Suelma Rosa, da Unilever: “Quando a gente escolhe ser essa empresa sustentável, escolhemos também ser uma empresa com marcas com propósito" (Unilever/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 20 de agosto de 2021 às 12h26.
Última atualização em 20 de agosto de 2021 às 17h04.
Toda empresa deseja conquistar uma base de clientes plural. Excluir consumidores nunca é uma boa ideia. Promover a inclusão, por sua vez, mostra-se uma estratégia lucrativa, como atestado pela gigante de bens de consumo Unilever, que há tempos trabalha o tema da diversidade dentro e fora da companhia. Mas, até que ponto uma empresa deve verbalizar suas posições, diante de temas polêmicos que polarizam a sociedade?
Para a diplomata corporativa Suelma Rosa, que acaba de assumir a diretoria de sustentabilidade da Unilever, a neutralidade não é possível. “Neutro é o nosso detergente, você precisa de empresas que se posicionem sobre questões importantes, não para os consumidores, para a sociedade”, afirma a executiva. “Não podemos nos calar sobre o racismo, por exemplo.”
A Unilever é conhecida por questionar valores e estereótipos. Somente em julho, ela lançou uma campanha para discutir a masculinidade, rechaçando a figura do “macho” e trazendo para a pauta o tema dos cuidados pessoais. A empresa também retirou de circulação os produtos Ben & Jerry’s, marca de sorvetes, dos territórios ocupados por Israel na Palestina. O governo israelense reagiu de maneira violenta, prometendo “graves consequências à empresa se não revisse o posicionamento.
Oposição, diz Rosa, sempre existirá. “Existem pessoas, não sei de onde tiram essas ideias, que acreditam na superioridade branca. Eu não posso concordar com elas”, afirma. “Quando a gente escolhe ser essa empresa sustentável, escolhemos também ser uma empresa com marcas com propósito. É preciso agir.”
O paradoxo da tolerância
Rosa cita o filósofo Karl Popper, um dos maiores pensadores do século 20, formulador do Método Hipotético Dedutivo, padrão utilizado pela ciência, e do Paradoxo da Tolerância. Nascido na Áustria e de origem judaica, Popper se naturalizou britânico. No livro “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”, ele critica a filosofia que deu origem a movimentos fascistas na Europa, como o nazismo. Uma das discussões gira em torno da liberdade absoluta e se, em nome da tolerância, é preciso aceitar a intolerância.
Popper afirma que a tolerância ilimitada levará ao desaparecimento da tolerância. “Se estendemos tolerância ilimitada aos que são intolerantes, se não estamos preparados para defender a sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, juntamente com a tolerância”, escreve.
Essa ideia foi erroneamente utilizada para defender a censura e a repressão em muitos memes de internet. Porém, Popper afirma que não se deve suprimir a verbalização de filosofias intolerantes, “conquanto que possamos contradizê-las através de discurso racional e combatê-las na opinião pública” e reservar o direito de suprimi-las por meio da força.
Para Rosa, a chave está nos valores e em entender que a conjuntura não deve mudar a trajetória de longo prazo. “O mais importante é manter os pilares da democracia intactos, ou seja, as instituições. A conjuntura, se aceita”, afirma.
Diversidade não funciona sem inclusão
Poucas empresas no mundo defendem com tanto ardor a diversidade quanto a Unilever. A head de sustentabilidade, no entanto, afirma que o momento é de dar um passo adiante. É preciso considerar não apenas mulheres e negros, mas as populações transgênero, indígena e refugiada. Ao mesmo tempo, de nada adianta contratar diversamente, sem incluir as pessoas.
“Eu já fui a única mulher em uma diretoria só de homens. Mas não tenho ideia de como é difícil para uma mulher negra. Precisamos fazer com que as pessoas se sintam seguras no ambiente de trabalho”, afirma.
Em abril do ano passado, a companhia anunciou que 50% dos cargos gerenciais nos negócios globais passaram a ser representados por mulheres, em 2010 a Unilever havia estabelecido a meta para ser cumprida até o final do ano passado.
Depois de bater a meta da equidade de gênero, a Unilever tem outros desafios como a representação negra e de pessoas com deficiência. Por conta disto, a companhia tem trabalhado em ações como as inscrições para o AfroCamp, desafio de inovação focado em estudantes de graduação autodeclarados pretos e pardos, em outubro do ano passado.
Parte das iniciativas de inclusão se dá em programas de entrada. No último recrutamento de estágio, 5% dos contratados são pessoas com deficiência, 76% são negros e há também LGBTI+. Pessoas com mais de 50 anos também pode entrar na companhia em um programa de estagiários sêniores.
A mudança no perfil dos funcionários acontece com uma série de medidas como seleção às cegas, parceria com consultorias e entidades, treinamento dos funcionários para quebra de vieses inconscientes, busca ativa de grupos específicos como transgêneros e mais.
Quem é Suelma Rosa, nova head de sustentabilidade da Unilever
Nascida no Maranhão, Suelma Rosa passou boa parte da vida em movimento. Ela morou em 11 países, incluindo Japão, China, Índia e Serra Leoa. Em seus 20 anos de carreira, a executiva já esteve no terceiro setor, no setor público e, mais recentemente, migrou para o setor privado. Sua atuação sempre foi ligada aos temas sustentabilidade, ambientalismo, direitos humanos e diversidade. Também é cantora, pianista e enxadrista.
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