Mundial de Surfe poderá ter novas paradas em breve, diz CEO da Liga Mundial de Surfe (WSL) (Olivier MORIN/AFP)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 25 de outubro de 2022 às 06h30.
A cada etapa do Circuito Mundial de surfe, a história se repete: basta um atleta brasileiro ser eliminado, que milhares de torcedores entopem as redes sociais com críticas e xingamentos contra o sistema de pontuação da Liga Mundial de Surfe (WSL, na sigla em inglês).
Mas se engana quem pensa que isso é visto com maus olhos por quem comanda o surfe profissional. Para o CEO da liga, Erik Logan, a reação dos torcedores enfurecidos não apenas é esperada, como tem também um lado positivo - e descartou quaisquer mudanças no sistema de pontuação atual.
"Em primeiro lugar, é preciso dizer que me sinto 1.000% confiante e confortável com o sistema de notas atual. Temos os melhores juízes do mundo e eles avaliam as ondas com os atletas em absoluta condição de igualdade", disse, em entrevista exclusiva à EXAME. "Mas é um esporte subjetivo", diz.
"Essa reação dos fãs é até esperada, porque é um esporte subjetivo, como ginástica e tantos outros. E essa subjetividade é uma coisa boa. Cria discussões, debates interessantes. Para mim, o saldo disso é bastante positivo para o esporte", explicou o executivo da principal entidade do surfe mundial.
Ele também explica que, por ser um esporte em crescimento, com muitos fãs recentes e ainda pouco habituados à dinâmica das competições, a WSL faz um trabalho forte de conscientização: "Eu não espero que todos os torcedores conheçam o livro de regras inteiro, e por isso produzimos uma série de conteúdos a esse respeito, usamos juízes e ex-juízes como especialistas para explicar conceitos como prioridade, interferência... em 'Make or Break' [série da Apple TV produzida pela WSL], por exemplo, mostramos em detalhes a sala dos juízes, com imagens reais da competição, como eles fazem as avaliações, reveem as ondas, todo o processo de pontuação".
Desde o primeiro título mundial de Gabriel Medina, em 2014, que foi seguido pelos triunfos de Adriano de Souza, Ítalo Ferreira e, mais recentemente, Filipe Toledo, o esporte ganhou milhões de adeptos no Brasil. E esses novos torcedores têm feito barulho quando acham que algum atleta do país foi prejudicado.
Os próprios atletas já demonstraram insatisfação publicamente - casos de Medina, Ítalo e Filipe em temporadas passadas. Para Erik Logan, entretanto, a situação com os atletas é mais tranquila, e as reclamações são raridade.
"Conversamos muito com os atletas. Eles podem inclusive sentar com os juízes, logo depois da sua bateria, para rever as ondas e as notas. Existe um protocolo para garantir total transparência no processo de pontuação. Claro que nem sempre todos estarão felizes, mas pense bem... são 36 surfistas e só um vencedor, ou seja, são 35 que provavelmente não ficarão felizes a cada etapa", comentou.
A situação também aconteceu nas Olimpíadas, evento que não é organizado pela WSL, quando Gabriel Medina foi derrotado pelo japonês Kanoa Igarashi nas semifinais e causou um mutirão de reclamações nas redes sociais.
Segundo o executivo da World Surf League, não há perspectiva de mudanças nos sistema de pontuação, o que significa que, na temporada 2023, hashtags questionando os juízes, enchente de comentários nos perfis da WSL nas redes sociais e torcedores brasileiros enfurecidos contra uma suposta preferência dos juízes por atletas de mercados mais tradicionais como EUA e Austrália, deverá continuar.
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Erik Logan também comentou sobre a possibilidade de levar o circuito mundial de surfe para novos lugares, inclusive no Brasil, que atualmente conta apenas com a etapa de Saquarema, no Rio de Janeiro. Ele, no entanto, não confirma a possibilidade.
"Com certeza buscaremos novos lugares para organizar etapas, assim como voltaremos à lugares que não recebem uma etapa há muito tempo. Em 2021, fomos para Barra de la Cruz, no México. Em 2022, fomos pra El Salvador e voltamos à G-Land, na Indonésia, depois de muitos anos", disse. "Estou animado em relação aos lugares onde a WSL pode ir nos próximos anos, e muito provavelmente iremos para lugares que nunca tiveram etapas antes. Inclusive isso vai ser um elemento importante para a competição, que pode criar um novo fator surpresa na disputa".
A escolha das sedes de cada etapa, entretanto, não é tarefa simples: "É importante que seja uma onda de altíssimo nível, e temos uma equipe especializada nessa procura e análise. Mas também precisa ser um lugar com boa infraestrutura, porque existem os atletas, as equipes de apoio aos atletas, equipe de transmissão, de organização do evento, segurança. É preciso que o lugar suporte eventos dessa dimensão, e ainda é preciso combinar tudo isso com a época mais propícia para uma competição desse nível em cada local", explicou.
Em relação ao WSL Finals, etapa que reúne apenas os cinco primeiros colocados dos rankings masculino e feminino para definir quem será o título mundial, não deve mudar de local tão cedo - atualmente é realizado na praia de Trestles, na Califórnia (EUA).
"Para mudar de lá, teríamos que achar um lugar que fosse justo com os surfistas. Que não favoreça uma habilidade específica, seja o especialista em tubos, o especialista em aéreos ou quaisquer outros. Trestles oferece isso. As ondas quebram tanto para a direita quanto para a esquerda; no ano passado, com ondas grandes, o foco estava mais nas manobras de borda; neste ano tinha espaço para aéreos, apesar de que o Filipe não deu nenhum e foi campeão", afirmou o executivo.
Ele não descarta a ideia que a etapa seja disputada em outro local futuramente, mas não vê isso como uma possibilidade no curto prazo: "No futuro, estamos abertos a conversar, melhorar, falamos muito com os surfistas e com nossos parceiros, mas no ano que vem, ainda em Trestles, vamos consolidar esse formato, que é o nosso foco agora".