Vista aéra do Arpoador, entre Ipanema e Copacabana, no Rio de Janeiro (Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 18 de fevereiro de 2024 às 09h45.
Em 1982, Tim Maia cantou que “do Leme ao Pontal, não há nada igual” — e imortalizou a música como um dos maiores hits da MPB. Porém, para algumas pessoas, quando a frase é dita, o que vem à cabeça não é o refrão chiclete, mas uma prova de superação. Desde 2008, do Leme ao Pontal é uma travessia de 36 km em mar aberto, da zona Sul à Oeste do Rio de Janeiro. A prova vem ganhando cada vez mais desafiantes e faz parte da tríplice coroa das travessias da América do Sul, ao lado das que ocorrem em Bariloche, na Argentina, e no Rio da Prata, entre o Uruguai e Buenos Aires.
O primeiro a realizar a travessia do Leme ao Pontal foi o hoje deputado federal Luiz Lima (PL-RJ), em dezembro de 2008, quando se preparava para se aposentar da carreira como nadador. À época, ele buscava um desafio, e houve uma série de coincidências que o fizeram escolher o trajeto.
— Em 2008, completou-se dez anos da morte do Tim Maia, e minha mãe se chama Vitória Régia, que é justamente o nome da banda que acompanhava ele — diz Luiz, que encontrou condições adversas para completar a prova, como a água fria e a correnteza contrária.
Oito anos depois, o militar Adherbal Treidler criou a Leme to Pontal Swimming Association (LPSA), que preside atualmente, e foi a segunda pessoa a completar o trajeto. Ele conta que cada nadador que conclui a travessia recebe um número. Até hoje 69 pessoas finalizaram a prova — algumas mais de uma vez. Dados da LPSA mostram ainda que, desde a tentativa de Luiz Lima, foram 72 travessias com sucesso e outras 23 não concluídas, incluindo as participações de nadadores de mais oito países.
Para ser certificado, não basta cair no mar. Existem regras a cumprir, como apresentar uma declaração assinada por um treinador e por duas testemunhas que comprovem que o participante nadou por ao menos seis horas seguidas. Além disso, é preciso atestado médico e a assinatura de um termo de responsabilidade.
— A associação fornece um barco com pilotos treinados, onde também vai um observador, que é a pessoa responsável por fiscalizar se todas as normas estão sendo cumpridas. O nadador não pode encostar no barco ou receber qualquer tipo de apoio da sua equipe — conta o presidente da LPSA.
Em 30 de janeiro, Renato Cordani, de 53 anos, tornou-se o 67º nadador a concluir a travessia, em 8 horas e 24 minutos. Para o desafio, ele contratou um técnico, um médico e uma nutricionista. Ficou 21 semanas treinando para a prova, nadando de segunda a sábado.
Cordani se preparou física e psicologicamente para cumprir trajetos de 30 minutos, depois dos quais parava por 20 segundos para se hidratar e se alimentar e ouvir as instruções do técnico.
— Quando cheguei perto da Pedra do Pontal e vi o fundo do mar, sinal de que estava acabando, foi uma delícia, uma adrenalina... E não teve mais cansaço ou braço pesado. Cheguei à areia correndo e feliz — relembra Cordani.
Depois dele, duas pessoas completaram a prova. E há mais na fila. Monica Calderón, colombiana de 39 anos radicada no Brasil, pretende fazê-la no Dia da Mulher, em 8 de março:
— Quero inspirar outras pessoas a realizar sonhos.
A LPSA tem outras provas: do Leme à Barra (16 km); da Praia Vermelha à Barra de Guaratiba (56 km); e do Leme ao Pontal em ida e volta (72 km), que somente uma pessoa completou até hoje.