ESG

Veja por que o mundo está de olho no mercado de carbono da China

O presidente chinês, Xi Jinping, tem buscado lançar seu país como uma potência mundial ambientalmente responsável e prometeu atacar as mudanças climáticas

Combustíveis fósseis: o futuro do petróleo encabeça preocupação do Observatório do Clima (Alexandros Maragos/Getty Images)

Combustíveis fósseis: o futuro do petróleo encabeça preocupação do Observatório do Clima (Alexandros Maragos/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 16 de julho de 2021 às 11h01.

A China, a maior fonte mundial de poluição por emissão de gases do efeito estufa, abriu um mercado nacional de comércio de emissões de carbono, um passo esperado há tempos para lutar contra as mudanças climáticas.

O mercado transforma o poder de poluir em uma permissão que pode ser comprada ou vendida e é parte de um conjunto de políticas que o governo chinês está colocando em prática para demonstrar seu compromisso com uma significativa redução das emissões de dióxido de carbono nas próximas décadas. O mercado é chave para as ambições climáticas da China.

O presidente chinês, Xi Jinping, tem buscado lançar seu país como uma potência mundial ambientalmente responsável e prometeu atacar as mudanças climáticas. O novo mercado de carbono, que será imediatamente o maior em volume de emissões no mundo, é o mais recente esforço do governo.

No ano passado, Xi assinou dois compromissos em relação ao clima. As emissões de dióxido de carbono atingiriam o pico antes de 2030, ele prometeu. E o país atingiria a neutralidade de carbono antes de 2060. isso significa que a quantidade de dióxido de carbono que a China libera na atmosfera seria compensado por meio do plantio de florestas, por exemplo.

A promessa de Xi, se for cumprida, pode fazer diferença significativa nos esforços mundiais para lutar contra as mudanças climáticas. Um pacto internacional - que busca limitar o aquecimento global neste século a menos de 2 graus Celsius e a 1,5 grau Celsius se possível - não será factível a menos que a China e outras grandes potências reduzam suas emissões de gases do efeito estufa.

Pressão no país e no exterior

A China tem enfrentado pressão crescente no mercado doméstico e no exterior para cortar emissões e fazer mais para reduzir o aquecimento global desde que ela tomou o lugar dos EUA como maior poluidor, em torno de 2006.

Em 2019, a emissão de gases do efeito estufa da China representava 27% das emissões globais, mais do que a combinação de três grandes emissores - EUA, União Europeia e Índia - de acordo com o Rhodium Group.

Como funciona o mercado

O mercado chinês vai limitar a quantidade de dióxido de carbono que as companhias podem liberar, criando competição que estimula as empresas a se tornarem mais eficientes energeticamente e a adotarem tecnologias limpas.

As companhias que cortam sua emissão de carbono podem vender suas licenças de poluição não usadas. As empresas que excederem o volume permitido podem comprar mais permissões ou pagar multas.

Ao leiloar licenças e progressivamente cortar o volume de poluição que as companhias têm permissão para liberar, os governos podem pressionar as empresas a adotarem tecnologias limpas.

Desafio da regulação

"Pode colocar a responsabilidade de conter as emissões de gases do efeito estufa nas empresas e fornecer um incentivo econômico para mitigação do carbono", afirmou Zhao Yingmin, vice-ministro do Meio Ambiente.

Para fazer o mercado funcionar, os reguladores terão que medir acuradamente as emissões de fábricas e usinas, e garantir que os poluidores não trapaceiem escondendo ou manipulando os dados de emissões.

Isso pode ser desafiador no país, com uma extensa base industrial e uma regulação relativamente pobre. Uma empresa da Mongólia Interior, região no Norte da China, que está participando do novo mercado, já foi multada este mês por falsificar dados de emissões.

Siderurgia, cimento e energia no radar

O governo chinês disse inicialmente que o mercado abrange os setores siderúrgico e de cimento e outras indústrias, assim como o setor de energia. Mas estreitou o escopo para cobrir apenas termelétricas movidas a gás ou carvão, um setor que tem menos players e que seria mais fácil de monitorar. Outras indústrias podem ingressar no mercado nos próximos anos.

Mesmo assim, o desenho já cobre o equivalente a um décimo do total de emissões globais de dióxido de carbono. Aproximadamente 2.225 operadores de usinas foram selecionados para participar da plataforma operada pela Bolsa de Meio Ambiente e Energia de Xangai.

Até agora, o maior mercado de emissões de carbono era o europeu, seguido pelo da Califórnia. No futuro, esteas e outras iniciativas para cortar emissões podem se juntar, criando um mercado potencial global. Por ora, porém, investidores internacionais não terão autorização para operar no mercado de carbono chinês.

No primeiro negócio fechado depois que o mercado abriu na sexta de manhã, uma companhia pagou US$ 1,2 milhão para emitir 160 mil toneladas métricas de emissões a cerca de US$ 8 por tonelada.

A expectativa é que o preço suba adiante, mas a maioria dos especialistas avalia que levará anos até que o programa chinês se desenvolva e se torne uma ferramenta efetiva para cortar emissões.

  • Esteja sempre informado sobre as notícias que movem o mercado. Assine a EXAME.
Acompanhe tudo sobre:Aquecimento globalCarbonoChinaEfeito estufaMeio ambienteMudanças climáticas

Mais de ESG

Ibovespa abre em queda de olho em fiscal brasileiro

Petrobras paga nesta sexta-feira a segunda parcela de proventos do 1º trimestre

Nota Fiscal Paulista libera R$ 46 milhões em crédito; veja como transferir o dinheiro

Mercedes-Benz reduz previsão de lucro e ações chegam a cair 7%