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O Djokovic do Djokovic: Jannik Sinner e a nova geração do tênis

O italiano chega a uma inédita final de Grand Slam na Austrália e vira símbolo de uma safra de jogadores mais irreverentes e atrevidos

Jannik Sinner comemora um ponto na semifinal contra Djokovic no Australian Open: vitória simbólica (Darrian Traynor/Getty Images)

Jannik Sinner comemora um ponto na semifinal contra Djokovic no Australian Open: vitória simbólica (Darrian Traynor/Getty Images)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 12h12.

Última atualização em 28 de janeiro de 2024 às 10h13.

Novak Djokovic é um fenômeno. Aos 36 anos, com 24 títulos de Grand Slam e muita fome de ganhar, o sérvio está talvez em seu auge nas quadras. No ano passado, dos quatro principais torneios do circuito, só perdeu em Wimbledon, para o espanhol Carlos Alcaraz, que parecia ser o próximo Djokovic.

Sinner vira sobre Medvedev e é campeão do Australian Open 2024

De lá para cá, Alcaraz, de apenas 20 anos, oscilou no desempenho e viu Djokovic recuperar a liderança do ranking de tênis. Mas um novo Alcaraz surgiu então, outro jovem tenista talentoso e aguerrido, disposto a destronar o maior campeão de todos os tempos. Com uma vantagem: ele parece ter encontrado o jeito de bater o imbatível Djokovic.

Trata-se de Jannik Sinner, de 22 anos. Do final do ano para cá, o italiano venceu três das quatro partidas contra Djokovic e tornou-se campeão do Australian Open 2024. A última foi nesta madrugada, na semifinal do Australian Open, em que bateu o sérvio por três sets a um. Como? Da mesma forma que das outras vezes: com um sólido jogo de fundo de quadra, ótimos saques, excelentes devoluções, jogo de rede preciso e muita força mental.

Final entre Sinner e Medvedev no Australian Open

Será a primeira final de Grand Slam de Sinner, número quatro do ranking. Ele jogará contra o russo Daniil Medvedev, de 27 anos. É uma final bastante simbólica por representar uma provável mudança de guarda do tênis. Nos últimos 20 anos, todos os quatro torneios de Grand Slam tiveram na final Djokovic, o espanhol Rafael Nadal ou o suíço Roger Federer.

A exceção foi o US Open de 2020, que teve o austríaco Dominic Thiem e o alemão Alexander Zverev na final. Com um porém: naquele ano Rafael Nadal, que estava em grande forma, decidiu não participar por causa das restrições da pandemia. Federer estava se recuperando de cirurgia e Djokovic foi desclassificado por acertar uma juíza de linha.

De lá para cá Djokovic ganhou mais sete títulos de Grand Slam e Nadal outros dois. Agora a situação é diferente. Nadal luta para voltar a jogar depois de cirurgias e Federer está aposentado. Parece ter finalmente chegado a vez de uma nova geração do tênis, mais irreverente, afeita às redes sociais, com maior conexão com o mundo da moda.

"Novak tem sido o destruidor de sonhos por muitos e muitos anos, por muitos prováveis campeões que sonhavam com a glória no Grand Slam e tiveram essa pretensão negada por ele", comenta o americano Jim Courier na segunda temporada do documentário Break Point. "Mas uma nova geração vem com otimsimo e confiança, sem esse medo. Não existe perdão no tênis."

Sai a geração Nutella, entra a geração do Instagram

“O mundo do tênis sempre foi meio Nutella, jogadores mais certinhos”, afirma Luiz Procópio, diretor do Rio Open e outros quatro torneios da ATP. “Essa nova geração é mais atrevida, gosta de espetáculo. Para o tênis, como produto, isso é bom.”

Os tenistas mais novos sabem mexer com a plateia. Quando dão uma deixadinha matadora ou um voleio matador, colocam a mão na orelha ou levantam os braços e pedem aplausos. Ou até mesmo em pontos feios ou erros do adversário. Sem pudor, sem modéstia.

Nas contas do Instagram, com milhões de seguidores, as equipes de comunicação dos atletas colocam fotos lindas, vídeos de jogadas, frases motivadoras. Alcaraz admitiu, em entrevista neste Australian Open, que muitas vezes exagera ou enfeita uma jogada para agradar seus fãs.

Provocações entre jovens e veteranos

Os gestos mais ousados por vezes causam atritos com a geração que começa a deixar os pódios. O veterano suíço Stan Wawrinka disse ao dinamarquês Holge Rune “parar de se comportar como um bebê”, ao cumprimentar o adversário na rede após derrota em 2022.

No ano seguinte, desta vez ao sofrer derrota para Wawrinka, Rune devolveu a provocação ao adversário. “E agora, não tem mais nada a me dizer”, disse o dinamarquês.

O americano Bem Shelton, de 20 anos, costuma olhar com raiva aos oponentes durante as partidas. Dono do talvez saque mais poderoso do circuito, ele inventou um jeito bastante provocativo de comemorar as vitórias: faz um gesto de atender ao telefone e simula bater o gancho com força.

Pois Djokovic fez exatamente o mesmo gesto ao derrotar Shelton no US Open do ano passado. O americano fechou a cara na hora do cumprimento na rede. Seus seguidores reclamaram da atitude no X, o ex-Twitter.

Marcas de moda descobem o tênis

Essa nova geração parece ser feita sob medida para marcas de luxo que têm o desafio de conquistar novos consumidores. Esta é a primeira leva de tenistas a encantar o mundo da moda. Alcaraz faz campanha para a Louis Vuitton. Sinner tem patrocínio da Gucci. E até a brasileira Bia Haddad agora tem acordo com a Tiffany.

Seus rendimentos fora da quadra têm crescido e provavelmente serão mais polpudos do que os da trinca Djokovic, Federer e Nadal, que somam 66 títulos de Grand Slam. Sem Federer e Nadal no páreo, e com Djokovic com oponentes que enfim o desafiam, a nova geração começa a escrever uma nova história. O Australian Open pode ser o primeiro capítulo.

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