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Cerveja, minissaia e beijo: afinal o que pode e o que não pode no Catar da Copa?

A EXAME visitou o país sede da Copa do Mundo e ouviu moradores e turistas. O permitido e o proibido variam muito de pessoal para pessoa, e de lugar para lugar

Copa do Catar: país é alvo de intenso escrutínio nos últimos anos porque, apesar de leis que restringem uma série de liberdades, foi escolhido para receber o mundial. (Lucas Amorim/Exame)

Copa do Catar: país é alvo de intenso escrutínio nos últimos anos porque, apesar de leis que restringem uma série de liberdades, foi escolhido para receber o mundial. (Lucas Amorim/Exame)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 27 de novembro de 2022 às 08h24.

Última atualização em 27 de novembro de 2022 às 11h11.

Nadar de biquíni, tomar cerveja, comer um café da manhã com bacon e ovos, marcar um encontro no Tinder. O que parece rotina em um país como o Brasil vira desafio — e até crime — em lugares como o Catar, sede da Copa do Mundo. Nos últimos dias visitamos Doha, a capital do país, e vimos que muitas dessas atividades podem, sim, ser feitas. Mas não em qualquer hora, nem em qualquer lugar.

O país é alvo de intenso escrutínio nos últimos anos porque, apesar de leis que restringem uma série de liberdades, foi escolhido para receber o mundial. Nos últimos dias as críticas e as dúvidas se intensificaram após o governo local anunciar que não permitiria o consumo de cerveja nos estádios, diferente do que estava inicialmente combinado.

Durante o mundial, os moradores locais seguem vestidos como de costume: com ombros e joelhos sempre cobertos. As mulheres qataris usam a abaya, a roupa preta típica do país, com os cabelos cobertos, mas o rosto à mostra. Os estrangeiras que moram no país evitam usar bermudas, saias e regatas.

Mas os turistas que estão no país podem usar bermudas, shorts, minissaias e regatas na rua, nos estádios, nos hotéis. Em algumas praias, se pode inclusive usar biquíni e sunga — os turistas, claro, porque os moradores locais quando vão à praia seguem com o corpo coberto. As crianças usam roupas de banho, mas mantêm o dorso coberto. Nas praias públicas mais perto do centro, onde tradicionalmente é proibido mostrar o corpo, durante o mundial biquínis e calções de banho foram excepcionalmente permitidos.

Nos estádios de fato são vendidas apenas cervejas zero, e a entrada de bebidas alcoólicas é proibida. Um turista mexicano tentou entrar com tequila escondida em um binóculos e foi flagrado. Na área VIP, em que sim se serve álcool, vimos uma enorme confusão no jogo Argentina e México. O espaço é montado ao lado do estádio Lusail, e havia tanta gente na fila para acessá-lo que boa parte dos torcedores desistiu e entrou direto. Resultado: acabaram o estoque de cerveja sem álcool nos bares.

Praia em Doha: turistas sem camisa e mulheres locais de abaya, a roupa preta típica do país. (Lucas Amorim/Exame)

Nos restaurantes locais também não se vende álcool. Mas nos hotéis e restaurantes internacionais bebidas alcoólicas são vendidas. O preço é salgado: cerca de 15 dólares uma long neck, e perto de 30 dólares uma dose de uísque. Nas fan fests, onde os jogos são transmitidos em telão, o consumo de cerveja é permitido.

Os moradores locais podem também comprar álcool em poucas lojas exclusivas para esse fim e controladas pelo governo. O acesso, porém, é restrito para pessoas cadastradas. Os qataris não costumam frequentar o lugar, uma vez que o consumo de álcool é proibido aos muçulmanos. Essas mesmas lojas vendem carne de porco, cujo consumo também é proibido pelo Islã.

O mesmo espírito de “existe, mas não para todos” marca o uso dos aplicativos de relacionamento. O Tinder é usado no Catar, principalmente pelos estrangeiros. Homens Qataris também usam o app, mas para sair com estrangeiras. As mulheres qataris não usam o app — ou, ao menos, não publicamente.

Nos hotéis turísticos há festas que vão até as 3h da madrugada, horário limite para que bares estejam abertos no Catar. Ali, toca-se funk, música latina e eletrônica como em qualquer balada do mundo. Há grupos de amigos, dança, bebida e narguilé. Mas não se vê beijos e abraços. Nem mesmo beijos no rosto são permitidos no país. Moradores dizem que há prostituição e encontros homossexuais como em outros países — mas de forma discreta, e principalmente entre os estrangeiros.

Em resumo, pode-se fazer quase tudo, mas depende da pessoa, e depende do momento. A rotina de turistas e estrangeiros é muito diferente da dos Qataris, especialmente das mulheres qataris. A dualidade continuará assim que terminar o mundial, no dia 18 de dezembro.

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