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UNICEF: são as crianças e os adolescentes aqueles que irão sentir, mais intensamente e pelo maior tempo, os efeitos das estratégias econômicas e sociais implementadas hoje (Victor Moriyama / Correspondente/Getty Images)
Colunista
Publicado em 12 de junho de 2024 às 07h00.
Última atualização em 12 de junho de 2024 às 12h59.
Por Youssouf Abdel-Jelil, representante do UNICEF no Brasil
Desde o começo do ano, o G20 tem reunido no Brasil representantes das maiores economias do mundo para debater políticas econômicas e sociais em prol do desenvolvimento sustentável. E para eles, o UNICEF tem um alerta: o desenvolvimento sustentável só pode se tornar realidade com um olhar atento para os direitos e as necessidades de meninas e meninos. Por isso, é hora de priorizar as crianças e os adolescentes em todo e qualquer compromisso do G20.
Se os líderes do G20 assumirem compromissos com ações e investimentos para reduzir a pobreza, garantir o acesso à água e eliminar a fome e a malnutrição, por exemplo, eles poderão ajudar a garantir que esta geração de crianças e adolescentes sobreviva e cresça de maneira saudável; desenvolva as habilidades necessárias para a vida e o trabalho; e tenha condições dignas de vida, acessando educação, nutrição e outros direitos.
É isso que vai ajudar países de todo o mundo a ter gerações de cidadãos ativos e de trabalhadores produtivos capazes de guiar seus países na direção do desenvolvimento sustentável. Mas, antes de tudo, é esta escolha por parte dos líderes do G20 que irá garantir os direitos previstos na Convenção dos Direitos da Criança, compromisso ratificado pela maioria das nações que compõem o grupo.
O UNICEF já está agindo para fortalecer esta agenda. Desde o início das reuniões do G20, temos participado de reuniões oficiais, produzido documentos e promovido eventos paralelos para destacar a relação entre os direitos da criança e dos adolescentes e os temas debatidos no G20. Outra prioridade é incentivar a participação dos próprios adolescentes (e jovens) nos espaços de discussão do fórum.
Dentro da força-tarefa da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, por exemplo, temos reiterado como crianças e adolescentes são os mais vulneráveis à pobreza, nas suas múltiplas dimensões. No Brasil, segundo dados de 2022 analisados pelo UNICEF, 6 a cada 10 crianças viviam privados de algum direito fundamental como acesso a água, educação ou renda digna – o que caracteriza a chamada pobreza multidimensional.
E mundialmente, um relatório de 2023 do Banco Mundial e do UNICEF já evidenciou como meninas e meninos têm mais que o dobro de chance de viver em pobreza monetária extrema do que adultos. Mas estratégias de proteção social, como programas de transferências de renda, podem mudar este cenário. E devem ser prioridade para os líderes do G20.
Em outro grupo, focado em Desenvolvimento, o UNICEF alerta que as crianças são as que mais sofrem diante de inequidades no acesso a direitos básicos, incluindo o acesso à água, saneamento e higiene, fundamental para a saúde e bem-estar. E que a cooperação entre países - tema no qual já atuamos, há anos, junto ao governo brasileiro - é essencial para fomentar boas práticas na promoção de direitos de crianças e adolescentes.
Já no grupo de trabalho em Saúde, o UNICEF defende que países invistam no fortalecimento de sistemas de tecnologia e informação para a saúde. Diante de crises como as enchentes no Rio Grande do Sul ou do recente surto de dengue no País, essa informatização pode ajudar a fazer a diferença entre uma resposta ágil, eficaz e capaz de proteger meninas e meninos - e outra que salva menos vidas.
Também estamos envolvidos com o Urban20, grupo que reúne representantes de cidades de todo o mundo e para o qual desenvolvemos uma série de recomendações de como incluir crianças e adolescentes na construção de centros urbanos melhores para todos. As sugestões foram feitas em parceria com representantes de prefeituras que fazem parte da Agenda Cidade UNICEF e com adolescentes do Rio de Janeiro e foram formalmente entregues às prefeituras da capital fluminense e de São Paulo, que coordenam a iniciativa.
O UNICEF acredita que, em todos os debates políticos e econômicos realizados no âmbito do G20, priorizar crianças e adolescentes contribui para que as políticas acordadas no fórum sejam mais efetivas, mais inclusivas e tenham maior sustentabilidade a longo prazo. Ou seja: que possam realmente ajudar a garantir vidas melhores para homens, mulheres e crianças no Brasil e no mundo.
É deste compromisso que meninas e meninos precisam. E é ele que o UNICEF espera que ministros e líderes de Estado assumam, em todo o processo do G20 e, em especial na Cúpula dos Líderes de Estado, evento final do fórum que acontece em novembro no Rio de Janeiro. Afinal, se são as crianças e os adolescentes aqueles que irão sentir, mais intensamente e pelo maior tempo, os efeitos das estratégias econômicas e sociais implementadas hoje, o UNICEF reitera aos líderes do G20: um mundo justo e um planeta sustentável não pode existir sem um foco especial para a infância e a adolescência.