Os jogadores admitiram que receberam dinheiro da máfia das apostas, fecharam acordo com a Promotoria e serão testemunhas nos processos (Getty Images/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 1 de junho de 2023 às 08h25.
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) já tem provas do aliciamento de jogadores em 21 partidas entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano. Dezessete desses jogos foram citados nas duas denúncias já remetidas à Justiça nas operações Penalidade Máxima 1 e 2.
A cooptação dos atletas nos outros quatro confrontos foi confirmada nos depoimentos prestados, nas últimas semanas, por Bryan García (que teve o contrato rescindido pelo Athletico), Diego Porfírio (ex-Coritiba, hoje no Guarani) e Nino Paraíba (ex-América-MG) aos promotores.
Os jogadores admitiram que receberam dinheiro da máfia das apostas, fecharam acordo com a Promotoria e serão testemunhas nos processos.
O número de partidas com provas de manipulação pode aumentar na fase atual das investigações: outros 14 jogos — 11 deles da Série A do Brasileirão do ano passado — estão na mira do MP-GO.
Menções a essas partidas foram encontradas em conversas extraídas de celulares de apostadores. No entanto, para confirmar se houve ou não oferecimento de dinheiro aos atletas, os promotores estão ouvindo os envolvidos e analisando o conteúdo de mais aparelhos cuja quebra de sigilo foi determinada pela Justiça goiana.
Os jogos foram contabilizados no mapeamento do escândalo das apostas feito pelo GLOBO a partir da análise das 2.686 páginas da investigação do MP-GO. O levantamento deu origem a um mapa interativo sobre o escândalo das apostas, disponível no site do jornal.
Na ferramenta, os leitores podem conferir os resultados, o resumo das apostas feitas, os jogadores aliciados e as equipes envolvidas em cada uma das partidas suspeitas.
Doze dos jogos em que a investigação já comprovou o aliciamento de atletas são da Série A do Brasileirão 2022, cinco são da Série B e outros quatro são de campeonatos estaduais deste ano (Gauchão e Paulistão). A infração mais frequente acordada nesses jogos foi o recebimento de cartões amarelos: essa combinação foi detectada em 11 partidas.
Num dos jogos, o atleta aliciado precisou de poucos segundos para cumprir o acordo. No confronto entre Athletico e Fluminense, em setembro de 2022, o meia equatoriano Bryan García entrou em campo aos 41 minutos do segundo tempo e, em sua primeira jogada, cometeu uma falta dura e levou o cartão. Em depoimento ao MP-GO, García admitiu que aceitou receber o cartão em troca de R$ 70 mil. Em outras sete partidas, o acordo envolveu o cometimento de pênaltis.
Entre os jogos ainda sob investigação, há uma partida da Série A em que há indícios de que um cartão vermelho foi acordado. No confronto entre Fluminense e Goiás, Dadá Belmonte foi expulso aos seis minutos do segundo tempo após uma entrada em Ganso. O cartão abriu caminho para a vitória tricolor: três gols foram marcados pelo Fluminense em seguida. Numa mensagem obtida pelo MPGO, um dos apostadores afirma que o cartão foi fruto de um acerto com os apostadores.
Há outro jogo com suspeitas de manipulação em que o acordo teve influência no resultado: Goiás X Goiânia, pelo Campeonato Goiano. Um diálogo obtido pelo MP-GO revela que Bruno Lopez, acusado de ser o chefe da quadrilha de apostadores, pagou pelo menos R$ 20 mil ao também jogador Denner Barbosa, que jogava no Operário-MT e afirmava conhecer a “linha de trás todinha” do Goiânia, para que a equipe terminasse o primeiro tempo perdendo. O placar parcial da partida foi 2 a 0 — e o jogo terminou da mesma forma.
Ontem, a auditora Adriene Hassen da 4ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) negou o pedido das defesas de Igor Cariús e Jonathan Doin, o Paulo Miranda, para que o processo em que respondem na Justiça Desportiva fosse suspenso, assim como o julgamento marcado para hoje, a partir das 11h.
Também serão julgados outros seis jogadores envolvidos no esquema de manipulação: Eduardo Bauermann, Moraes, Gabriel Tota, Fernando Neto, Kevin Lomónaco e Matheus Phillipe.
Eles podem ser suspensos por 720 dias ou até mesmo banidos do futebol. (Colaborou Athos Moura)