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Na Inglaterra, site de aposta é dono até de time de futebol

Empresas estão no centro do debate público no Brasil em momento de investigação por fraude e legislação para regular apostas

Casas de apostas: como é fora do Brasil? (Nathan Stirk/Getty Images)

Casas de apostas: como é fora do Brasil? (Nathan Stirk/Getty Images)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 12 de maio de 2023 às 18h05.

Última atualização em 12 de maio de 2023 às 18h15.

Conflito de interesse, na definição, é a situação gerada pelo confronto de interesses individuais e coletivos que comprometa a tomada de decisão. O termo está em alta nos últimos dias por causa da Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, que investiga jogadores de futebol envolvidos com apostas esportivas.

Atletas de dezenas de times teriam apostado em situações em que eles seriam os atores e os beneficiários. Apostaram, ou se uniram a grupos de apostas, em lances de gols, cartões, penalidades, expulsões. Ao anunciar, nesta sexta-feira, a saída de dois atletas citados na operação, o Athletico-PR afirmou que "a integridade e a ética são valores irrenunciáveis". Santos, Fluminense e Cruzeiro estão entre os clubes que também afastaram atletas.

Regulamentação das casas de apostas: o exemplo inglês

O Brasil discute, neste momento, uma legislação para regular os sites de apostas, liberados para atuar no país desde 2018. As irregularidades apontadas pelo MP tendem a alongar os debates e ampliar o olhar para até onde podem ir os conflitos de interesse. Especialistas ouvidos pela EXAME recomendam analisar o que acontece no futebol inglês.

Por lá, os clubes da primeira divisão concordaram, em abril, em proibir que empresas de apostas sejam os patrocinadores principais dos clubes a partir de 2026. Oito dos 20 principais clubes ingleses serão afetados. Espanha e Itália já tinham tomado medidas semelhantes. No Brasil, 19 dos 20 clubes da Série A têm casas de apostas como patrocinadores.

Mas o conflito pode ser maior.

O caso do Stoke City

Na Inglaterra, o Stoke City, tradicional clube hoje na segunda divisão, é controlado pelo bet365 Group, um gigante do mercado de apostas.

A história é antiga, e complexa. O fundador do site é Peter Coates, empresário que começou a carreira no mercado de restaurantes e em 1986 comprou o Stoke, time de sua cidade. Em 1999, numa reviravolta, um grupo de empresários islandeses comprou o clube. O bet365 foi fundado em 2000, e em 2006, uma subsidiária do grupo comprou novamente o Stoke City, afundado em dívidas.

O clube teve sucesso esportivo nos primeiros anos, incluindo um vice-campeonato na FA Cup e a contratação de estrelas como o atacante Peter Crouch, da seleção inglesa. Mas desde de 2018 o time está na segunda divisão. O bet365, hoje comandado por Denise Coates, filha de Peter, desde 2016 nomeia também o tradicional estádio do clube. A família Coates é dona de uma fortuna calculada em mais de 8 bilhões de libras (mais de R$ 50 bilhões).

"Os empregados do bet365 podem ter acesso a informação interna em caso de apostarem em jogos do Stoke City", ilustra o conflito o economista Wladimir Andreff, em "An Economic Roadmap to the Dark Side of Sport" (Um mapa para o lado escuro do esporte).

"O patrocínio na camisa traz uma linha tênue, ainda que haja compliance e controle, já que o clube expõe uma marca que tem interesse direto no resultado. E por isso foi proibido em alguns países", diz Amir Somoggi, sócio da consultoria Sports Value. "Um dono é uma situação meio inconcebível, porque do ponto de vista prático o dono poderia determinar o desempenho desde dentro. Mas é um exemplo limite de que o mercado precisa ser o mais ético possível para estar preparado para os embates".

Como será no Brasil?

No Brasil, a legislação em debate deve proibir sites sem habilitação de anunciar em clubes. O caso inglês traz mais uma camada de complexidade ao tema – e que deve entrar na pauta dos parlamentares.

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