol se beneficia de um regime de tributação simplificada, conhecido como Tributação Específica do Futebol (TEF), que unifica o pagamento de impostos como IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e ISS. Esse modelo simplifica a carga tributária, reduzindo custos administrativos e permitindo um melhor planejamento financeiro.
A segurança jurídica trazida pela lei também é um dos principais pontos que atraem investidores, uma vez que a estabilidade tributária e as normas claras de governança garantem maior segurança jurídica para os aportes financeiros.
Isso tem sido um fator-chave para a atração de investimentos, essencial para clubes que enfrentam graves dificuldades financeiras e necessitam de injeção de capital.