Clube pernambucano conseguiu ajustar as contas e agora busca um investidor (Facebook/Reprodução)
Repórter
Publicado em 29 de março de 2025 às 11h28.
Última atualização em 29 de março de 2025 às 12h35.
O Sport Club do Recife volta à Série A do Brasileirão neste sábado, quando encara o São Paulo no Morumbi. No ano passado, o time ficou na terceira colocação da Série B, o que garantiu seu retorno à elite do futebol brasileiro.
A temporada de 2025, porém, tem outros significados para o tradicional time do Nordeste. Para começar, é o elenco "mais europeu" do futebol brasileiro, com os portugueses Gonçalo Paciência, João Silva e Sérgio Oliveira, além do treinador Pepa, também de Portugal. O Vasco tem três jogadores europeus, mas técnico brasileiro. Contratações essas do time de Pernambuco com base no trabalho de seu departamento de scout e análise de desempenho, uma parte da estrutura dos clubes cada vez mais importante no futebol de hoje
Campeão da Copa do Brasil em 2008, visa uma reconstrução de longo prazo. Quem está comandando esse processo, ousado, é Yuri Romão, presidente do clube desde 2021. Ele assumiu interinamente o posto no lugar de Leonardo Lopes, de quem era vice. Em março de 2022, Lopes formalizou sua renúncia e Yuri assumiu de forma definitiva.
Romão foi eleito novamente em dezembro passado para um mandato que vai até dezembro de 2026. Na prática, ele vai ser o último presidente do clube, pois a agremiação aprovou um novo estatuto que prevê um conselho com um presidente, vice e três conselheiros. A reeleição também não existirá mais.
O movimento do tradicional clube pernambucano se dá como forma de tornar sua estrutura menos burocrática e mais profissional para que possa se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), plano que está no radar do presidente Romão há algum tempo.
"Esse desejo de se tornar SAF começou no início de 2023. Hoje, não acredito que nenhum clube do Nordeste consiga fazer os investimentos necessários sem um parceiro", disse à EXAME.
Na região, o Fortaleza adotou o modelo em 2023, com o então presidente Marcelo Paz indo para o cargo de CEO. A ideia do time cearense é vender partes de suas ações, mas sem ter um "dono". Outro clube nordestino que virou SAF foi o Bahia, vendido para o grupo City, que controla o Manchester City, em 2023.
Pelo Brasil, entre os grandes clubes, Cruzeiro (em 2021), Vasco (em 2022), Botafogo (também em 2022) e Atlético-MG (em 2023) aderiram à nova forma de gestão. Até o final do ano passado, 63 times viraram SAFs - oito deles na Série A e seis na Série B. No início de 2025, Portuguesa e Santa Cruz haviam finalizado o processo para entrar no mundo das Sociedades Anônimas do Futebol.
Para o presidente do Sport, os dirigentes do futebol mudaram seu pensamento com relação à gestão do futebol, mas o mesmo não pode ser dito dos torcedores. É um descasamento natural, claro. "A geração atual de dirigentes é diferente. Eles querem fazer do futebol um business. Já a cabeça do torcedor não mudou", falou.
Yuri Romão vê o futebol hoje como "superfaturado", mas um caminho que é difícil escapar. Ele defende "ousadia" na administração dos clubes, mas com responsabilidade. "Em 2023, tivemos o selo de bom pagador pela Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD). Isso só havia acontecido em 2016, quando começaram a fazer esse levantamento", explica. O CNRD é um órgão criado pela CBF para resolver de forma mais rápida conflitos judiciais envolvendo o futebol.
Em seu balanço de 2023, o Sport teve um superávit de R$ 72 milhões, mas ainda com passivos na casa dos R$ 276 milhões. Apenas para se ter uma base de comparação, o Palmeiras, campeão brasileiro daquele ano, apresentou dívidas de R$ 466 milhões.
Com uma situação financeira mais estável do que há quatro anos, o dirigente agora busca um parceiro de investimentos para o clube. O tempo é de ouvir pessoas, fazer contatos e, quem sabe, negócios. "O investidor precisa mostrar ao Sport que tem capacidade [de investir]. Espero que até o fim do ano essa questão da SAF esteja sacramentada", conta.
O presidente do Sport também disse que pretende pedir aos Bombeiros a autorização para aumentar a capacidade da Ilha do Retiro dos atuais 26 mil espectadores para 32 mil. O tempo é de aumentar as receitas em todas as frentes.
Também em dezembro do ano passado, o clube aprovou um plano de recuperação judicial. O Sport conseguiu um deságio de 72% para sua dívida, com o valor caindo de R$ 396 milhões para R$ 109 milhões. No total, 83% dos credores votaram a favor do plano proposto. "As pendências devem ser acertadas em seis ou sete anos", falou o dirigente.
Romão contou também que o modelo de recuperação judicial que adotou no clube foi inspirado "100%" no que membros de seu staff viram no Coritiba. "Vamos ajeitar o carro", brincou.
Esse processo foi fundamental para o time de Pernambuco voltar a ser uma vitrine de interesse para jogadores. Segundo Romão, a bagunça administrativa em que o Sport estava afastava atletas. "Em 2021, o clube tinha três folhas de pagamento do futebol profissional em atraso. Se contar o administrativo, chegava a cinco. Tivemos quatro presidentes em 2021", disse. Ele comemora que já está no 44º mês consecutivo sem atraso nos salários. Yuri Romão também disse que em 2023 e 2024 o clube foi superavitário. "Em 2022, nenhum agente de atleta queria colocar seu jogador lá", disse.
Nesse mesmo ano, porém, o clube começou a melhorar sua situação financeira com a venda de atletas como Mikael, Gustavo e Mailson. O clube recebeu R$ 30 milhões com a negociação dos três.