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Trump presidente: saída dos EUA em Acordo de Paris cada vez mais perto

No discurso de posse, o presidente eleito confirmou que irá deixar o maior acordo global do clima e decretar emergência energética para que a exploração de petróleo e gás nos EUA seja a 'maior da Terra'

"O ouro líquido está sob nossos pés. Exportaremos a energia norte-americana mais uma vez e produziremos [petróleo e gás] mais do que qualquer outro pais da Terra", disse Trump em discurso de posse no Capitólio, em Washington (Scott Olson/Getty Images/Getty Images)

"O ouro líquido está sob nossos pés. Exportaremos a energia norte-americana mais uma vez e produziremos [petróleo e gás] mais do que qualquer outro pais da Terra", disse Trump em discurso de posse no Capitólio, em Washington (Scott Olson/Getty Images/Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 15h54.

Última atualização em 20 de janeiro de 2025 às 17h28.

Em um ano crítico para a ação global contra a crise climática, o retorno de Donald Trump à Casa Branca promete balançar Washington (e o planeta!) com a promessa de medidas imediatas anti-clima já nas primeiras horas de sua posse e a confirmação da saída dos EUA do Acordo de Paris. 

A cerimônia nesta segunda-feira (20) no Capitólio, às 14h de Brasília, confirmou o temor de desmonte e retrocesso em políticas climáticas e ambientais, ao mesmo tempo em que o mundo tenta manter vivo o limite de 1.5ºC do Acordo de Paris e mira altas expectativas nas negociações da Conferência do Clima da ONU (COP30) no Brasil. 

“A era de ouro dos EUA começa agora”, disse na abertura de seu discurso. Com tom negacionista e protecionista, Trump chegou a citar os desafios do país e os incêndios florestais em Los Angeles, mas falou apenas em driblar 'crises na saúde' e na prevenção de desastres -- sem citar especificamente a emergência climática.

O novo presidente americano também disse que irá declarar uma emergência energética nacional, algo que já era especulado. A medida permite que o presidente utilize até 150 poderes especiais, como parte de seu plano para liberar a produção doméstica de energia e abrir caminho para novas explorações de petróleo e gás no país.

"O ouro líquido está sob nossos pés. Exportaremos a energia norte-americana mais uma vez e produziremos [petróleo e gás] mais do que qualquer outro pais da Terra. Vamos usar este arsenal", disse Trump. Atualmente, os EUA já são o maior produtor de petróleo do mundo.

Além disso, reforçou novamente a saída de acordos verdes cruciais como o de Paris, assinado em 2015 pelos 195 países membros da ONU que se comprometiam com a redução das emissões, e também prometeu acabar com regras federais e incentivos a veícúlos elétricos.

"Revogaremos elétricos, salvando a nossa industria automotiva e mantendo o compromisso com as montadoras americanas", complementou o presidente americano.

Em relação à agenda de diversidade e inclusão, ele também reiterou cortar "a engenharia de raça e gênero" no ambiente privado -- e em seu governo. "Faremos uma sociedade que não enxerga cor e é baseada no mérito", frisou.

Em entrevista à EXAME, Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, disse que uma das lições aprendidas com a extrema direita, é que eles costumam cumprir o que prometem. "A política de 1.5ºC está morta a partir de hoje. É o fim da estabalização do aquecimento global, mas não é o fim da luta contra a mudança do clima, até porque os EUA nunca foram um parceiro confiável e sempre os que mais atrapalharam o processo multilateral", destacou. 

Até o fim do dia da posse, o novo presidente pode assinar até 100 decretos -- alguns emblemáticos em clima e energia.  Embora ainda não esteja oficializado o que está por vir, especialistas são unânimes em acreditar que o país norte-americano irá suspender a trajetória de descarbonização e torná-la muito lenta. 

Por outro lado, Claudio argumenta que a transição para uma economia verde não tem mais volta e faz sentido economicamente, logo algumas medidas de Trump podem acabar sendo barradas por essa 'economia real'.

"Por mais que ele queira ressucitar o carvão mineral, isto seria igual alguém querer trazer 'carruagens' nas cidades -- em substituição aos carros. É a mesma lógica com a energia renovável. Por isso, não acredito em uma tentativa de 'sujar' toda matriz energética americana novamente", disse o especialista. 

A volta do republicano conhecido pelo seu legado negacionista também marca o início dos trabalhos do Fórum Econômico Mundial em Davos, nos alpes Suíços, e deve ditar o tom das discussões e decisões internacionais entre chefes de Estado, magnatas da tecnologia e bilionários nos próximos dias.

A distração a temas urgentes como clima, igualdade e diversidade contradiz o fato da crise climática ter sido apontada como principal risco global de longo prazo pelo Global Risks Report 2025, relatório que guia o encontro.

Efeito Trump, uma nova era de retrocessos

O efeito Trump também volta a dominar a política americana, em um EUA assolado por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e devastadores -- a exemplo dos incêndios florestais históricos na Califórnia. 

Em seu primeiro mandato, Trump chegou a cortar mais de 125 políticas pro-clima e o país deixou o Acordo de Paris pela primeira vez em 2017. De volta ao poder, prometeu fazer o mesmo e ameaça o futuro da vida na Terra, com promessas polêmicas que vão contra os alertas da ciência e em oposição ao desenvolvimento econômico sustentável. 

Em energia, Trump promete impulsionar os combustíveis fósseis altamente poluentes e acabar com incentivos para fontes renováveis. Em comício no domingo (19) em Washington, às vésperas da posse, o presidente eleito já havia prometido acabar com normas ambientais em vigor no país, retrocedendo em alguns avanços do governo Biden para redução de emissões.

"Vamos cortar a regulação do meio ambiente, que foi criada para parar com o progresso neste país", disse. Trump também citou na ocasião o petróleo e o batizou de "ouro líquido". "Vamos recuperar nossa riqueza", destacou.

Sua intenção fica clara com o bordão "Drill, Baby, Drill", ("Perfure, Querida, Perfure", em português), ao incentivar a expansão das perfurações de fósseis em terra e no mar. 

Por outro lado, esta medida de 'perfurar tudo' não deve reverberar no resto do mundo, acredita Claudio. "A tendência global em curso é uma menor dependencia de petróleo, então os EUA podem até acabar não tendo para quem vender. As cadeias são multinacionais e globalizadas", ressaltou. 

COP30 na mira

Atualmente, os EUA são o segundo maior emissor do mundo, atrás apenas da China. Sua saída do Acordo de Paris também significa colocar em xeque as negociações da COP30 pela primeira vez no Brasil neste ano, com o enfraquecimento de compromissos nacionais em mitigação e financiamento climático para nações mais vulneráveis.

Após a assinatura do decreto, leva um ano para que o país tecnicamente esteja fora do grande acordo global do clima, frisou Claudio. Segundo o especialista, o melhor a se esperar seria uma saída 'sem barulho', o que é bastante improvável.

"Se ele fizer o expurgo que está prometendo no departamento de Estado e colocar aliados em peso, pode atrapalhar muito as negociações da COP. Há razões para acreditar que eles vão tentar arrastar o maior número de países junto em suas políticas, o que torna tudo ainda mais difícil", concluiu.

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