Endrick, Rodrygo e Vini Jr, todos da base de seus clubes, hoje são estrelas do futebol mundial (Joilson Marconne / CBF/Reprodução)
Repórter da Home e Esportes
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 11h57.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2024 às 11h59.
Se a seleção brasileira já não tem o mesmo apelo e não impõem respeito como antes nas competições internacionais, a máxima não se aplica, necessariamente, quando o assunto é garimpar jovens talentos tupiniquins para reforçar seu esquadrão.
O potencial de mercado das joias brasileiras pode ser visto em recente levantamento dos 100 times que mais lucraram com suas categorias de base de 2014 a 2023 feito pelo Centro Internacional de Estudos Esportivos (CIES). Ao todo, nove brasileiros aparecem na lista apontando que fora da Europa, o Brasil é o mercado mais cobiçado do mundo.
Entre os clubes citados estão Flamengo, Palmeiras, Santos, São Paulo, Fluminense, Grêmio, Corinthians, Vasco e Athletico-PR.
As Américas ainda são representadas por oito equipes argentinas, duas uruguaias, uma equatoriana e uma mexicana. Todo o restante da lista é composto por equipes europeias. A liderança é do Benfica-POR que nos últimos nove anos faturou R$ 2,77 bilhões, com Ajax-HOL em segundo (R$ 2 bilhões) e Lyon-FRA em terceiro (R$ 1,9 bilhão).
Primeiro sul-americano no ranking, o Flamengo ocupa o 13º lugar. O total arrecadado no período é de 228 milhões de euros (R$ 1,22 bilhão).
Segundo tupiniquim na lista, o Palmeiras está em 28º e faturou no período R$ 913,2 milhões. Curiosamente, o Verdão é o caso mais emblemático de mudança de perfil durante o período do estudo. Em 2013, antes de Paulo Nobre assumir a presidência do clube, a equipe era inexpressiva na base, com instalações precárias e baixo investimento.
Somente com a vinda de João Paulo Sampaio, em 2015, a mudança de mentalidade foi implementada. Os sucessores de Nobre mantiveram a nova política de base e o Palmeiras não só viu as conquistas de títulos começarem a surgir como também se tornou referência na hora de revelar. Gabriel Jesus, Danilo, Endrick, Gabriel Menino, Gabriel Veron, foram algumas joias. Hoje, o time paulista serve como inspiração para quem também almeja investir no futuro.
Receita importante para os clubes brasileiros, a venda de jovens talentos é o que impulsiona. Em 54º lugar no ranking, o Vasco faturou entre 2014 e 2023 R$ 550,5 milhões.
Sob a batuta da 777 Partners, a tendência é que a base cruzmaltina seja ainda mais valorizada. A SAF vascaína tem investido nos jovens talentos e as mudanças já começaram principalmente na parte estrutural. Em janeiro foi concluída a reforma dos quartos do alojamento. Os atletas terão tudo novo: camas, colchões, armários, roupas de cama e cobertores. Além disso, um novo ônibus será disponibilizado para os garotos. Melhorias também estão sendo feitas no CT de Caxias, um dos polos de treinamento usados pela base. O local está passando por revitalização dos gramados de treino e reforma do pavimento de acesso.
E até mesmo quem não aparece no ranking do CIES tem a ambição de crescer e fazer transformar o seu celeiro em um caminho que possa ser fértil no futuro.
Eduardo Fernandes, gerente geral da base do Coritiba, destacou que a formação de atletas nas categorias de base é uma das prioridades da nova gestão do Coritiba.
“A SAF entende que a presença de atletas de potencial ascendendo à equipe principal deve ser sua prioridade. Consequentemente, o clube ainda pode se beneficiar do bom desempenho desses jovens para conseguir ganhos financeiros. Nos últimos anos, o Coritiba vem de grandes conquistas, como a Copa do Brasil sub-20, e a ideia é ampliar o projeto para contar com uma participação cada vez maior de revelações no elenco profissional”, disse o executivo.
Segundo Fernandes, o planejamento Visão 2030, apresentado pelo Coxa visa construir um Centro de Treinamento para estreitar ainda mais os laços entre todas as áreas do clube, os profissionais e as categorias de base, com o objetivo de facilitar a integração dos jogadores. “O Coritiba, que já tem um histórico importante na revelação de atletas, espera aumentar ainda mais o número de jogadores formados no clube convocados para a seleção brasileira para se firmar entre os principais times formadores do país”, concluiu.
Estabilizado na Série A do Brasileiro, o Cuiabá é um desses clubes. O Dourado investiu cerca de R$ 50 milhões na estrutura de um moderno CT para o profissional, que será multifuncional e servirá também as demandas das categorias inferiores. Descobrir novos talentos, sobretudo, garotos da região Centro-Oeste é a principal meta do time auriverde.
“O grande projeto do Cuiabá é ser uma das referências do país na formação de atletas. Estamos trabalhando arduamente para isso, investindo em estrutura física e humana e aprimorando os processos internos para que os jovens tenham o melhor desenvolvimento possível”, destacou o presidente do clube, Cristiano Dresch. “O próximo passo é intensificar a observação e captação de talentos nascidos aqui no estado, pois queremos formar os nossos ídolos dentro de casa. Esse é o nosso maior sonho e vamos realizá-lo”, acrescentou.
O Inter, por sua vez, passa por mudanças. Em 2021 iniciou uma transformação no perfil de sua base. Hoje, a prioridade do clube não é conquistar títulos na base, mas sim melhorar a preparação e a formação de seus jogadores, visando o aproveitamento deles no time profissional.
“Há uma diferença entre formação e revelação que, muitas vezes, é ignorada. A formação se dá durante o tempo que o atleta se desenvolve no ambiente de base e a revelação se dá no processo de desenvolvimento final e aproveitamento no time profissional”, explicou Felipe de Oliveira, diretor geral da base do Internacional.
Entre 2021 e 2022, o Colorado faturou títulos nas categorias que mais se aproximam do futebol profissional. No sub-20 ganhou Brasileiro (2021), Supercopa do Brasil (2021) e Gaúcho (2022), enquanto no sub-17 faturou o Gauchão (2017). Mas segundo conta Oliveira, já havia se iniciado um processo de mudança no estilo do elenco dando ênfase em habilidades técnicas e ao potencial de crescimento ao invés de jogadores mais maturados e fortes – que poderiam trazer títulos, mas que não teriam perspectiva de aproveitamento no profissional.
“A formação e o desenvolvimento foram privilegiados, o que levou a uma perda de competitividade. Hoje, em todas as categorias, temos mais jogadores com potencial de chegarem ao profissional do Inter e gerarem boas vendas do que tinha quando fomos campeões brasileiros”, acrescentou antes de concluir: “o próximo desafio é encontrar um equilíbrio para que, além de gerar estes jogadores se possa conquistar títulos”, finalizou.
No ano passado, dois jogadores formados na base colorada foram vendidos: o goleiro Daniel foi para os Estados Unidos atuar pelo San Jose Earthquakes e rendeu aos gaúchos R$ 3 milhões, enquanto o volante Johnny custou ao Bétis-ESP R$ 31,7 milhões.
Nem mesmo os times da Série B do Brasileiro querem ficar de fora. Premiado em julho do ano passado com o Certificado de Clube Formador da CBF – selo que recompensa as agremiações que cumpriram quesitos exigidos pela confederação, o Botafogo-SP tenta se recolocar no caminho de time revelador. Em seu portifólio, nomes como Sócrates, Raí, Cicinho, Doni, Diego Alves, entre outros. A ideia é voltar a ser referência na formação de novos jogadores.
“Temos um projeto que está sendo remodelado, em que realizamos melhorias estruturais e temos conseguido gerar resultados importantes. Sabemos do quanto é fundamental revelar profissionais em casa, que podem resultar em ganhos esportivos e financeiros”, explicou o gestor da SAF do Pantera, Adalberto Baptista.
O Sport, que já revelou bons nomes para o futebol tais como Juninho Pernambucano, Cléber Santana e, mais recentemente, o meia Joelinton, é mais um que trabalha forte na estruturação da base. Essa é uma das prioridades da gestão do presidente Yuri Romão.
“Nossa gestão acredita que a base é um dos pilares de sustentação do clube, e temos trabalhado pesado, sério e de forma responsável no departamento. Nosso objetivo é fornecer todo o suporte necessário e as melhores condições para que os jovens se desenvolvam. É importante ter em mente que a base precisa não apenas municiar nosso elenco com novos atletas, mas ao longo dos anos, formar e vender jovens para trazer recursos para dentro do clube”, disparou Yuri Romão, presidente do Sport.