PARIS, FRANCE - DECEMBER 18: French fans support their team during the FIFA World Cup Qatar 2022 soccer final match between France and Argentina at Champs Elysee, Paris, France on December 18, 2022. (Photo by Julien Mattia/Anadolu Agency via Getty Images) (Anadolu Agency/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 4 de abril de 2023 às 10h07.
A presença conjunta de países na realização dos torneios de seleções tem se tornado comum no futebol. O Marrocos, que venceu o Brasil no primeiro amistoso da Seleção Brasileira após a Copa do Mundo do Catar, ganhou destaque pelo tema extracampo nas últimas semanas. Em cerimônia na reunião mais recente da Confederação Africana de Futebol em Kigali, capital da Ruanda, o Marrocos anunciou candidatura tripla ao lado de Portugal e Espanha para sediar a Copa do Mundo de 2030. Os Leões do Atlas substituem a Ucrânia, que segue em guerra devido à invasão russa.
Com a possibilidade de três nações sediarem o maior campeonato de seleções, a edição de 2030 se tornaria a segunda consecutiva a contar com este número de países. Para o Mundial de 2026, Estados Unidos, Canadá e México receberão a inédita quantidade de 48 seleções, que serão divididas em 12 grupos com quatro equipes em cada. Além da candidatura de Marrocos e os países Ibéricos, foi noticiada pela imprensa europeia, no fim do ano passado, a chance de um bloco formado por Arábia Saudita, Egito e Grécia, mas não houve confirmação.
A competição organizada pela FIFA não é a única que se aventurou em múltiplas sedes. A Eurocopa, torneio europeu de seleções organizado pela UEFA, contou com mais de um país como anfitrião em três das últimas quatro edições - a França, em 2016, sediou todas as partidas. A disputa mais recente, a Euro 2020 - que aconteceu em 2021 devido à pandemia de Covid-19 - contou com 11 países europeus distintos para receber os jogos.
Na visão de especialistas, as sedes de uma mesma edição em países diferentes colocam em discussão pontos acerca dos benefícios comerciais e tecnológicos. Para Renê Salviano, CEO da agência Heatmap e especialista em marketing esportivo, há impactos consideráveis e plurais para uma Copa do Mundo com três países como sede, cujas culturas devem ser afetadas de diferentes formas.
“Eventos deste tamanho naturalmente vão impulsionar a economia local, o turismo, gerar empregos e escalar as novas tendências de inovação dentro da esfera esportiva, pois a cada ano aumentam as oportunidades de exploração comercial dentro e fora das quatro linhas. Além disso, a Copa de 2026 fará com que torcedores de todas as partes do mundo tenham a oportunidade de conhecer até mesmo os três países de uma só vez, em um curto espaço de tempo, promovendo uma integração e conexão maior entre os turistas e os nativos de cada região. Ao juntar todos estes pontos, creio que a tendência é que tenhamos cada vez mais grandes eventos sendo promovidos em conjunto por dois ou mais países”, afirma Salviano.
Embora o Mundial de seleções mais recente tenha ocorrido em sede única, no Catar, a FIFA fechou o último ciclo entre 2018 e 2022 com faturamento recorde de US$ 7.5 bilhões. Somados a este número estão o sucesso de engajamento e audiência do torneio. Segundo a entidade do futebol, cerca de 5 bilhões de pessoas acompanharam a Copa do Mundo, além de um engajamento total de 262 bilhões em todas as plataformas nas redes sociais.
Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento, e sócio da Feel The Match, destaca que não há uma relação direta entre maior sucesso comercial e mais países sediando uma mesma edição, mas o contexto local pode afetar nas receitas e no próprio engajamento do torneio.
“O interesse pela Copa do Mundo está posto. Com o passar dos anos, mais o digital cresce, as pessoas acompanham mais e se torna maior a força dos canais de transmissão destes conteúdos. O crescimento e a propagação dos meios digitais vão levar isso com naturalidade. É evidente que a presença em três países grandes e populosos aproxima a intensidade do consumo de quem está naquele continente, principalmente por serem nações turísticas, culturalmente abertas, com maior território, infraestrutura, história e melhor rede hoteleira”, comenta Maia.
As mudanças de logística fora das quatro linhas também são seguidas por inovações para dentro dos gramados. Na Copa do Mundo do Catar, a entidade máxima do futebol implementou a utilização do impedimento semiautomático, a partir de imagens captadas por câmeras distribuídas pelo estádio e analisadas por um software de inteligência artificial. A chegada de novas tecnologias ao esporte é defendida por Fernando Patara, cofundador e Head de inovação do Arena Hub, principal centro de fomento à inovação em esporte, entretenimento e mídia na América Latina.
“Com recursos tecnológicos inovadores, o esporte se transforma e cria novos cenários para o mercado. As maiores competições estão sendo o carro-chefe para estas mudanças, aproveitando o grande alcance de um público cada vez mais disposto a conviver com as transformações do futebol. As alterações chamam a atenção dentro das quatro linhas, mas fora delas há diversos aspectos conectados à inovação no setor, que é fundamental para o desenvolvimento da modalidade”.