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Johan Rockstrom: "Precisamos ainda de uma ciência sem fronteiras para enfrentar uma crise que não respeita fronteiras" (Lia Rizzo/Exame)
Editora ESG
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 07h47.
Última atualização em 22 de janeiro de 2025 às 07h49.
* De Davos
Em apresentação realizada nesta quarta (22) em Davos, durante a programação Imagination in Action do MIT Connection Science, o renomado cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha, e vencedor do Tyler Prize 2024, principal prêmio ambiental do mundo, revelou dados inéditos - e alarmantes - sobre o estado atual do planeta.
"Registramos na última semana uma temperatura 1,55°C acima da média, a mais alta dos últimos 100 mil anos", alertou o pesquisador, explicando que entre 1997 e 2014, existia uma relação linear entre gases de carbono acumulados e temperatura. "Então, subitamente, nos últimos 10 anos, algo aconteceu. O índice de aquecimento aumentou, e estamos preocupados que este seja o primeiro sinal de um planeta perdendo sua resiliência."
O termômetro disparou
Embora muitos aspectos que justificam a arrancada do aquecimento já sejam conhecidos, Rockström detalhou as três principais explicações possíveis para esta aceleração.
Primeiro, o chamado "paradoxo dos aerossóis", pois quando reduzimos a poluição do ar por aerossóis, algo positivo para a saúde humana, há um efeito colateral inesperado: o resfriamento que reflete parte da radiação solar de volta para o espaço, fazendo com que mais calor seja retido na atmosfera.
Em seguida, o derretimento do gelo na Terra, que expõe superfícies mais escuras como solo e rochas. Isso cria um ciclo em que quanto mais derretimento, mais superfícies escuras expostas, maior absorção de calor e, por consequência, mais derretimento.
Por fim, o climatologista explicou que a capacidade de absorção e processamento de carbono dos oceanos e de outros ecossistemas terrestres está cada vez mais comprometida, devido à acidificação dos oceanos por conta da absorção de CO2, incêndios mais frequentes e intensos, novos padrões de doenças que afetam a vegetação, além do desmatamento florestal.
"Estes três fenômenos formam um conjunto de retroalimentações, em que cada efeito tende a amplificar os outros, acelerando o aquecimento global além do que seria esperado apenas pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa", resumiu o diretor do Instituto Potsdam.
Limites planetários ultrapassados
De acordo com ele, foram identificados 16 pontos de "não retorno" para o planeta no desenvolvimento das mudanças climáticas. O cientista, laureado com o Tyler Prize em 2024 justamente por seu trabalho sobre limites planetários, destacou os cinco principais pontos, incluindo o colapso do gelo polar, que já mostram sinais preocupantes de aproximação de seus limites.
Para ilustrar, trouxe sua mais recente avaliação realizada em 2024, que chamou de um "check-up médico completo" do planeta: "Seis dos nove sistemas vitais do planeta já operam fora de sua zona de segurança. Em vez de reverter esse quadro, continuamos piorando a situação, indo cada vez mais fundo na zona de perigo. Além disso, os oceanos, que representam o sétimo limite planetário, estão prestes a ultrapassar seu ponto crítico", alertou.
Há roteiro para sobrevivência?
"Mesmo se nos preocuparmos apenas em resolver a crise climática, precisamos de uma transformação na sustentabilidade global", enfatizou Rockström, que destacou ainda a necessidade de uma transição massiva no sistema agrícola, de um sistema que libera carbono para um que o captura e armazena.
O especialista salientou que as soluções existem, mas precisam ser implementadas em escala e velocidade sem precedentes. "A ciência não está apenas alertando sobre o futuro, está oferecendo um roteiro detalhado para a sobrevivência do planeta", pontuou, exemplificando com a iniciativa Planetary Guardians.
A iniciativa consiste em uma aliança internacional de cientistas sob sua liderança, que monitora continuamente os sinais vitais da Terra para indicar anualmente os caminhos para mantê-la em equilíbrio.
"Precisamos ainda de uma ciência sem fronteiras para enfrentar uma crise que não respeita fronteiras", destacou. "Em uma mobilização global, com três objetivos urgentes: uma economia livre de carbono, oceanos saudáveis e uma revolução completa na forma como produzimos e consumimos alimentos", finalizou.
O legado de Rockström
O cientista sueco já era um dos pesquisadores mais importantes do mundo, ao receber o Prêmio Tyler 2024, considerado o Nobel das conquistas ambientais. Foi reconhecido por seu trabalho à frente da equipe internacional de pesquisa que concebeu e desenvolveu a teoria dos limites planetários em 2009 - um marco científico que evoluiu com novas descobertas em 2015 e 2023.
O modelo científico mapeia nove sistemas fundamentais do planeta e define, para cada um deles, as fronteiras que não podem ser ultrapassadas se quisermos manter as condições que permitiram o florescimento da vida na Terra.