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Wunderman Thompson Brasil lançou um programa interno de Aceleração de Lideranças Negras com apoio da Indique uma Preta (kupicoo/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 28 de fevereiro de 2022 às 08h00.
Última atualização em 2 de março de 2022 às 09h51.
Menos de 30% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por pessoas negras, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De olho na mudança deste cenário, ao menos no setor de publicidade e propaganda, a agência Wunderman Thompson Brasil lançou um programa interno de Aceleração de Lideranças Negras.
Dividido em fases, o programa começou com três palestras entre novembro e janeiro. Os encontros, liderados pela consultoria Indique uma Preta e representado pelas sócias e fundadoras Amanda Abreu, Dani Mattos e Verônica Dudiman abordam letramento racial, racismo estrutural e Potências Invisíveis -- este último apresenta dados de como a sociedade pode transformar a vulnerabilidade das mulheres negras no mercado de trabalho em potência. O estudo é resultado de uma pesquisa desenvolvida pela Indique uma Preta em parceria com a Box1824 em 2020.
"O Programa de Aceleração de Lideranças Negras na Wunderman Thompson Brasil é voltado para as pessoas que já estão em nosso quadro de funcionários, e nasceu do entendimento de que para acelerarmos o crescimento de pessoas negras, precisamos promover processos internos de desenvolvimento que garantam a não discriminação racial, social ou econômica que atrasem ou impossibilitem essa ascensão", diz Vivian Zeni, líder de inclusão, equidade e diversidade e diretora de comunicação da WT Brasil.
Assim, entre fevereiro e maio, as pessoas aceleradas passam por seis módulos de aprofundamento e recebem lideranças negras de diferentes áreas para momentos de compartilhamento sobre carreira, conquistas, dificuldades e desafios. Os encontros serão conduzidos por parceiros da Indique uma Preta.
Segundo Abreu, é fundamental que as empresas compreendam o cenário de maturidade em que estão para saberem quais tipos de estratégias irão desenvolver na promoção da diversidade racial.
“O Programa em parceria com a WT é uma iniciativa importante porque considera múltiplas dimensões afetadas pelo racismo no mercado de trabalho e reconhece que, assim como é necessário criar espaços confortáveis para a inserção de pessoas negras dentro desses ambientes, é urgente pensar em soluções para o desenvolvimento dos perfis já existentes nas empresas”, afirma.
Segundo a executiva, é importante também para ir além da contratação em si. "Vivenciamos o momento em que o mercado de trabalho falava muito (e ainda fala) em contratação de pessoas negras, e hoje, 2022, seguimos nessa provocação, que é preciso também desenvolver, pensar carreira, amadurecer políticas afirmativas internas para que pessoas negras se tornem lideranças dentro do quadro de colaboradores".
Considerando que o racismo estrutural impacta para o desenvolvimento da carreira da liderança negra, a iniciativa também contempla apoio emocional. Com curadoria da consultoria, os participantes terão encontros periódicos com a psicóloga Milena Reis, co-fundadora da Clínica Preta, que irá mediar, acolher e trabalhar as principais demandas emocionais do grupo. As pessoas aceleradas terão um ano de curso de inglês custeado pela Wunderman Thompson e, todas as atividades, com exceção do curso de idioma, acontecerão durante o horário de jornada de trabalho.
O programa também prevê formação para a atual liderança da agência em parceria com a consultoria Mais Diversidade , passando por diversas atividades visando prepará-los para acolher o tema e compreender a responsabilidade de cada, como líder, frente a esse propósito. Dessa forma, a agência visa acelerar o entendimento e engajamento em equidade racial e instrumentalizar a liderança atual para exercitar uma gestão inclusiva.
Como parte do comprometimento com a ação, a divulgação da iniciativa está sob responsabilidade de uma assessoria de imprensa formada exclusivamente por mulheres negras, a RPretas, que desenvolve serviços de relações públicas com foco no protagonismo racial para marcas, artistas e empresas.
Hoje a Wunderman Thompson possui ações afirmativas internas para promoção da equidade racial na empresa e tem como objetivo refletir a proporção da população brasielira, isto é 56% do total, em seu quadro de funcionários até 2025 e, para a equipe de lideranças, atingir a meta de 30% de profissionais negros(a).
Diversidade na WT
Em 2017 a J. Walter Thompson Brasil deu início a uma transformação do mercado publicitário com o lançamento do Programa de Equidade Racial 20/20, o primeiro programa de equidade racial da publicidade brasileira. Liderado por Raphaella Martins, Andrea Assef e Ricardo John, o 20/20 nasceu com a constatação de que os cerca de 4% de pessoas negras que colaboravam com a agência naquele momento não representavam a diversidade racial brasileira.
"O objetivo do Programa 20/20 era de que até o ano de 2020 a JWT tivesse entre seus colaboradores 20% de pessoas negras ocupando cargos em áreas estratégicas da agência. Como primeira iniciativa, a consultoria EmpregueAfro foi contratada para a triagem, acompanhamento e condução de um processo seletivo às cegas", diz Zeni.
O processo resultou na contratação inicial de 10 estagiários negros. Dali, foi criada a Semana da Equidade Racial, evento interno com o cunho educacional para levar aos funcionários a realidade e as vivências da população negra no Brasil; e o Café Camélia, acompanhamento profissional e psicológico mensal realizado pela EmpregueAfro junto aos profissionais negros da agência.
"Nós alcançamos o objetivo desse projeto em 2020 com 24,7% de pessoas negras na agência e ressignificamos o 20/20: até 2025 o objetivo é que tenhamos 56% de pessoas negras na agência, um número mais adequado para representar a população negra no Brasil. Em 2020 fizemos IV edição da Semana de Equidade Racial totalmente on-line e aberta ao público. E, do processo de reconhecimento do problema, partimos para a ação efetiva que foi a criação do Programa de Aceleração de Lideranças Negras para que a Wunderman Thompson Brasil chegue ao ano de 2025 com 30% de líderes negros"