Redação Exame
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 13h42.
Um estudo divulgado pela consultoria Deloitte aponta que o futebol feminino bateu o recorde de receitas em 2024, com um total de 116,5 milhões de euros. O levantamento abrange as principais ligas do mundo e inclui o Brasil, além de Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Noruega e Japão. O valor é 35% maior em comparação com o ano anterior.
Entre os times com maior receita, o primeiro é o Barcelona, que aparece com 17,9 milhões de euros; seguido por Arsenal, com 17,8 mi de euros, e Chelsea, com 13,4 milhões.
Também na temporada passada, duas das cinco principais negociações entre atletas foram do Brasil. A venda da atacante Priscila, do Internacional para América do México, por R$ 2,8 milhões (US$ 495 mil na cotação atual) foi a maior da história do futebol brasileiro, e ficou entre as três principais de todo o mundo. As cifras ultrapassam a negociação da zagueira Tarciane, do Corinthians, que se transferiu para o Houston Dash, dos Estados Unidos, por R$ 2,6 milhões. Além disso, o Colorado garantiu o recebimento de 20% de valor em venda futura e receberá bônus adicionais conforme o desempenho da atleta.
"A venda da atleta Priscila ocorreu através de uma negociação conduzida com muita responsabilidade, clareza e critério entre os clubes e os representantes da jogadora, sabendo da grandeza das condições e visando a abertura do mercado de transferências para o futebol feminino do Inter", comentou Luiza Parreiras, Gerente de Futebol Feminino do Internacional.
As três maiores negociações foram do futebol norte-americano, com Racheal Kundananji saindo do Real Madrid-ESP para o Bay FC-EUA, por R$ 4,3 milhões, em 2023, e Barba Branda deixando o Shanghai Shenglin-CHI para o Orlando Pride-EUA, por R$ 3,6 milhões, também na última temporada. Na sequência, aparece a de Priscila, do Inter para o América-MEX, seguida por Tarciane, do Corinthians para Houston Dash, dos Estados Unidos, por 2,6 mi, e Mayra Ramirez, do Levante-ESP para o Chelsea-ING, pelo mesmo valor, em 2023. Keira Wash, vendida do Manchester City-ING para o Barcelona-ESP, por R$ 2,3 milhões, em 2022, aparece entre as seis principais.
"Tenho acompanhado esse crescimento na prática, ou seja, através da movimentação de negócios, de novos eventos, do interesse dos veículos de mídia, bem como do crescimento da audiência e negociação de atletas cada vez mais altas para outros países", explica Fábio Wolff, membro do comitê organizador do Brasil Ladies Cup, torneio de futebol feminino que chegou à 4a edição em 2024.
A evolução do futebol feminino vem sendo acompanhada não apenas nos números, mas também no agenciamento dessas atletas. A atacante brasileira Kerolin passou a ter a carreira gerida no ano passado pela Roc Nation Sports, a mesma de centenas de atletas globais, entre eles, Vinícius Júnior, Endrick, Lucas Paquetá e Gabriel Martinelli.
Kerolin, que estava há três temporadas no North Carolina Courage, dos Estados Unidos, viajou neste último final de semana para realizar exames médicos no Manchester City.
"A distância da modalidade é ainda muito grande do já consolidado futebol masculino, mas são evidentes e significativos os avanços em diferentes aspectos, ainda que o Brasil não integre esse movimento A audiência está se diversificando nas transmissões, e clubes de renome mundial já começam a se consolidar no feminino, com um público nos estádios que já não é desprezível na média, com momentos de grande mobilização. Isso atrai mais patrocinadores, deles, maior receita, e essa vai se convertendo em maiores orçamentos, que tem sua maior parte direcionada a salários", afirma Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, que gerencia a carreira de centenas de atletas.
"Na Europa e Estados Unidos, é grande o percentual das atletas que já consegue enriquecer, e não somente "sobreviver" como atleta, em um cenário diferente do que temos na América do Sul, onde o Brasil pode, com a comunicação a volta do próximo mundial, se converter na "locomotiva" da modalidade no continente, quem sabe, buscando as melhores de todos os países vizinhos, como já observamos no masculino", complementa Freitas.
"É um avanço gradual e todo passo precisa ser celebrado. Também acredito que o case dela, assim como aconteceu na venda da Tarciane, do Corinthians poderá atrair a atenção do mercado internacional e abrir novas oportunidades para as atletas que atuam no país, além de valorizá-las”, comenta Flávia Magalhães, uma das primeiras mulheres a atuar como médica no futebol profissional do país e que trabalhou em todas as edições do Brasileirão feminino.
Para Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo, a entrada de marcas e novos patrocínios nos clubes também tem contribuído para esse crescimento.
"Além da alta visibilidade e a crescente do esporte, quando se trata de ativações e interações as atletas dão um show. Elas abraçam e muito a chegada das marcas e são muito profissionais nesta conexão com a torcida, o que facilita e muito o trabalho do departamento de marketing das instituições".