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“A quadra de grama tem uma energia diferente”, diz Bia Haddad sobre Wimbledon

A tenista brasileira mais bem colocada no ranking tem bom histórico em torneios na grama e está mais focada, mas tem sofrido com seguidas lesões

Bia Haddad no torneio de Eastbourne em 2022: bom desempenho não se repetiu neste ano (Robert Prange/Getty Images)

Bia Haddad no torneio de Eastbourne em 2022: bom desempenho não se repetiu neste ano (Robert Prange/Getty Images)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 1 de julho de 2023 às 06h30.

Um mês atrás, Bia Haddad deixou o torneio de tênis Roland Garros com um sorriso e uma esperança. Ela havia chegado a uma inédita semifinal no Grand Slam parisiense, com pontos para figurar na décima colocação no ranking, e bastante animada para a temporada de grama até o campeonato de Wimbledon.

Bia chega às vésperas do campeonato de Londres, que começa nesta segunda-feira 3, de outra forma. Ao contrário do ano passado, ela não foi bem nos torneios preparatórios. No WTA 250 de Nottingham ela perdeu na primeira rodada para a jogadora número 157 do mundo. Logo depois, desistiu do torneio de Birmingham por lesão.

Nesta semana ela abandonou o jogo pela segunda rodada do WTA 500 de Eastbourne com dores na perna. Foi uma decepção para Bia. No ano passado ela havia vencido os torneios de Nottingham e Birmingham. Depois do ótimo desempenho em Paris, a expectativa sobre ela certamente era maior.

Qual é a vantagem do piso de grama?

Por que os torneios Nottingham, Birmingham e Eastbourne são importantes? Esses são os chamados torneios preparatórios para Wimbledon, todos disputados na grama.

Cada Grand Slam é disputado em um tipo de piso. O Australia Open e o US Open são jogados em quadra dura, mas com materiais diferentes. Roland Garros é conhecida pelo saibro. Nas semanas anteriores de cada Grand Slam acontecem torneios menores do mesmo respectivo piso, como uma espécie mesmo de preparação para o grande espetáculo.

O Brasil se acostumou a torcer no saibro, com as vitórias de Gustavo Kuerten no fim dos anos 1990 e começo dos 2000. Já Bia Haddad conseguiu esses bons resultados no ano passado na grama, um piso escorregadio, em que a bola corre mais e de forma mais imprevisível. A velocidade faz com que jogadores troquem menos bola no fundo de quadra e privilegiem o jogo na rede.

Foco na estabilidade emocional

Este ano Bia conseguiu acertar algumas deficiências. A principal melhoria foi o foco, a estabilidade emocional para se manter em vantagem, quebrar o serviço da adversária, vencer aquele ponto estratégico. Bia está mais regular, principalmente pelo trabalho com o novo técnico, o também brasileiro Rafael Paciaroni.

Em Roland Garros, na vitória contra a tunisiana Ons Jabeur nas quartas de final, Bia recorria ao olhar do treinador nos momentos decisivos. Também foi assim na semifinal contra a número um do mundo, a polonesa Iga Swiatek. Mas aí não dá para ganhar.

Bia tem batida forte e uma bola pesada, que corre rápido na grama de Wimbledon. A Casual EXAME falou com ela em Paris, logo depois da eliminação, sobre suas chances no torneio de Londres. Confira.

De saibro para grama, como vê diferenças de pisos?

O jogo na grama é mais rápido. A bola em menos trajetória, você tem que pegar o quanto antes, ela baixa muito rápido. O principal é a entrada de ponto agressiva. O saque é a primeira bola, a devolução é a primeira bola, essa é a base do jogo de grama. E, claro, todas as variações e busca de redes são muito importantes porque a bola corre bastante.

Como acha que será sua atuação em Wimbledon?

Acho que na verdade o fato de eu ter ido bem no ano passado e de as coisas terem acontecido da forma que foram, como foi aqui em Paris, foi por eu não ter criado expectativas, e eu acho que isso é muito mais saudável. Você se coloca muito mais no processo quando você é realista e fala 'se eu entro no torneio, eu posso ganhar o torneio', claro. Mas, se você não ganhar um set, você não ganha um jogo e não ganha uma rodada. Então, o nosso objetivo sempre é o próximo jogo. Todo mundo já me conhece, mas eu sou outra jogadora comparando o ano passado para agora. Muita coisa aconteceu, sou uma outra pessoa em termos tenísticos e humanos. Eu amadureci bastante.

O brasileiro que acompanhava tênis com o Guga se apaixonou pelo saibro e pelo que ele fez em Roland Garros. O brasileiro pode descobrir a grama agora com você?

No jogo na grama cada detalhe faz muita diferença, às vezes é até questão de um pouco de sorte em alguns momentos. É um jogo que é engraçado, todo mundo fica feliz ao jogar, tem uma energia da grama que é diferente. Mas eu encaro todos os pisos da mesma forma. Eu até tento pensar qual é o meu o meu piso favorito. Mas eu tive os melhores resultados da minha vida na grama, acabei tendo a melhor final na quadra rápida e agora minha semifinal de Grand Slam no saibro. Talvez eu tenha um pouco de sorte de conseguir adaptar meu forehand em todos os pisos, mas eu acho que chega em um ponto que não é só sobre o tênis, mas estar com a cabeça preparada para todos os momentos dos jogos.

Para você, qual é a importância da preparação mental no tênis?

Meu objetivo número um é conseguir melhorar o foco, a atenção, e conseguir cada vez mais estar jogando e competindo em alto nível e criando oportunidades. Porque é para isso que a gente vive, para viver sonhos, como eu vivi em Roland Garros.

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